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Fuga de estrangeiros da Bolsa é de R$ 88,2 bilhões, o dobro de 2019

Além da pandemia, o crescimento do risco fiscal, ruídos do governo e a política ambiental desgastam a imagem do Brasil

O presidente da República, Jair Bolsonaro, durante a cerimônia de lançamento do Programa Casa Verde e Amarela (Marcos Corrêa/PR/Divulgação)

O presidente da República, Jair Bolsonaro, durante a cerimônia de lançamento do Programa Casa Verde e Amarela (Marcos Corrêa/PR/Divulgação)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 2 de outubro de 2020 às 12h27.

Última atualização em 2 de outubro de 2020 às 15h49.

Os estrangeiros continuaram retirando dinheiro da Bolsa. De acordo com dados divulgados pela B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, o saldo negativo no ano até o dia 29 de setembro soma R$ 88,2 bilhões. O valor representa o dobro do registrado em todo o ano passado, quando os estrangeiros levaram de volta para casa R$ 44,5 bilhões.

O ápice da retirada aconteceu no dia 23, quando no acumulado do ano as retiradas chegaram a R$ 89,2 bilhões. Entradas e saídas de capital estrangeiro seguem oscilando, de acordo com o noticiário sobre avanços na busca de uma vacina contra a covid-19 e medidas mais duras anunciadas por alguns governos para conter uma segunda onda da pandemia. Também entram na conta o crescimento do risco fiscal, ruídos do governo e a imagem desgastada da política ambiental do País.

Apenas em setembro foi registrado saldo negativo de R$ 2,89 bilhões. No acumulado do terceiro trimestre, faltando os dados de apenas um pregão para o encerramento do período, as retiradas somam quase R$ 12 bilhões. Esses volumes são referentes aos recursos do mercado secundário da Bolsa, no qual investidores colocam dinheiro em empresas que já têm capital aberto no País.

Para Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de renda variável e derivativos do BTG Pactual Digital, uma fuga de recursos desse porte não está atrelada a um único motivo. "O primeiro viés está ligado ao risco de imagem: a questão ambiental combinada a ruídos no âmbito político", diz ele. "O segundo ponto é a parte de risco fiscal, que tem sofrido uma degradação significativa e corrobora à tese da cautela dos estrangeiros com relação ao Brasil."

O fator mais significativo, no entanto, segundo Zanlorenzi, é a aversão ao risco global. "Os investidores estão menos dispostos a colocar o pé para fora de seu território, diante de tanta instabilidade (pandemia, eleições nos EUA, etc)", afirma.

Na avaliação de Gustavo Bertotti, economista da Messem Investimentos, setembro foi marcado pelo aumento da volatilidade e de aversão ao risco. No entanto, depois de um agosto ruim, ele afirma que a Bolsa brasileira continua atraente. "Temos bons fundamentos e ativos baratos, nossos bancos são bem administrados", diz. "Mas as questões políticas pesam e essa volatilidade deve continuar ao longo de outubro. Aliado a isso, as eleições norte-americanas ainda não estão totalmente precificadas e isso deve pesar nos mercados", afirmou.

Como efeito dessa saída de recursos, as empresas que estavam buscando recursos em ofertas iniciais de ações terão mais dificuldade, segundo José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator. Para ele, diante das incertezas sobre o ritmo da recuperação da economia global e da instabilidade política no País, será mais fácil fazer caixa por meio de endividamento, mas em um ambiente no qual as taxas de juros mais longas não serão tão interessantes.

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