Dólar: moeda americana ganha força contra o real, apesar de se desvalorizar contra outras divisas emergentes (Thomas Trutschel/Getty Images)
Guilherme Guilherme
Publicado em 23 de abril de 2020 às 17h07.
Última atualização em 23 de abril de 2020 às 17h35.
A moeda americana intensificou sua trajetória de alta contra o real na tarde desta quinta-feira, 23, após o jornal Folha de S. Paulo noticiar que o ministro da Justiça, Sérgio Moro, pediu demissão e fechou em novo recorde. O dólar comercial subiu 2,2% e encerrou sendo vendido a 5,528 reais, enquanto o dólar turismo avançou 1,8%, cotado a 5,75 reais.
De acordo com a publicação, Moro deixou seu cargo à disposição depois de o presidente Jair Bolsonaro informá-lo que pretende trocar a diretoria-geral da Polícia Federal. A possibilidade do ex-juiz federal deixar a pasta foi mal recebida pelos investidores, que veem no ministro uma das bases de sustentação do governo.
Vanei Nagem, analista de câmbio da Terra Investimentos, vê a notícia como um amplificador da instabilidade política no Brasil. "Se sair o Moro e o [ministro da Economia] Paulo Guedes, acabou esse governo", afirmou. Segundo ele, o fato de Sérgio Moro ser bem avaliado pela opinião pública pode minar o presidente Jair Bolsonaro, caso saia da pasta. "É um governo que não é simpático com o Congresso. Se perder a base, que é o povo, a coisa fica complicada", disse.
Apesar da alta mais acentuada no período da tarde, o dólar veio ganhando força contra o real desde o início do pregão. Logo na abertura, a moeda americana disparou e chegou a ser negociada 5,469 reais, renovando o recorde intradiário. Também esteve no radar dos investidores a expectativa de o Banco Central voltar a cortar a taxa básica de juros. A possibilidade vem ganhando força desde o início da semana, quando o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, mudou o discurso, deixando de descartar um novo corte. A medida, embora possa estimular a atividade econômica, tende a afastar o capital estrangeiro em busca de aplicações atreladas à Selic.
“O mercado está precificando um corte de 0,75 ponto percentual para a próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária)”, disse Márcio Loréga, analista da Ativa Investimentos. Segundo ele, o mercado também projeta um possível corte de 0,5 p.p. em seguida, o que levaria a taxa Selic a 2,5% ao ano. "Isso leva a uma saída de dólares, o investidor vai buscar países com potencial de rentabilidade maiores."
Nesta semana, países emergentes como o México e a Turquia fizeram cortes em suas taxas básicas de juros. Para Loréga, esse movimento reforça a perspectiva de que o Brasil também reduzirá os juros. "É um ciclo que está acontecendo no mercado internacional e estamos seguindo no mesmo caminho. Vamos fazer esse ajuste para evitar um cenário de uma deterioração ainda maior da economia."
Apesar da desvalorização do real, o dia é positivo para ativos de risco, como ações e divisas de países emergentes. No exterior, o dólar perdia força contra o rublo russo, o peso mexicano, a lira turca e a rúpia indiana.