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Guerra Cambial de Mantega obriga país a pagar mais para estrangeiro

A crescente emissão de títulos mostra que o governo ofereceu um rendimento maior para atrair investidores cautelosos com sua política para o câmbio

O Brasil voltou ao mercado internacional de dívida em um momento em que tenta enfraquecer o real para proteger a indústria local (Stock Exchange)
DR

Da Redação

Publicado em 19 de abril de 2012 às 10h16.

Nova York - A maior emissão de títulos de dívida soberana em reais no exterior desde 2005 mostra que o governo ofereceu um rendimento maior para atrair investidores cautelosos com sua política para o câmbio .

O País emitiu R$ 3,15 bilhões em títulos com vencimento em 2024 e taxa de 8,6 por cento em 17 de abril, ou 42 pontos-base mais que os títulos em reais com vencimento quatro anos depois negociados no mercado secundário. O desconto “considerável” é raro já que o Brasil tende a emitir dívida em linha com os níveis atuais, de acordo com a Jefferies & Co.

O Brasil voltou ao mercado internacional de dívida em um momento em que tenta enfraquecer o real para proteger a indústria local.

Ontem o real teve o maior declínio entre as moedas de países emergentes depois de dois leilões de compra de dólar pelo Banco Central, ampliando a desvalorização da moeda nacional para 8,6 por cento desde o final de fevereiro. Valores mobiliários negociados no exterior estão isentos da alíquota de 6 por cento do Imposto sobre Operações Financeiras sobre dívida emitida localmente que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, implantou em outubro de 2010 para garantir ganhos ao real.

“Eles ofereceram uma concessão como forma de ganhar maior participação, de torná-lo atrativo aos investidores”, disse Alejandro Urbina, que ajuda a administrar US$ 800 milhões em ativos na Silva Capital Management, em entrevista por telefone de Chicago. “O mercado está relativamente sem liquidez, por isso eles tentam seduzir os investidores para atraí-los a comprar esses papéis em vez de irem ao mercado local.”

O governo disse em comunicado em 17 de abril que vai usar metade dos recursos da captação externa para recomprar papéis em reais com vencimento em 2022 e 2016.

‘Curva forte’

O País tenta estabelecer uma referência -- ou benchmark, no jargão do mercado -- para as empresas venderem dívida atrelada ao real sem estimular a entrada de capitais externos, que podem levar à valorização da moeda, disse o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, ontem a repórteres em Brasília.

Quando o País tem uma “curva forte” em reais no exterior, isso ajuda a evitar valorização excessiva da moeda, disse Augustin. Segundo ele, investidores podem ter ativos em reais sem trazer fluxo para o Brasil e sem influência sobre a taxa de câmbio.


Mantega acusou os EUA, Japão e Europa de lançar uma “guerra cambial” mundial ao manter seus juros básicos próximos a zero. Em resposta, o governo triplicou o Imposto sobre Operações Financeiras sobre aplicações estrangeiras em no mercado de renda fixa local, elevou os custos para captações corporativas no exterior e taxou a negociação de derivativos cambiais para limitar a valorização do real.

A parcela dos títulos públicos emitidos no mercado local em poder dos estrangeiros se estabilizou ao redor de 12 por cento do total em circulação desde o aumento do IOF para estrangeiros de 2 por cento para 6 por cento, segundo o Tesouro.

‘Valor justo’

“Eles querem aumentar a atratividade para os investidores” de fora, disse Vinicius Pasquarelli, operador de dívida de mercados emergentes da Tradition Asiel Securities, em entrevista por telefone de Nova York. “O fato de os investidores estarem comprando os bônus no exterior e não dentro do mercado local ajuda no plano de manter barrar os fluxos. É mais um passo nas ações no front cambial.”

O rendimento dos novos títulos com vencimento em 2024 ficou 25 pontos-base, ou 0,25 ponto percentual, acima do “valor justo”, afirmou Siobhan Morden, estrategista-chefe para América Latina da Jefferies & Co.

Mesmo com o desconto, os bônus “não são atraentes” por causa do “elevado risco cambial” e do cupom menor, escreveu ela em nota a clientes ontem.

‘Espaço limitado’

O dólar subiu 0,9 por cento ontem para R$ 1,8786, eliminando as quedas deste ano.

Enzo Puntillo, que supervisiona US$ 1,4 bilhão em ativos como chefe de renda fixa para mercados emergentes da Swiss & Global Asset Management AG em Zurique, disse que não comprou os títulos atrelados ao real com vencimento em 2024 por causa do “espaço limitado para ganhos”.

“Em níveis absolutos, esses bônus têm espaço limitado para apreciação de preço após um breve realinhamento com o resto da curva”, disse Puntillo em e-mail enviado em resposta a perguntas da reportagem.

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Nova York - A maior emissão de títulos de dívida soberana em reais no exterior desde 2005 mostra que o governo ofereceu um rendimento maior para atrair investidores cautelosos com sua política para o câmbio .

O País emitiu R$ 3,15 bilhões em títulos com vencimento em 2024 e taxa de 8,6 por cento em 17 de abril, ou 42 pontos-base mais que os títulos em reais com vencimento quatro anos depois negociados no mercado secundário. O desconto “considerável” é raro já que o Brasil tende a emitir dívida em linha com os níveis atuais, de acordo com a Jefferies & Co.

O Brasil voltou ao mercado internacional de dívida em um momento em que tenta enfraquecer o real para proteger a indústria local.

Ontem o real teve o maior declínio entre as moedas de países emergentes depois de dois leilões de compra de dólar pelo Banco Central, ampliando a desvalorização da moeda nacional para 8,6 por cento desde o final de fevereiro. Valores mobiliários negociados no exterior estão isentos da alíquota de 6 por cento do Imposto sobre Operações Financeiras sobre dívida emitida localmente que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, implantou em outubro de 2010 para garantir ganhos ao real.

“Eles ofereceram uma concessão como forma de ganhar maior participação, de torná-lo atrativo aos investidores”, disse Alejandro Urbina, que ajuda a administrar US$ 800 milhões em ativos na Silva Capital Management, em entrevista por telefone de Chicago. “O mercado está relativamente sem liquidez, por isso eles tentam seduzir os investidores para atraí-los a comprar esses papéis em vez de irem ao mercado local.”

O governo disse em comunicado em 17 de abril que vai usar metade dos recursos da captação externa para recomprar papéis em reais com vencimento em 2022 e 2016.

‘Curva forte’

O País tenta estabelecer uma referência -- ou benchmark, no jargão do mercado -- para as empresas venderem dívida atrelada ao real sem estimular a entrada de capitais externos, que podem levar à valorização da moeda, disse o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, ontem a repórteres em Brasília.

Quando o País tem uma “curva forte” em reais no exterior, isso ajuda a evitar valorização excessiva da moeda, disse Augustin. Segundo ele, investidores podem ter ativos em reais sem trazer fluxo para o Brasil e sem influência sobre a taxa de câmbio.


Mantega acusou os EUA, Japão e Europa de lançar uma “guerra cambial” mundial ao manter seus juros básicos próximos a zero. Em resposta, o governo triplicou o Imposto sobre Operações Financeiras sobre aplicações estrangeiras em no mercado de renda fixa local, elevou os custos para captações corporativas no exterior e taxou a negociação de derivativos cambiais para limitar a valorização do real.

A parcela dos títulos públicos emitidos no mercado local em poder dos estrangeiros se estabilizou ao redor de 12 por cento do total em circulação desde o aumento do IOF para estrangeiros de 2 por cento para 6 por cento, segundo o Tesouro.

‘Valor justo’

“Eles querem aumentar a atratividade para os investidores” de fora, disse Vinicius Pasquarelli, operador de dívida de mercados emergentes da Tradition Asiel Securities, em entrevista por telefone de Nova York. “O fato de os investidores estarem comprando os bônus no exterior e não dentro do mercado local ajuda no plano de manter barrar os fluxos. É mais um passo nas ações no front cambial.”

O rendimento dos novos títulos com vencimento em 2024 ficou 25 pontos-base, ou 0,25 ponto percentual, acima do “valor justo”, afirmou Siobhan Morden, estrategista-chefe para América Latina da Jefferies & Co.

Mesmo com o desconto, os bônus “não são atraentes” por causa do “elevado risco cambial” e do cupom menor, escreveu ela em nota a clientes ontem.

‘Espaço limitado’

O dólar subiu 0,9 por cento ontem para R$ 1,8786, eliminando as quedas deste ano.

Enzo Puntillo, que supervisiona US$ 1,4 bilhão em ativos como chefe de renda fixa para mercados emergentes da Swiss & Global Asset Management AG em Zurique, disse que não comprou os títulos atrelados ao real com vencimento em 2024 por causa do “espaço limitado para ganhos”.

“Em níveis absolutos, esses bônus têm espaço limitado para apreciação de preço após um breve realinhamento com o resto da curva”, disse Puntillo em e-mail enviado em resposta a perguntas da reportagem.

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