Tether: moeda é descrita como uma alternativa estável às bruscas oscilações de preço da bitcoin (YakobchukOlena/Thinkstock)
Karla Mamona
Publicado em 5 de dezembro de 2017 às 16h41.
São Paulo - Estes são alguns dos muitos mistérios no cerne do mercado de criptomoedas: os US$ 814 milhões de um token digital conhecido como tether existem realmente? E de que se trata a conexão da empresa Tether com a Bitfinex, a maior bolsa de bitcoins do mundo?
Esta é a situação das criptomoedas no fim de 2017 e as perguntas sobre as empresas que estão por trás das moedas se multiplicam juntamente com os lucros. As criptomoedas atraem pessoas que não acreditam em governos e bancos, mas os ativos digitais muitas vezes requerem confiança cega em empresas sobre as quais há poucas informações disponíveis.
Um exemplo é o tether. A moeda, que começou a ser negociada em 2015, é descrita como uma alternativa estável às bruscas oscilações de preço do bitcoin. Um proprietário de restaurante que aceita bitcoin, mas teme sua volatilidade, pode trocar bitcoin por tether, o que pode ser mais fácil de fazer do que trocar bitcoin por dólar.
O preço do tether permaneceu próximo a US$ 1 durante a maior parte de sua vida porque a Tether, a empresa por trás do token digital, afirma que cada tether é lastreado por um dólar americano mantido em reserva. Como existem cerca de US$ 814 milhões em tethers em circulação, deveria haver US$ 814 milhões estacionados em contas bancárias em algum lugar.
“Existe algo lastreando isso?”, disse Tim Swanson, que faz análise de risco para startups de blockchain e criptomoedas. Swanson, também diretor de pesquisa da Post Oaks Labs, disse temer que os problemas com o tether possam afetar as bolsas que o negociam. “Se não houver lastro de um para um, qual o risco de contágio se uma dessas bolsas cair?”
Há pouca informação disponível a respeito de como o tether é criado, o que gera questionamentos, disse Barry Leybovich, gerente de produto da IPC System, que cria produtos de risco e compliance para instituições financeiras interessadas em aplicações do blockchain. O mercado acredita que cada tether vale US$ 1, mesmo que não esteja de fato lastreado por esse dinheiro, e as transações de tether por bitcoins na Bitfinex estão ajudando a elevar o preço do bitcoin, disse ele.
Em 2 de dezembro, a Bitfinex divulgou um balanço trimestral anunciando que deixaria de atender clientes dos EUA porque está muito caro fazer negócios com eles. O anúncio surge após a decisão do Wells Fargo, no início do ano, de deixar de atuar como banco correspondente por meio do qual clientes dos EUA poderiam enviar dinheiro aos bancos da Bitfinex e da Tether em Taiwan. A Bitfinex e a Tether entraram com ação judicial contra o Wells Fargo, mas depois desistiram do processo.
A Bitfinex e a Tether identificaram quatro bancos taiwaneses na ação judicial contra o Wells Fargo. Contudo, Ronn Torossian, porta-voz da Bitfinex e da Tether, preferiu não identificar os bancos atuais, a menos que um repórter assinasse um acordo de confidencialidade, oferta que não foi aceita.
Em 3 de dezembro, a Bitfinex anunciou a contratação do escritório de advocacia Steptoe & Johnson para contestar “falsas acusações e atividade relacionada de diversas partes”, segundo comunicado de imprensa enviado por e-mail. “Até o momento, cada acusação feita por esses maus atores mostrou-se falsa e foi feita simplesmente para atrapalhar o ecossistema das criptomoedas”, disse Stuart Hoegner, conselheiro jurídico da Bitfinex, no comunicado.