Mercados

Empiricus pede mais apoio da CVM para análise independente de ações

“O mercado merece mais interlocução, fora da agenda de banco de investimentos”, diz analista em carta endereçada à reguladora do mercado de capitais no Brasil

Nos EUA, a análise independente foi incentivada pelo regulador do mercado (Spencer Platt/ Getty Images)

Nos EUA, a análise independente foi incentivada pelo regulador do mercado (Spencer Platt/ Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 10 de janeiro de 2012 às 14h24.

São Paulo – A Empiricus, casa de análise de ações, enviou hoje uma carta à presidente da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), Maria Helena Santana, pedindo mais apoio para os analistas independentes no Brasil.

“O mercado merece mais interlocução, fora da agenda de banco de investimentos”, mostra o texto da carta (íntegra na segunda página) que está em um relatório enviado para clientes assinado por Marcos Elias, analista-chefe. A empresa se diz isolada como a única a publicar opiniões sem a ligação direta com bancos ou corretoras.

Fundada em novembro de 2009 por economistas, analistas e jornalistas, a Empiricus tem hoje mais de 100 clientes, sendo 14 corretoras como a Icap, Rico e Título. No ano passado, a empresa se fundiu com o fundo Galleas, de Marcos Elias. A gestora mudou de nome (Gradius) e foi incorporada à corretora Gradual . A Empiricus continuou separada e a Gradius se tornou um dos seus clientes.

Elias explica que recebe com frequência empresários ou analistas, de sell side (corretoras) ou de buy side (gestoras), pedindo opiniões independentes sobre empresas, mas que não possui equipe suficiente para tal. “Parte de nossa missão aqui é inspirar que novos venham conosco. Mas precisamos, visceralmente, que a CVM nos dê a forma”, ressalta.

A existência de análises independentes para ações ou renda fixa é maior fora do Brasil, onde casas como a GaveKal, BCA Research e a 13D sobrevivem apenas com a venda de relatórios. Mas isso só ganhou corpo após um “empurrãozinho” das entidades do mercado de capitais.

Como foi por lá

Nos EUA, o fomento à indústria independente de análise de ações começou em 2003. À época, a procuradoria-geral de Nova York iniciou uma investigação sobre os conflitos de interesses dos profissionais da área dentro de grandes bancos. Em uma investigação sobre o Merrill Lynch, o procurador encontrou e-mails enviados por analistas em que avaliavam algumas ações como “lixo”, enquanto ao mesmo tempo recomendavam a compra dos papéis em relatórios enviados ao público. O banco foi condenado a pagar 100 milhões de dólares.

Como resultado das iniciativas da procuradoria de Nova York, diversas instituições do mercado de capitais, incluindo a reguladora SEC (Securities and Exchange Commission), firmaram um acordo para melhorar a fiscalização do setor e alimentar a criação de casas independentes. Os bancos foram obrigados a contratar ao menos três empresas independentes de análises de ações para disponibilizar relatórios aos clientes por um período de cinco anos. A escolha das casas também foi feita por um consultor independente.


Carta Aberta à Maria Helena Santana

Presidente da CVM

Por Marcos Elias

Cara Maria Helena,

Permita-me apresentar: somos a Empiricus, casa de research independente, dissociada de bancos ou corretoras. Eu sou o Marcos Elias. Bem, há pelo menos dois "Marcos Elias" no mercado, e isso geralmente causa uma certa confusão: Marcus Alberto Elias, empresário na Laep, e Marcos Eduardo Elias, quem vos fala, analista de ações. Para maiores referências minhas, por favor, tome-as com Alexandre Koch, amigo que temos em comum: ele e eu fomos sócios na Latour Capital.

Encontrei na forma de uma carta aberta o melhor instrumento para lhe fazer um pedido, ou de lhe dar uma sugestão: regulamente e incentive o desenvolvimento de estruturas de research independente no país. Estamos sozinhos, e isolados! Entenda a nossa questão, que é a metonímia do drama que vivemos no mercado de ações brasileiro: praticamente todos os dias recebemos em nossa casa, instalada no Itaim em São Paulo, empresários ou analistas, de sell side ou de buy side, que nos procuram no seguinte tom:

"Senhores, vocês são os únicos na posição de investigar a seguinte questão que coloco aqui contra os controladores da empresa tal...", e, invariavelmente, emendam:

"Sell side nenhum jamais publicará algo desta natureza"

Aqui somos em apenas três analistas sênior! Rodolfo Amstalden e Roberto Altenhofen, além de mim. E não me orgulho - mas também não me esquivo - em afirmar que somos a única voz deste pessoal. O mercado merece mais interlocução, fora da agenda de banco de
investimentos. Sabe, quando começamos, amigos do mercado nos diziam que não conseguiríamos sobreviver, pagar as contas, posto que "research no Brasil é de graça". Mas pasme que nosso equilíbrio financeiro foi atingido em menos de três meses, e hoje contamos com mais de 100 clientes, dentre eles 14 corretoras e uma dezena de assets.

Ou seja, não estamos falando de a CVM estimular o desenvolvimento de estruturas que não parem em pé economicamente, embora nos EUA, como é de seu conhecimento, houve fomento, inclusive financeiro, para a criação desta indústria. Hoje, lá, as melhores casas de pesquisa são as independentes.

É importante que ganhemos corpo e força institucional, sob o risco de nos extinguirmos como uma excrescência ou uma excentricidade: "por que vocês estão fazendo isso?". Para te exemplificar, outro dia entrevistaram o controlador de um frigorífico listado em bolsa. O jornalista perguntou-lhe porque os analistas contestavam a consistência contábil de seus balanços.

De pronto, o empresário retrucou: "não são analistas, é apenas uma casa, a Empiricus, e vamos processá-la!". Neste caso particular ele estava errado, pois a Goldman Sachs já havia identificado e relatado uma série de incongruências nos balanços da empresa em questão. Mas depois o analista autor do report saiu da instituição e tudo voltou à "normalidade". Mas entende como ficamos? Estamos isolados! E isso nos enfraquece.

Ademais, não temos musculatura para nos aprofundarmos em todos os cases dos quais suspeitamos. O que nos força, em certo grau, a agir de forma desproporcional. Queremos pares! Parte de nossa missão aqui é inspirar que novos venham conosco. Mas precisamos, visceralmente, que a CVM nos dê a forma. Podemos contar contigo?

Um forte abraço.

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