Estrangeiros voltam a investir no País
O movimento é cauteloso, mas já aparece de forma mais clara na economia.
Estadão Conteúdo
Publicado em 13 de agosto de 2017 às 10h14.
Última atualização em 13 de agosto de 2017 às 10h15.
São Paulo - Os investidores estrangeiros estão, aos poucos, voltando a olhar o Brasil com interesse, depois de terem deixado o País por causa da crise econômica . O movimento é cauteloso - uma vez que a incerteza política ainda não foi embora - mas já aparece de forma mais clara na economia . A presença deles quase dobrou nas operações de abertura de capital e emissões de ações na Bolsa de Valores no primeiro semestre; os estrangeiros também tiveram participação relevante, de 44%, na compra de empresas e fusões de companhias - dois dos principais termômetros para medir o apetite dos investidores.
Esse retorno que começa a se desenhar é explicado, em parte, pela recuperação de indicadores econômicos: tanto a inflação quanto a taxa básica de juros estão em queda. Mas isso não é tudo. O cenário internacional também está jogando a favor. "A volta (dos investidores) é muito em função do mercado externo. O cenário internacional é o mais benigno desde 2008. Há uma melhora da economia em vários países, sobretudo dos EUA e Europa", diz Ricardo Lacerda, sócio do banco de investimentos BR Partners.
Com mais dinheiro lá fora, parte dos fundos que investem em países emergentes começa a diversificar riscos e migrar para o Brasil. Um dos canais é a Bolsa de Valores.
Neste ano, já foram realizadas 13 operações na B3 (antiga BM&FBovespa): sete aberturas de capital (IPO, na sigla em inglês) e seis emissões de novas ações (follow on). Apesar de grande parte dos papéis emitidos ter sido negociada pelo preço mínimo, houve um incremento considerável nas operações: de 2014 a 2016, a média havia sido de uma abertura de capital e quase cinco emissões de ações por ano.
Além de ajudarem a aquecer o mercado, os estrangeiros elevaram suas participações. Das ações emitidas no primeiro semestre, 60,8% estão nas mãos de investidores de fora. No mesmo período de 2016, essa participação era de 35,7%, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). De acordo com José Eduardo Laloni, diretor da Anbima, o regresso dos estrangeiros começou a ser percebido no começo do ano passado no mercado de renda fixa, enquanto, no de renda variável, se tornou perceptível em 2017.
O investimento estrangeiro direto no País, aquele voltado ao setor produtivo, também ganhou força e avançou 7,4% no primeiro semestre, para R$ 36,3 bilhões, segundo o Banco Central. No mesmo período de 2016, o crescimento foi de 9%, mas ele veio na sequência de uma queda de 33% em 2015.
Fusões
A recessão e a Operação Lava Jato levaram muitos grupos brasileiros a colocar ativos à venda. E os estrangeiros também têm se aproveitado disso. O movimento de fusões e aquisições de janeiro a julho somou R$ 155,7 bilhões no País, alta de 73,6% em relação ao mesmo período de 2016, segundo a consultoria TTR. "O setor produtivo nacional não tem saúde financeira para ser agressivo nas aquisições", diz o economista Silvio Campos, da Tendências.
O cenário político, no entanto, pode reverter todo esse movimento de retorno dos estrangeiros. "Há um otimismo cauteloso porque a agenda tem sido boa. Mas, se o cenário político mudar radicalmente, os investidores vão embora", diz Hans Lin, gestor do Bank of America. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.