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Ibovespa cai 2% em dia de pânico na Argentina; JBS, Marfrig e BRF avançam

Dólar fechou a R$ 3,98, contaminado pela desvalorização das moedas emergentes

Ibovespa cedeu 2% nesta sessão, empurrado pelo mau humor no exterior. (Amanda Perobelli/Reuters)

Ibovespa cedeu 2% nesta sessão, empurrado pelo mau humor no exterior. (Amanda Perobelli/Reuters)

TL

Tais Laporta

Publicado em 12 de agosto de 2019 às 17h18.

Última atualização em 12 de agosto de 2019 às 17h50.

Os mercados no Brasil não foram poupados da turbulência que tomou conta da Argentina nesta segunda-feira (12). O principal índice da bolsa brasileira cedeu 2%, aos 101.915 pontos, com quase todas as ações no vermelho. Em forte baixa, os papéis de Petrobras, Vale e Itaú Unibanco e Bradesco ajudaram a pressionar o indicador.

As exceções do Ibovespa ao longo da sessão eram as processadoras de carnes JBS, BRF e Marfrig, que avançaram 5,6% e 3,6%, respectivamente. A americana Tyson Foods informou que sua fábrica de processamento de carne no Kansas ficará fechada após um incêndio na sexta-feira. As companhias têm operações nos EUA. No fechamento, também subiram a produtora de papel e celulose Suzano, a elétrica Taesa e a empresa de saneamento Sabesp.

Ações argentinas em queda livre

O Merval, um dos principais índices da Bolsa de Comércio de Buenos Aires, fechou em forte baixa de 30%, aos 27.940 pontos, nesta segunda-feira (12). O fundo que reproduz o índice MSCI Argentina, o ARGT, abriu em baixa de 27%.

As ações argentinas figuraram entre as piores perdas no Nasdaq, com as ADRs (recibos de ações negociados em NY) despencando. O papel da estatal petroleira YPF cedeu acima de 30%. A siderúrgica Ternium recuou acima de 15%.

Para tentar conter o dólar, o Banco Central da Argentina subiu os juros, de 63,7% ao ano na sexta-feira para 74% ao ano, além de vender US$ 50 milhões em reservas para tentar acalmar o dólar. O risco-país da Argentina atingiu 9,05 pontos percentuais, alta de 0,33 ponto percentual. Como comparação, o do Brasil é de cerca de 1,30 ponto. Leilões de dólares nos últimos meses foram realizados usando fundos do Tesouro.

Os títulos argentinos também sofreram. Quedas de 18 a 20 centavos no título referencial da Argentina de 10 anos os levou a serem negociados em torno de 60 centavos ou menos. Dados da Refinitiv mostraram que as ações, títulos e peso argentinos não registram esse tipo de queda simultânea desde a crise econômica do país e default da dívida em 2001.

Moedas emergentes sentiram o baque

O câmbio doméstico sentiu o aumento da volatilidade no mercado argentino, onde o peso desabou cerca de 30% no pior momento do dia, para uma nova mínima recorde, diante de receios de que o futuro governo possa adotar políticas econômicas heterodoxas.

dólar subiu fortemente ante o real nesta segunda, chegando a superar os 4 reais logo após a abertura dos negócios, em meio à aversão ao risco, que enfraqueceu as moedas emergentes. A moeda norte-americana avançou 1,05%, aos 3,9837 reais. É o maior patamar para um encerramento desde 28 de maio (4,0242 reais).

O peso argentino encerrou em queda de 12%, a 53,5 por dólar, depois de atingir mais cedo a mínima recorde de 65 por dólar, segundo operadores.

A correlação de 200 dias entre real e peso argentino tem estado em torno de 0,68, nas máximas desde o começo do ano. Quanto mais próximo de 1, mais os dois ativos tendem a oscilar na mesma direção.

A instabilidade no mercado argentino tende a afetar o brasileiro uma vez que o país vizinho é importante destino das exportações brasileiras de manufaturados, cujas quedas podem impactar negativamente o já lento crescimento econômico doméstico.

Mas o dólar se fortaleceu de forma generalizada ante emergentes, diante dos receios em torno da guerra comercial entre chineses e norte-americanos. A fuga de risco beneficiou o iene e derrubou Wall Street.

"Esperamos que a incerteza continue elevada em agosto conforme o próximo capítulo da guerra (comercial) entre EUA e China se desenrola", disseram estrategistas do Bank of America em nota a clientes. "A América Latina parece ser a região mais exposta dentre os emergentes", acrescentaram.

Em meio às incertezas, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, repetiu que o Brasil tem posição cambial "sólida" e está preparado para enfrentar crises.

Corrida para precificar eleição argentina

O mercado mostrou grande nervosismo após a derrota do presidente da Argentina, Mauricio Macri, nas eleições primárias realizadas na véspera no país. O resultado põe em xeque a reeleição do mandatário no pleito geral de outubro e coloca a oposição como favorita na disputa.

Os eleitores argentinos rejeitaram com ênfase as políticas econômicas austeras de Macri. A coalizão que apoia o candidato de oposição Alberto Fernández, cuja companheira de chapa é a ex-presidente Cristina Kirchner, liderava com 47,3% dos votos, uma vantagem de 15 pontos percentuais.

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O receio dos investidores é que o país abandone as políticas de ajuste fiscal e liberdade econômica de Macri, voltando às medidas populistas dos governos de Nestor e Cristina Kirchner. As preocupações cresceram após Fernández afirmar que pretende ampliar benefícios e investimentos em escolas com os recursos do pagamento de juros da dívida argentina.

A vitória dos peronistas Fernández e Kirchner “abre caminho para o retorno do populismo de esquerda que muitos investidores temem”, disse a consultoria Capital Economics em nota.

Para o BTG Pactual, a principal questão após a vitória é se Fernández sinalizará moderação para evitar um colapso na moeda. "Com esta vitória esmagadora, no entanto, agora é de seu maior interesse conter o impacto sobre a taxa de câmbio e as saídas de capital, algo que exigirá mais clareza em suas políticas futuras", afirmou o banco.

Em relatório enviado a clientes, analistas da Rico Investimentos afirmaram que o mercado “odiou” o resultado porque “o governo de Cristina Kirchner adotou um modelo econômico que praticamente afundou a economia para a crise que ainda se encontra, nacionalizando empresas, manipulando dados oficiais e provocando repulsa aos investidores”.

Macri assumiu o poder em 2015 com promessas de recuperar o país através de uma onda de liberalização. Mas a recuperação prometida não se materializou e a Argentina está em recessão com inflação de mais de 55%. Uma forte crise financeira no ano passado afetou o peso e forçou Macri a tomar um empréstimo junto ao FMI em troca da promessa de equilibrar o déficit argentino.

Caos na Argentina pode contaminar o Brasil?

“Como também somos um país emergente, acabamos entrando no mesmo pacote de países com economia fragilizada pelo olhar dos investidores internacionais. E sofremos em conjunto, assim como o México e a África do Sul, que também enfrentam perdas”, afirmou em relatório o estrategista-chefe da consultoria independente Levante Ideias de Investimento, Rafael Bevilacqua.

A equipe da Genial Investimentoss afirmou em nota que "será um efeito de curto prazo, sem grandes consequências no médio e longo prazos. O país esta se mostrando muito mais resiliente que no passado".

A Argentina é importante destino das exportações de maior valor agregado do Brasil e o aumento da instabilidade por lá pode afetar o já lento crescimento do PIB brasileiro.

Outros fatores de pressão

Fora da América do Sul, o viés negativo também prevaleceu, diante do pessimismo na disputa EUA-China. Para o Goldman Sachs , o temor de que a guerra comercial leve a uma recessão está aumentando. O banco também não espera que os países cheguem a um acordo antes das eleições norte-americanas de 2020.

No cenário doméstico, com a reforma da Previdência bem encaminhada no Senado, a classe política começa a discutir a reforma tributária. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defendeu uma proposta que inclua Estados e municípios, como pretende o governo Jair Bolsonaro.

O mercado segue de olho nos balanços trimestrais de empresas do Ibovespa, incluindo Magazine Luiza, Eletrobras e Estácio (Yduqs) dentre as que divulgam resultados nesta noite.

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