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Ibovespa fecha em queda pressionado por incertezas políticas e fiscais

Bolsa brasileira opera na contramão de recordes em Wall Street; setor doméstico lidera perdas

Painel de cotações da B3 | Foto: Germano Lüders/Exame (Germano Lüders/Exame)

Painel de cotações da B3 | Foto: Germano Lüders/Exame (Germano Lüders/Exame)

GG

Guilherme Guilherme

Publicado em 23 de agosto de 2021 às 17h37.

Última atualização em 23 de agosto de 2021 às 22h14.

O Ibovespa fechou em queda de 0,49%, aos 117.471,67 pontos, nesta segunda-feira, 23, com preocupações fiscais e políticas ofuscando o cenário positivo no mercado internacional. Já o dólar não acompanhou seu movimento de queda no exterior e fechou próximo da estabilidade no Brasil, cotado a 5,382 reais.

Nos Estados Unidos, o S&P 500 renovou sua máxima histórica durante o pregão e fechou em alta de 0,85%. Já o índice Nasdaq subiu 1,55%, e bateu seu recorde de fechamento.

A forte valorização nos Estados Unidos ocorreu após a agência reguladora de medicamentos, o FDA, conceder aprovação total ao uso da vacina da Pfizer no país. Na Bolsa de Nova York (Nyse), as ações da farmacêutica fecharam em alta de 2,5%, enquanto investidores aumentaram suas apostas em empresas ligadas à reabertura econômica. As ações da companhia aérea Delta subiram 2,9%, assim como as da rede de resorts e cassinos MGM.

Os impactos positivos da notícia sobre a Pfizer foram sentidos na B3, com ações de empresas ligadas ao turismo fechando entre as maiores altas da sessão. CVC (CVCB3), Azul (AZUL4) e GOL (GOLL4) subiram 4,39%, 2,41% e 1,7%, respectivamente. A fabricante de aviões Embraer (EMBR3), que tem como clientes companhias americanas, disparou 5,28%, liderando as valorizações do Ibovespa.

Apesar das altas significativas, o tom de cautela predominou no mercado brasileiro, em meio a incertezas sobre a condução fiscal e política do país. Por aqui, investidores seguiram de olho nas desavenças entre o presidente Jair Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal.

Na última sexta-feira, 20 o presidente apresentou ao Senado o pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes, e anunciou que deve repetir o processo para o ministro Luís Roberto Barroso nos próximos dias.

Nesta segunda, governadores estaduais se reuniram em Brasília para tentar acalmar os ânimos e estabelecer maior harmonia entre os poderes. O movimento ocorre em meio a uma onda de protestos esperada para 7 de setembro, já interpretada como parte de um processo de ruptura institucional. O vice-presidente Hamilton Mourão nega. "Isso aí tudo é fogo de palha. Zero preocupação”, afirmou ao Antagonista.

No ambiente interno, também sobram incertezas sobre o orçamento do próximo ano. "Há uma falta de perspectiva entre os investidores sobre resoluções importantes, como a PEC dos Precatórios, o Auxílio Brasil e a reforma do imposto de renda", comenta Camila Abdelmalack economista chefe da Veedha Investimentos.

Refletindo as preocupações fiscais, a curva de juros voltou a abrir nesta segunda, prejudicando principalmente ações de empresas ligadas à atividade doméstica. Com o pior desempenho do Ibovespa, as ações da holding das Lojas Americanas (LAME4) fecharam em queda de 6,08%. Já as Americanas (AMER3) caíram 4,25%.

Ainda no varejo, Magazine Luiza (MLGU3) caiu 3,87%, Via (VIIA3), 4,17% e Lojas Renner (LREN3), 2,93%. As locadoras de veículos Localiza (RENT3) e Unidas (LCAM3) caíram 3,92% e 4,19%, respectivamente.

A Vale (VALE3), com a maior participação no Ibovespa, tampouco contribuiu para pregão, recuando 1,38%, em linha com a desvalorização do minério de ferro nesta madrugada. A siderúrgica Usiminas (USIM5) caiu 3,68%.

Quem impediu uma maior queda do Ibovespa foi a Petrobras (PETR3/PETR4), com o segundo maior peso do índice. As ações ordinárias da companhia fecharam em alta de 3,24% e as preferenciais, de 1,58%. O movimento foi impulsionado pela alta do petróleo brent, referência para a política de preço da estatal, que operava em alta de 5%, após sete sessões de perdas. Do mesmo setor, a PetroRio (PRIO3) subiu 3,61%.

No radar

Até o fim da semana, o mercado deve seguir à espera do Simpósio de Jackson Hole, um dos principais eventos mundiais de política monetária. As atenções estarão voltadas para o discurso do presidente do banco central americano, Jerome Powell, que deve dar mais detalhes sobre o “tapering”, processo de redução de estímulos monetários.

Embora a ata do Federal Reserve (Fed, BC americano) tenha sinalizado que os estímulos devem ser retirados em breve, o avanço da variante delta pode alterar as previsões. Isso porque, caso ocorra uma desaceleração da retomada econômica nos EUA causada pela variante, o Fed pode manter os estímulos por mais algum tempo. 

“Se o tapering for adiado, o incentivo monetário continua e isso é bom para as economias e bolsas mundo afora. Isso explica porque o Ibovespa se recuperou um pouco na sexta-feira e porque os mercados iniciam a semana nessa toada positiva”, afirmou Luis Mollo, analista do BTG Pactual digital.

A perspectiva de manutenção dos estímulos tende a impulsionar os índices americanos, em especial o Nasdaq, com maior presença de empresas de teses de crescimento. 

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