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Ibovespa tem maior queda em dez meses e fica abaixo dos 115 mil pontos

Em meio ao surto de novo coronavírus, empresas com maior dependência da China despencam e puxam Bolsa para baixo

 (Getty Images/Getty Images)

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Guilherme Guilherme

Publicado em 27 de janeiro de 2020 às 18h17.

Última atualização em 27 de janeiro de 2020 às 19h40.

São Paulo - O avanço do surto de coronavírus no mundo, com uma enxurrada de novos casos reportados no final de semana, fez com que as bolsas do mundo todo operassem em queda nesta segunda-feira (27). No Brasil, o Ibovespa caiu 3,29% e encerrou em 114.481,84 pontos. Esta foi a queda mais acentuada desde 27 de março do ano passado, quando o índice recuou 3,57%. Com o resultado, o Ibovespa também reverteu os ganhos de 2020 e passou a acumular queda de 1,01% no ano.

Embora as principais praças acionárias do mundo tenham operado no vermelho, a queda da bolsa brasileira superou até mesmo as registradas em países onde já há casos de infecção confirmados. Nos Estados Unidos, por exemplo, o S&P 500 fechou em baixa de 1,57%. Já no Japão, o Nikkei 225 caiu 2,03%. 

Mesmo fisicamente distante do centro da doença, a queda mais acentuada no Brasil pode ser explicada pela próxima relação comercial que algumas das principais companhias do Ibovespa têm com a China, onde já existem pelo menos 2,7 mil casos confirmados. “Com o mercado chinês fechado por uma semana [devido ao feriado de Ano Novo Lunar], o Brasil sente essa pressão”, disse o diretor de investimentos da Infinity Asset, André Pimentel.

Entre os ativos do Ibovespa, o movimento de queda foi generalizado, com apenas cinco das 74 ações que compõem o índice operando no azul. As maiores quedas foram de exportadoras.

Nesta segunda, os papéis das siderúrgicas CSN e Gerdau ficaram na lanterna, desvalorizando-se 7,94% e 7,78%, respectivamente. Com maior peso no índice, a Vale caiu 6,12%. No setor de papel e celulose, que também tem a China como um dos principais compradores, as ações da Suzano caíram 6,7% e as da Klabin, 4,37%.

Os frigoríficos, que tiveram um 2019 marcado pela forte crescimento das exportações para o país asiático, também estiveram entre as maiores baixas da Bolsa. Marfrig, JBS e BRF despencaram 7,27%, 6,83% e 6,06%, respectivamente. “O setor é um dos que sofrem muito quando tem problemas mais sérios na China", disse Pimentel. 

Ainda no campo das commodities, as ações ordinárias da Petrobras caíram 4,21% e as preferenciais, 4,33%. A desvalorização ocorre em linha com a contínua queda de preço do petróleo, que acumula depreciação de mais de 10% em uma semana. 

A desvalorização do petróleo, em tese, favorece as companhias aéreas, já que barateia o custo do combustível. No entanto, elas também caíram forte na Bolsa, com as ações da Gol recuando 6,66% e as da Azul, 3,33%. Embora o dólar tenha fechado em alta (o que tende a ser negativo para o setor), André Pimentel acredita que o que mais influenciou a queda foi o risco de contaminação em viagens aéreas. “Em uma situação dessas, se o vírus atinge o Brasil, a primeira coisa que reduz são as viagens”. Os papéis da empresa de turismo CVC depreciaram-se 4,35%.

O movimento de antecipação à possibilidade do coronavírus chegar ao Brasil também foi observado nas ações de companhias de planos de saúde. As ações da Hapvida, Intermédica NotreDame e Qualicorp tiveram respectivas perdas de 5,07%, 3,45% e 4,82% na sessão. “[A chegada do vírus] poderia resultar em custos adicionais para poder tratar as pessoas infectadas e a receita iria se manter a mesma”, afirmou o analista Luis Sobral, da Guide Investimentos.

Por outro lado, ativos considerados de menor risco, como o ouro e moedas de países considerados mais estáveis, como a Suíça, se valorizaram nesta segunda. “A gente observou um ‘fly to safety’”, comentou Pimentel. Conhecido como “índice do medo”, o índice de volatilidade Vix saltou 25% e encerrou no maior patamar desde outubro de 2019.

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