Gol e Tam perdem na renda fixa com alta do petróleo
Custos trabalhistas também estão pressionando os títulos das empresas no mercado externo
Da Redação
Publicado em 10 de março de 2011 às 18h47.
Nova York - Os títulos da Gol Linhas Aéreas Inteligentes SA e da Tam SA estão perdendo para os papéis de outras empresas brasileiras no mercado externo de renda fixa devido à alta do petróleo e dos custos trabalhistas.
Os papéis da Gol denominados em dólar com cupom de 9,25 por cento e vencimento em 2020 se desvalorizaram em 0,2 por cento nos 30 dias até 8 de março, enquanto os títulos de prazo semelhante emitidos pela Tam registraram ganho de 0,8 por cento, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Os bônus corporativos brasileiros avançaram 1,2 por cento no período, segundo o índice CEMBI Brasil do JPMorgan Chase & Co.
A Gol e a Tam, ambas com sede em São Paulo, estão registrando desempenho inferior a outras empresas na região por conta do aumento da concorrência, que dificulta o repasse da alta de custos aos preços, segundo Luz Padilla, da Doubleline Capital LP. Os papéis de empresas de transporte da América Latina acumulam retorno de 0,9 por cento no último mês, de acordo com um índices do Credit Suisse Group AG. Um índice do Bank of America Merrill Lynch que acompanha a dívida de companhias aéreas subiu 0,3 por cento nos últimos 30 dias.
“O ambiente e a flexibilidade de definir preços para acomodar mudanças nos custos são mais flexíveis nos Estados Unidos do que no Brasil”, disse Luz Padilla, que ajuda a administrar cerca de US$ 8 bilhões, incluindo títulos da Tam, na Doubleline em Los Angeles. “A concorrência nesse setor em expansão tem sido bastante intensa”, disse ela numa entrevista na sede da Bloomberg em Nova York.
A Gol está monitorando de perto o petróleo e só deve elevar as tarifas se os preços do barril se mantiverem nos níveis atuais nos próximos quatro meses, disse o diretor de mercados de capitais da empresa, Rodrigo Alves, em entrevista por telefone de São Paulo. Segundo Alves, a Gol pode rever suas projeções caso o barril de petróleo se mantenha acima de US$ 94.
Petróleo
O rendimento dos títulos da Gol com vencimento em 2020 subiu 19 pontos-base para 8,26 por cento em fevereiro, o maior aumento em um mês desde a emissão em julho. A taxa avançou outros 7 pontos-base em março. No caso da Tam, o rendimento subiu 9 pontos para 7,86 por cento no mês passado, o maior aumento em três meses, e acumulam baixa de 5 pontos-base este mês, para 7,84 por cento, segundo dados da Bloomberg.
O barril de petróleo disparou 28 por cento nos últimos 12 meses e o contrato futuro chegou a US$ 106,95 em 7 de março, a maior cotação intraday desde 26 de setembro de 2008. O contrato futuro na Bolsa Mercantil de Nova York já aumentou 15 por cento só este ano porque a violência na Líbia, terceira maior produtora de petróleo da África, reforçou a perspectiva de escassez de oferta.
Pressão de custos
O combustível de aviação, diesel e gasolina passaram de US$ 1.000 por tonelada na Europa pela primeira vez em mais de dois anos em 4 de março, com a queda nas exportações da Líbia.
O desempenho dos títulos da Tam pode estar relacionado “à alta do preço do petróleo no mercado internacional”, de acordo com e-mail enviado pela assessoria de imprensa da companhia.
Os combustíveis representaram um terço dos custos da Tam e da Gol no ano passado, de acordo com documentos das empresas.
Ambas as companhias aéreas já enfrentavam um aumento das despesas mesmo antes de o petróleo disparar com a turbulência política no Oriente Médio. Os custos operacionais da Tam, que está sendo adquirida pela chilena Lan Airlines SA, aumentaram 8,8 por cento em 2010 para R$ 10,4 bilhões, de acordo com um comunidado em 28 de fevereiro. As despesas operacionais da Gol subiram 12 por cento no ano passado para R$ 6,3 bilhões, segundo documento de 23 de fevereiro.