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Oferta de debênture passa ações pela 1ª vez desde 2008 com crise

A tendência é reflexo das dúvidas sobre o rumo da economia global, que vêm derrubando os papéis na bolsa brasileira

As empresas brasileiras venderam R$ 44,9 bilhões em debêntures no ano até agosto, em comparação aos R$ 17,4 bilhões em ações no mesmo período (Germano Lüders/EXAME)

As empresas brasileiras venderam R$ 44,9 bilhões em debêntures no ano até agosto, em comparação aos R$ 17,4 bilhões em ações no mesmo período (Germano Lüders/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 14 de setembro de 2011 às 10h21.

São Paulo - A venda de debêntures está ultrapassando as ofertas de ações pela primeira vez desde 2008. A tendência é reflexo das dúvidas sobre o rumo da economia global, que vêm derrubando os papéis na bolsa brasileira.

As empresas brasileiras venderam R$ 44,9 bilhões em debêntures no ano até agosto, em comparação aos R$ 17,4 bilhões em ações no mesmo período, segundo dados da Comissão de Valores Mobiliários. A Lojas Americanas SA e a Tecnisa SA anunciaram planos de vender debêntures nos últimos meses. A Copersucar SA e o grupo Los Grobo SA, maior produtor de soja da Argentina, são duas das pelo menos onze empresas que cancelaram ou adiaram suas vendas de ações este ano no Brasil.

As companhias estão se voltando para o investidor de renda fixa com a queda de 20 por cento do Ibovespa no ano até ontem, a maior queda entre as economias emergentes do grupo de países conhecido como BRIC. Os mercados de ações de países em desenvolvimento acumulam queda de 14,1 por cento, em média, no mesmo período, segundo dados compilados pela Bloomberg.

“Nesses momentos mais difíceis, as emissões de dívida sempre acabam sendo maiores do que as de ações”, disse Felipe Claret, superintendente de Registro de Valores Mobiliários da CVM, em entrevista por telefone, do Rio de Janeiro. “A vida continua, o Brasil continua funcionando, a atividade econômica está acontecendo, as empresas precisam financiar a produção.”

As debêntures com melhores notas pelas agências de classificação de risco tiveram um rendimento de 1 por cento em agosto, mais do que os Certificados de Depósito Interfinanceiro, o CDI, em agosto, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais, a Anbima.

Ofertas suspensas

A Copersucar, cooperativa que responde por 10 por cento das exportações mundiais de açúcar, desistiu de uma oferta pública inicial de R$ 2,7 bilhões em ações em agosto, depois de adiar a operação em julho, citando condições de mercado desfavoráveis e o ambiente econômico mundial. Por meio de um assessor de imprensa em São Paulo, a cooperativa não quis comentar o assunto quando procurada ontem. O grupo Los Grobo, maior produtor de soja da Argentina, adiou o plano de transferir ativos para uma nova empresa e abrir capital da sua subsidiária no Brasil, em julho. A empresa não quis comentar o assunto, por estar em período de silêncio, segundo um e-mail de sua assessoria de imprensa.

A Lojas Americanas planeja captar R$ 500 milhões em debêntures com prazo de sete anos, segundo comunicado ao mercado de 12 de setembro. A varejista não quis comentar a operação, segundo sua assessoria de imprensa. A Tecnisa quer vender R$ 300 milhões em debêntures, disse a companhia em 4 de agosto. A companhia não comentou o assunto, alegando estar em “período de silêncio”, segundo e-mail da sua assessoria de imprensa, em São Paulo.

As perdas provocadas pelo mercado de ações a fundos de hedge e fundos multiestratégias alertaram investidores para alocar mais dinheiro em fundos de renda fixa para aumentar seus retornos, disse Fernando Hadba, que ajuda a administrar R$ 4 bilhões como chefe de renda fixa da BRZ Investimentos SA.


Mercado ‘fechado’

As ofertas de debêntures responderam por 44 por cento do financiamento das empresas este ano até agosto, contra 39 por cento no mesmo período do ano passado, segundo a Anbima. As ofertas de ações representaram 22,1 por cento do financiamento das empresas, uma queda em relação aos 32,8 por cento um ano atrás.

“Não é que o mercado de dívida corporativa tenha explodido, é que o mercado de ações fechou”, disse Hadba, em uma entrevista por telefone, de São Paulo. “Estou surpreso com o quão resistente é a demanda por papéis de dívida com boa análise de risco nesse mercado.”

A queda do Ibovespa este ano se compara à perda de 18,3 por cento do índice Sensex, na Índia, de 9 por cento do Shanghai SE Composite e de 9,6 por cento para o Micex russo.

Projeção do PIB

O Citigroup Inc. cortou este mês suas projeções para o crescimento mundial de 3,7 por cento para 3,1 por cento devido ao receio de que Estados Unidos e Europa podem voltar à recessão. O Brasil deve crescer 3,6 por cento este ano, depois de uma expansão de 7,5 por cento no ano passado, que foi a maior em duas décadas, segundo a última pesquisa semanal Focus, do Banco Central, com projeções de economistas do mercado, com dados coletados em 9 de setembro.

O aprofundamento da crise da dívida europeia também está estimulando empresas a atrasar suas vendas de dívida, disse Ricardo Araujo, gestor de renda fixa do Itaú Asset Management, que tem R$ 379 bilhões sob sua administração, em São Paulo.

As emissões de debêntures somaram R$ 3,3 bilhões em agosto. No mesmo mês do ano passado, foram R$ 3,9 bilhões, segundo dados da CVM.

“As empresas estão simplesmente esperando um pouco por um ambiente de mercado um pouco melhor”, disse Araújo em entrevista por telefone.

‘Menos risco’

As ofertas de debêntures este ano têm sido impulsionadas pelas chamadas ofertas com esforços restritos, mais ágeis, a custos mais baixos e disponíveis para empresas de capital fechado, segundo Felipe Claret, da CVM. Previstas pela Instrução nº 476 da autarquia, desde 2009, estas operações podem ser informadas ao regulador apenas após a conclusão da venda dos papéis, desde que oferecidas a no máximo 50 investidores qualificados e adquiridas por até 20 destes.

“O mercado quer menos risco, prefere um instrumento de renda fixa a ações, que, para a empresa, fica muito caro”, disse Alberto Kiraly, vice-presidente da Anbima e principal executivo da unidade de banco de investimento do Banco Votorantim SA. “Se a empresa for fazer um IPO hoje, teria um ‘valuation’ menor do que seis meses atrás, muito provavelmente, e isso se traduz em custo para quem vende ações.”

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