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Mercado aposta em Selic abaixo de 10% nos próximos 2 anos

Os operadores apostam na disposição do governo em aceitar mais inflação em troca de maior crescimento

As apostas de investidores em juros abaixo de 10% aumentaram após Dilma Rousseff alterar as regras para o cálculo da rentabilidade da poupança, na semana passada (Stock Exchange)

As apostas de investidores em juros abaixo de 10% aumentaram após Dilma Rousseff alterar as regras para o cálculo da rentabilidade da poupança, na semana passada (Stock Exchange)

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Da Redação

Publicado em 8 de maio de 2012 às 09h15.

Brasília e São Paulo - Operadores do mercado futuro de juros apostam que a disposição do governo em aceitar mais inflação em troca de maior crescimento permitirá ao Banco Central manter os juros abaixo de 10 por cento por um período recorde de mais de dois anos.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro para janeiro de 2021 despencou 73 pontos-base nos últimos quatro dias para 9,91 por cento, indicando que operadores acreditam que o BC vai manter a Selic em um dígito entre março deste ano e junho de 2014. Até janeiro, o sinal dos operadores era de que o período de juros de um dígito duraria de abril a novembro deste ano. No México, os futuros de juros indicam que o banco central deixará sua taxa básica inalterada em 4,5 por cento até 2014.

As apostas de investidores em juros abaixo de 10 por cento aumentaram após a presidente Dilma Rousseff alterar as regras para o cálculo da rentabilidade da poupança, na semana passada. A medida é parte dos esforços do governo para reduzir a segunda mais alta taxa de juros ajustada à inflação entre os integrantes do Grupo dos 20. O BC reduziu a Selic para 9,75 por cento em março e para 9 por cento em abril, ainda que a inflação no País tenha ficado acima da meta do governo por 20 meses consecutivos.

“Juros de dois dígitos não estão no horizonte de visibilidade”, disse David Beker, economista-chefe e estrategista de renda fixa para o Brasil no Bank of America Corp., em entrevista por telefone de São Paulo. “Parece existir uma disposição em aceitar inflação levemente mais alta para propiciar a normalização da taxa de juros.”

Ainda que tenha recuado para 5,25 por cento em meados de abril, menor patamar desde outubro de 2010, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo tem se mantido acima do centro da meta do governo, de 4,5 por cento, desde agosto de 2010. A meta de inflação do País é de 4,5 por cento mais ou menos dois pontos percentuais.

Perspectiva para a inflação

A inflação implícita -- medida pela diferença de rendimentos dos títulos atrelados à inflação com vencimento em 2015 e dos títulos prefixados de prazo similar -- subiu 23 pontos-base, ou 0,23 ponto percentual, ontem para 5,73 por cento, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

O presidente do BC, Alexandre Tombini, reduziu a taxa Selic em 350 pontos-base desde agosto para reacender o crescimento econômico. A 3,76 por cento, o juro ajustado à inflação no Brasil é o segundo mais alto do G-20, só atrás da Rússia, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

“A economia brasileira só será plenamente competitiva quando as taxas de juros, seja para o produtor, seja para o consumidor, se igualarem a taxas praticadas no mercado internacional”, disse Dilma em pronunciamento na televisão em 30 de abril. “É inadmissível que o Brasil, que tem um dos sistemas financeiros mais sólidos e lucrativos, continue com um dos juros mais altos do mundo.”


Cadernetas

O rendimento da caderneta de poupança será limitado a 70 por cento da Selic se esta cair para 8,5 por cento ou menos, mais a Taxa Referencial, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, à imprensa em Brasília em 3 de maio. A decisão dá ao BC espaço para baixar mais os juros sem fazer com que o rendimento dos títulos públicos fique abaixo do retorno da poupança, o que levaria investidores a desviar recursos dos mercados de dívida pública e corporativa em direção às cadernetas.

“A grande pergunta é, qual será a função de reação do Banco Central se a inflação realmente começar a avançar no ano que vem?”, disse Túlio Vera, estrategista-chefe da Bladex Asset Management Inc., em entrevista por telefone de Nova York. “Minha opinião é que haverá mais tolerância do que em outros bancos centrais enquanto a inflação ficar abaixo do teto da meta de 6,5 por cento.”

O BC se negou a fazer comentários em nota por e-mail.

Divergência entre analistas

O IPCA vai desacelerar para 5,04 por cento em abril, a menor variação em 19 meses, de acordo com a estimativa mediana em sondagem da Bloomberg com 31 analistas. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulga o indicador amanhã. A inflação ao consumidor vai acelerar até o fim do ano para 5,12 por cento e para 5,56 por cento em 2013, segundo uma pesquisa do BC com cerca de 100 analistas publicada ontem.

Operadores do mercado e analistas divergem quanto ao período para vigência dos juros abaixo de 10 por cento. O BC vai subir a Selic para 10 por cento até o fim do ano que vem, de acordo com a pesquisa divulgada ontem pela autoridade monetária.

Para Siobhan Morden, estrategista-chefe para América Latina da Jefferies Group Inc., a aceleração da inflação vai impedir que o BC mantenha os juros abaixo de 10 por cento até junho de 2014.

“Se o juro está sendo cortado num viés político que só é focado no crescimento e em atingir níveis nunca vistos, eu exigiria algum prêmio de risco para a inflação na ponta longa da curva”, disse ela em entrevista por telefone de Nova York.

A economia brasileira cresceu 2,7 por cento no ano passado, o segundo pior desempenho desde 2003 e menos do que a alta de 3 por cento da Alemanha e de 4 por cento da Suécia. A expansão brasileira vai acelerar para 3,23 por cento neste ano, de acordo com a sondagem do BC publicada ontem.

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