Dólar: a valorização do dólar teve influência do avanço ante divisas de emergentes no mercado externo e também a cautela com a cena eleitoral (Tsokur/Thinkstock)
Karla Mamona
Publicado em 30 de agosto de 2018 às 15h06.
Última atualização em 30 de agosto de 2018 às 15h15.
SÃO PAULO, 30 Ago (Reuters) - O dólar disparou quase 2,50 por cento e foi a 4,21 reais na máxima da sessão, obrigando o Banco Central a voltar a atuar por meio de leilões extraordinários de swap cambial tradicional, suficientes para conter um pouco da irracionalidade que tomou conta do mercado mais cedo.
Às 14:52, o dólar avançava 0,88 por cento, a 4,1505 reais na venda, depois de ter ido a 4,2155 reais no começo da tarde, com alta de 2,46 por cento. O dólar futuro tinha valorização de cerca de 1,05 por cento.
"Não havia nenhuma demanda genuína por dólar em 4,20 reais, era apenas efeito manada", argumentou o diretor de Tesouraria de um grande banco estrangeiro.
O BC, percebendo o movimento, não perdeu tempo. Anunciou leilão de até 30 mil contratos de swap cambial tradicional --equivalentes à venda futura de dólares--, o equivalente a 1,5 bilhão de dólares, mas só conseguiu completar a venda em uma segunda oferta, minutos depois.
A última vez que o BC tinha feito oferta adicional de swaps --numa atuação conjunta com o Tesouro Nacional-- foi em junho deste ano, depois que a greve dos caminhoneiros acabou levando a uma reprecificação dos ativos.
A autoridade já havia concluído mais cedo a rolagem dos contratos de swaps que venciam em setembro, totalizando 5,255 bilhões de dólares.
Em outubro, segundo dados do site do BC, vencem 9,801 bilhões de dólares em contratos de swap e há uma expectativa no mercado de que o BC, a exemplo do que fez com a linha --venda de dólares com compromisso de recompra-- também possa anunciar após o fechamento do mercado sua intenção de rolar integralmente esse volume, para evitar qualquer especulação.
Na terça-feira, o BC anunciou leilão de 2,15 bilhões de dólares para sexta-feira para rolagem dos contratos que vencem em 5 de setembro.
A valorização do dólar nesta quinta-feira teve influência do avanço ante divisas de emergentes no mercado externo e também a cautela com a cena eleitoral. O movimento ganhou tração quando a Argentina elevou os juros a 60 por cento ao ano, de 45 por cento, o que causou um movimento forte de stop loss (quando o investidor zera posição para reduzir as perdas).
"A Argentina foi a cereja do bolo hoje", disse o diretor de operações da Mirae, Pablo Spyer, ao comentar o cenário nervoso desta quinta-feira.
Embora os especialistas comentem que o quadro doméstico é diferente do argentino, por exemplo, com nossas contas externas muito mais saudáveis, os investidores acabam promovendo ajustes generalizados em suas carteiras de emergentes quando há preocupação em algum dos lugares em que investem.
A pesquisa DataPoder360 divulgada de madrugada não trouxe um cenário muito diferente dos outros levantamentos, com Lula liderando a disputa e Geraldo Alckmin (PSDB), o candidato do mercado, sem decolar.
Mas mostrou que se Lula tiver que abrir mão da candidatura para Fernando Haddad, este teria potencial de receber 8 por cento de votos "com certeza", enquanto 26 por cento "poderiam votar" nele no caso de ser apoiado pelo ex-presidente. Ou seja, seriam grandes as chances de um segundo turno com a presença de um petista.
"Se esses números forem reais, a chance do candidato do PT chegar ao segundo turno são grandes. Triste perspectiva para o mercado financeiro, que trabalha em um ambiente de alta volatilidade, pressão e especulação com o atual cenário eleitoral", afirmou a Advanced Corretora em comentário.
É por essa razão que a possibilidade de julgamento na sexta-feira pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) da participação de Lula na propaganda de rádio e televisão está sendo acompanhada de perto pelos investidores e ajuda a trazer cautela nos negócios.
O TSE também pode vir a decidir na sexta-feira sobre as impugnações ao registro de candidatura de Lula. O petista está preso desde abril no âmbito da Operação Lava Jato.