Dólar supera R$4,35 e crava nova máxima histórica
Moeda à vista fechou em alta de 0,56% registrando seu maior valor nominal para um encerramento de sessão
Reuters
Publicado em 12 de fevereiro de 2020 às 09h15.
Última atualização em 12 de fevereiro de 2020 às 17h53.
São Paulo — O dólar voltou a subir e fechou em nova máxima histórica nesta quarta-feira, com o real mantendo-se entre as divisas de pior desempenho no dia, sob pressão do exterior e de dados locais indicando recuperação econômica mais hesitante.
A narrativa sobre o risco de uma economia mais frágil --a julgar por dados recentes-- e a chance de esse cenário trazer novas quedas de juros têm colocado forte pressão sobre o real neste ano, enquanto analistas destacam que a variável que poderá dar algum alento ao câmbio é justamente uma retomada firme da atividade.
Mais cedo, o IBGE reportou que as vendas no varejo caíram 0,1% em dezembro ante novembro, primeira queda na base mensal desde maio, com alta de 2,6% sobre um ano antes. Ambos os resultados vieram mais fracos que o esperado.
Como resultado dos dados, as taxas de DI --referência para apostas sobre o rumo dos juros no Brasil-- caíram, indicando maior disposição do mercado a um cenário de mais quedas dos juros, a despeito de o Banco Central ter na semana passada elevado a barra para novo afrouxamento monetário.
Juros mais baixos reduzem o diferencial de retornos entre o Brasil e o mundo, o que deixa o real menos atrativo em relação ao dólar e a outros pares emergentes. Enquanto um título brasileiro de um ano paga 4,26% ao ano, o mesmo papel para o México --que ostenta grau de investimento e é um dos principais "concorrentes" do Brasil por investimento estrangeiro-- promete retorno de 6,78%.
O Credit Suisse vê a taxa de câmbio se estabilizando entre 4,25 reais por dólar e 4,45 reais por dólar (patamar ainda não alcançado), com risco de consolidação dado o "rápido ritmo" do movimento recente de alta. Dessa forma, estrategistas do banco vão aproveitar quedas do dólar para "comprarem na baixa".
"Estruturalmente, a falta de 'carry' e a natureza unidirecional do posicionamento no mercado de volatilidade nos deixam pessimistas com o real", afirmaram estrategistas do banco suíço em nota.
Já o BNP Paribas acredita em alguma apreciação neste ano, mas ainda limitada.
"Os nossos modelos de taxa de câmbio (BEER e FEER) sugerem que o real está barato no curto prazo", disseram estrategistas do BNP Paribas em nota a clientes. Os profissionais veem uma "potencial" apreciação do real em 2020, mas ditada por fraqueza global do dólar, e não por fundamentos locais. "Com o atual prêmio, o real não vai superar seus pares", concluíram.
O real perde 7,8% ante o dólar no acumulado de 2020, pior desempenho entre 33 divisas. Mesmo moedas consideradas até mais voláteis que o real, como rand sul-africano (-5,8%), lira turca (-1,7%) e peso argentino (-2,4%), se depreciam menos neste ano. Na outra ponta da lista, peso mexicano se valoriza 1,7%.
O dólar à vista fechou em alta de 0,56%, a 4,3506 reais na venda, maior valor nominal já registrado para um encerramento de sessão.
Assim, a moeda voltou a deixar para trás outro recorde, o de 4,3264 reais na venda contabilizado na véspera.
Na máxima durante os negócios, a cotação foi a 4,3543 reais na venda, novo pico intradiário.
Na B3, o dólar futuro tinha ganho de 0,42%, a 4,3530 reais.
A força do dólar no Brasil nesta sessão também veio na esteira de nova alta da moeda dos EUA ante várias outras divisas, conforme persiste a demanda pela segurança do dólar diante dos temores de coronavírus e da maior atratividade dos juros nos Estados Unidos ajustada pelo risco.