Dólar sobe e tem terceira alta semanal consecutiva
"Ideia" do presidente Jair Bolsonaro para furar teto de gastos repercute mal no mercado
Guilherme Guilherme
Publicado em 14 de agosto de 2020 às 09h19.
Última atualização em 14 de agosto de 2020 às 17h23.
O dólar fechou em alta nesta sexta-feira, 14, após o presidente Jair Bolsonaro admitir que “existe a ideia de furar o teto” de gastos. A declaração vai na contramão dos planos de seu ministro da Economia, Paulo Guedes. Em mais uma sessão de alta volatilidade, o dólar comercial subiu 1,1% e encerrou sendo vendido por 4,427 reais. Esta foi a terceira alta semanal da moeda americana contra o real. O dólar turismo encerrou cotado a 5,73 reais.
“Uma hora o Bolsonaro assume que não vai furar o teto, na outra fala que pode ser que isso aconteça. Isso trás insegurança para o mercado”, afirma Jefferson Ruik, diretor de câmbio da Correparti.
Segundo Ruik, esse tipo discurso aumenta os temores sobre a saída de Guedes. “Há o risco de o Guedes se esgotar e pedir o chapéu e, hoje, ele e o presidente do BC [Roberto Campos Neto] são os pilares do governo. Se eles saírem, pode acontecer coisas que é melhor nem pensar.”
Além das declarações de Bolsonaro, a revogação da prisão domiciliar de Fabrício Queiroz, ex-assessor do filho do presidente Flávio Bolsonaro, também aumenta a cautela entre os investidores, que receiam que uma delação premiada aumente a instabilidade política no país.
Ainda no início do pregão, o IBC-BR, conhecido como prévia do PIB, veio acima do esperado, apontando crescimento de 4,89%, em julho. O resultado ajudou a arrefecer a alta da moeda americana, mas por pouco tempo.
O cenário externo tampouco ajudou, com dados econômicos da China e da Europa vindo abaixo do esperado.
Divulgado na noite de ontem, a produção da indústria chinesa teve crescimento anual de 4,8%, em julho, abaixo dos 5,1% esperado. Além disso, os dados de varejo evidenciaram, mais uma vez, a fraqueza da recuperação econômica da China, ficando 1,1% abaixo do mesmo período do ano passado.
Embora a China tenha se esforçado para manter o crescimento econômico por meio de investimentos em infraestrutura, o comércio local continua sofrendo os fortes impactos da pandemia.
Enquanto isso, na Zona do Euro, o PIB do segundo trimestre teve queda anual de 15%.