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A guerra da monetização: por que Elon Musk entrou em rota de colisão com Google e Apple

A disputa sobre as comissões cobradas nas lojas de aplicativos da Apple e do Google poderia desencadear um novo conflito entre as Big Techs

Elon Musk, novo proprietário do Twitter (JIM WATSON/Getty Images)
CC

Carlo Cauti

Publicado em 30 de novembro de 2022 às 06h07.

No passado recente, as declarações de guerra eram algo extremamente formal, entregues com um telegrama ou por embaixadores. Em 2021, todavia, para abrir as hostilidades é suficiente um tweet.

"A Apple praticamente parou de anunciar no Twitter. Eles odeiam a liberdade de expressão na América? O que está acontecendo aqui, Tim Cook?", escreveu Elon Musk em seu perfil no Twitter na última segunda-feira, 29, "A Apple (AAPL34) também ameaçou retirar o Twitter de sua App Store, mas não nos disse o motivo".

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Um texto que poderia ser o começo de um conflito muito duro, sem, todavia, representar uma novidade no mundo das Big Techs.

Não é a primeira vez que a Apple decide boicotar outra empresa, retirando seu aplicativo do App Store. Ocorreu com a Netflix (NFLX34), com o Spotify (S1PO34) e até com a Epic Games, o caso mais emblemático, pois envolveu o videogame superpopular Fortnite e acabou em um mega-processo judicial. Naquele caso, a briga era sobre as comissões que a Apple pretendia sobre as compras realizadas no app. Algo parecido com o que está ocorrendo com Musk.

A decisão do bilionário sul-africano de lançar o novo serviço de assinatura Twitter Blue nos próximos dias, por US$ 8 por mês, também é um tipo de serviço que pode ser adquirido via smartphones, permitindo que a Apple - mas também a Google (GOGL34) via Goolge Play - obtenha 30% do valor da transação. Isso significa que o Twitter arrecadará US$ 5,60 por cada assinatura, e o restante será repassado às lojas virtuais como comissão.

Uma situação que Musk não apreciou, tanto que nos últimos dias o CEO da Tesla (TSLA34) reclamou publicamente das comissões diretamente no Twitter. “As taxas da loja de aplicativos são muito altas devido ao duopólio iOS/Android”, tuitou o empresário, acrescentando que seria "uma taxa oculta de 30% da Internet”.

E, para aumentar ainda mais a tensão, o novo dono do Twitter também marcou na postagem a divisão antitruste do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que vem conduzindo uma investigação sobre as regras da loja de aplicativos nos últimos meses.

Uma situação explosiva que, nos próximos dias, com o lançamento do Twitter Blue, poderá se tornar uma verdadeira "guerra tecnológica" entre gigantes do Vale do Silício.

Twitter, Apple e Google parceiros há anos

É preciso lembrar que o Twitter e a Apple são parceiros há anos. Desde 2011, a Apple integra tweets em seu sistema operacional iOS. E a rede social do pássaro azul é regularmente utilizada pela empresa, mas também pelo CEO, Tim Cook, para comunicações oficiais e apresentação de novos produtos. No entanto, esse relacionamento parece prestes a mudar, com a disputa sobre as comissões se transformando na gota final.

No ano passado, o Twitter registrou uma receita de US$ 5,08 bilhões. Segundo as metas de Musk, no futuro próximo metade disso vai vir de assinaturas. Só que, dessa forma, centenas de milhões de dólares iriam parar nos cofres da Apple e do Google.

Certamente não são números vitais para os balanços dos dois gigantes tecnológicos, mas são valores fundamentais para as finanças do Twitter. Por isso, é possível que novas soluções entrem em jogo.

Os precedentes, aliás, já existem. O mais impressionante é o da Netflix. Desde 2018, a maior plataforma de streaming de vídeo do mundo não permite a assinatura dentro do aplicativo para smartphones e tablets. Para assistir séries e filmes é necessário ingressar no site através de um navegador.

Desta forma, a Netflix ignora as modalidades de compra no aplicativo e, portanto, as comissões solicitadas pela Apple e pelo Google. É, portanto, muito provável que Musk - intolerante com as comissões exigidas pelas lojas - decida permitir a assinatura do Twitter Blue apenas no site Twitter.com. Desencadeando uma guerra dentro da indústria de tecnologia que, desta vez, poderia escalar mais do que o normal.

A questão é: quem sairá vencedor desse enfrentamento. Apple e Google são duas encouraçadas, com receitas muito superiores ao do Twitter. No ano passado, a produtora de iPhones faturou US$ 365,8 bilhões, cerca de 73 vezes mais do que o Twitter. Por sua vez, a Alphabet, dona do Google, faturou US$ 257 bilhões, cerca de 51 vezes os valores obtidos pela rede social. Os números representam a capacidade de resistência em um eventual embate. Portanto, caso as hostilidades sejam abertas de vez, a parte mais fraca será, sem dúvidas, a rede social de Elon Musk.

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