Disputa pelo comando da Vale prejudica títulos da mineradora
Na semana passada, papéis em dólar da mineradora com vencimento em 2020 tiveram perda de 1%; empresas brasileiras em geral viram ganho de 0,4%
Da Redação
Publicado em 28 de março de 2011 às 08h47.
Nova York/Rio de Janeiro - A investida do governo para destituir Roger Agnelli da presidência da Vale SA e ganhar influência sobre o comando da maior produtora mundial de minério de ferro está prejudicando a rentabilidade dos títulos da dívida da empresa.
Os papéis em dólar da Vale com vencimento em 2020 acumularam perda de 1 por cento na semana passada, enquanto títulos de empresas brasileiras tiveram ganho de 0,4 por cento, de acordo com o índice CEMBI do JPMorgan Chase & Co. Papéis de empresas de países emergentes em geral subiram 0,2 por cento.
Investidores temem que Agnelli -- que transformou a Vale na segunda maior empresa do País, com valor de mercado de US$ 163 bilhões -- seja substituído por alguém disposto a dar prioridade aos projetos preferidos pela Presidente Dilma Rousseff, disse Eduardo Suarez, estrategista de mercados emergentes da RBC Securities em Toronto.
“A Vale prosperou sob a liderança de Agnelli, então uma mudança representa risco”, Ernie Lalonde, diretor sênior de mineração para a agência de classificação de crédito DBRS Ltd, sediada em Toronto, disse em e-mail em 25 de março. “Vemos a Vale como uma empresa que toma decisões de negócios para maximizar o retorno para os acionistas e sempre mantém a parte financeira saudável. Agir por razões políticas enfraquece esse perfil empresarial.”
Dilma poderá substituir Agnelli, 51, com um executivo do próprio quadro da Vale, disse uma pessoa a par da situação, que pediu para não ser identificada porque as conversas não são públicas.
Política
“A decisão sobre a escolha do diretor-presidente da Vale compete exclusivamente aos acionistas controladores da empresa”, disse Agnelli em comunicado divulgado 25 de março. “Não tenho envolvimento com qualquer questão política relativa a este assunto”.
A rentabilidade dos títulos em dólar da Vale com vencimento em 2020 foi de 0,1 por cento nos últimos 30 dias, enquanto os papéis de empresas brasileiras avançaram 1,5 por cento e a dívida corporativa de mercados emergentes teve ganho de 1,2 por cento, segundo o JPMorgan. Papéis com a mesma classificação de risco BBB da Vale se valorizaram 1 por cento no período, de acordo com o Índice LABI do Credit Suisse Group AG.
O rendimento dos títulos da Vale de cupom 4,625 por cento aumentou 14 pontos-base, ou 0,14 ponto percentual, na semana passada para 4,9 por cento, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
Demissão
Também em 25 de março, O Globo publicou que Agnelli iria pedir demissão. A assessoria de imprensa da Vale no Rio de Janeiro disse que a empresa não tem comentários sobre o assunto. A assessoria de imprensa do Ministério da Fazenda também se recusou a fazer comentários.
O destino de Agnelli tem sido motivo de especulação há mais de seis meses. Em setembro, quatro meses antes de Dilma assumir a Presidência da República, O Globo publicou que a Vale nomearia um novo diretor-presidente após um acordo entre o governo, um dos acionistas controladores da empresa, e o Banco Bradesco SA.
Os fundos de pensão Funcef, Previ, Petros e Funcesp detêm 49 por cento da Valepar, a holding que controla a Vale, ou uma participação total de aproximadamente 32,8 por cento. O governo tem uma fatia de 5,4 por cento na Vale, de acordo com o website da empresa.
Agnelli, formado em Economia pela Fundação Armando Álvares Penteado em São Paulo, foi nomeado presidente do Conselho da Vale em 2000, um ano antes de assumir a presidência executiva da companhia. No comando da mineradora, Agnelli fez investimentos de cerca de US$ 52,7 bilhões no período entre 2002 e 2010 -- excluindo aquisições -- para expandir a produção de minério de ferro para um recorde de 307,8 milhões de toneladas no ano passado, segundo documentos entregues às autoridades reguladoras.