Economia

Guerra cambial? BC Europeu se reúne e pode agir para evitar euro forte

Moeda única europeia está no seu maior valor em relação ao dólar em dois anos, o que afeta as exportações dos países do bloco

Estátua do euro em Frankfurt: Banco Central Europeu estuda medidas para conter alta da moeda (Kai Pfaffenbach/Reuters)

Estátua do euro em Frankfurt: Banco Central Europeu estuda medidas para conter alta da moeda (Kai Pfaffenbach/Reuters)

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Marcelo Sakate

Publicado em 10 de setembro de 2020 às 06h00.

O rali do euro para a sua maior cotação em dois anos preocupa autoridades do Banco Central Europeu (BCE) e cria a expectativa entre investidores e economistas de alguma intervenção será anunciada já na reunião de política monetária desta quinta-feira, 10.

O salto de 10% da moeda europeia desde março, quando começaram as medidas de isolamento social por causa do novo coronavírus, dificulta o trabalho da presidente do BCE, Christine Lagarde, ao pressionar a inflação para baixo.

A valorização cambial, combinada com sinais de que a recuperação econômica está desacelerando, reforça o argumento para mais estímulos monetários.

Tal medida parece improvável durante a reunião do comitê de política monetária do BCE nesta semana, mas Lagarde e outras autoridades da instituição podem decidir começar a lançar as bases caso precisem agir. Confira algumas opções:

Intervenção verbal

Embora o BCE diga repetidamente que não visa o controle da taxa de câmbio, as autoridades de política monetária sabem que suas palavras podem ter efeito. Depois que o euro ultrapassou a marca de 1,20 dólar na semana passada, o economista-chefe do BCE, Philip Lane, rebateu dizendo que o câmbio “importa” para a política monetária.

A moeda única europeia caiu por seis dias consecutivos até a terça-feira, abaixo de 1,18 dólar, embora o modelo de precificação de opções da Bloomberg aponte para uma maior probabilidade de que o euro seja negociado acima de 1,22 dólar nos próximos três meses do que abaixo de 1,14 dólar.

Economistas de bancos como Barclays, Goldman Sachs e JPMorgan Chase dizem que Lagarde pode seguir a estratégia de Lane após a reunião desta quinta. É algo que seu antecessor, Mario Draghi, adotou em múltiplas ocasiões.

Mais afrouxamento

Lagarde pode até sugerir o que o BCE faria. Ela pode vincular o impacto da moeda sobre a inflação à possibilidade de acelerar o ritmo do programa de compra de 1,35 trilhão de euros de títulos de emergência, diz Gilles Moec, economista-chefe da Axa. Outra opção seria observar o potencial para o corte da taxa de juros.

“Aumentam as chances de que Lagarde sinalize um corte dos juros como opção já nesta semana”, disse Frederik Ducrozet, estrategista da Pictet & Cie.

Corte da taxa de depósito

Nenhum economista espera juros mais baixos na quinta-feira, mas, nesta semana, operadores do mercado monetário precificaram um corte de 10 pontos-base na taxa de depósito para 0,6% negativo em setembro do próximo ano. Há dois meses, o mercado não previa tal passo pelo menos até 2022.

Peter Chatwell, chefe de estratégia de multiativos no Mizuho International, espera a medida até o segundo trimestre de 2021.

“Até lá, o euro terá ultrapassado 1,30 dólar”, projeta. “A perda de competitividade das exportações e a dinâmica desinflacionária irão justificar isso.”

Evitar uma guerra cambial

O que quer que os formuladores de política façam, terão o cuidado de descrever suas ações em termos de perspectivas para a inflação.

As maiores economias há muito tempo concordaram em não permitir desvalorizações competitivas do câmbio, e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, frequentemente acusa o BCE de manter o euro artificialmente baixo para ajudar exportadores.

“Não poderia focar nenhuma ação na moeda”, disse Christoph Rieger, chefe de estratégia de taxa fixa do Commerzbank. “Isso desencadearia imediatamente uma reação do governo dos EUA e arriscaria (despertar) uma guerra cambial.”

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