Campo de exploração de petróleo: sauditas estariam dispostos em ampliar sua produção em 20%, inundando o mercado num momento de demanda em baixa (Christian Hartmann/Reuters)
Gabriela Ruic
Publicado em 8 de março de 2020 às 21h49.
Última atualização em 8 de março de 2020 às 22h19.
Como se o coronavírus não fosse suficiente, a economia global ganhou uma nova frente de tensão neste domingo (08). A maior petroleira do mundo, a saudita Saudi Aramco, anunciou que tem planos de cortar seus preços, levando o petróleo a uma queda de 20%, para os menores valores desde 2016.
O petróleo brent, que começou o ano negociado em 66 dólares e terminou a semana na casa dos 45 dólares, bateu 36 dólares para contratos futuros com vencimento em maio de 2020.
A queda drástica no preço do petróleo neste domingo intensifica os temores de que o coronavírus afetará de forma drástica a demanda global, numa escala maior, e a indústria de óleo e gás, mais especificamente.
O anúncio saudita é considerado mais uma avanço numa disputa com a Rússia, segundo fontes do jornal americano The Wall Street Journal. Num cenário de queda no consumo do insumo, os sauditas, que detêm a produção mais eficiente do planeta, tentam tirar participação de mercado de alguns competidores importantes, como a Rússia.
Na sexta-feira os dois países, junto com seus aliados no organização dos países exportadores, a Opep, não chegaram a um acordo para segurar a produção e o preço, com o temor de um esfriamento econômico provocado pelo coronavírus. A meta era anunciar um novo corte diário de até 1,5 milhão de barris. Mas a Rússia não topou.
Segundo a CNBC, o mercado global de petróleo está preso numa “épica batalha de egos”
Sem o acordo, os sauditas decidiram virar a mesa sozinhos. "A Rússia se opôs a cortes adicionais na produção porque seu orçamento é supostamentee mais bem preparado para preços baixos do petróleo do que os restante dos países", escreveu Thiago Duarte, analista de energia do banco BTG Pactual.
A disputa, explica Duarte, vai além da capacidade de extrair óleo barato -- terreno em que os sauditas são imbatíveis. Mas os custos adicionais de manutenção do reino saudita demanda que o petróleo ficque na casa dos 85 dólares, ante 45 dólares para os russos. Segundo algumas fontes, os sauditas estariam dispostos a ampliar sua produção em 20%, inundando o mercado num momento de demanda em baixa.
"Esta é uma disputa com sérias consequências em diversos setores e que tem como objetivo indireto atacar o avanço de companhias de shale gás nos Estados Unidos que vinham conseguindo ganhar market share no mercado de energia", diz André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton.
A previsão de analistas e investidores é de esta segunda (09) seja mais um dia caótico nas bolsas globais e nas mesas de negociação. As ações da Petrobras estão em queda de 30% no ano, com os desdobramentos do coronavírus e as incertezas sobre o crescimento da economia brasileira em 2020.
Segundo a Necton, as ações Petrobras podem cair 12,4%, num cenário mais contido, ou até 25% em relação ao patamar atual, num cenário mais extremo. O certo é que, com as novas notícias, tanto a estatal, quanto a bolsa brasileira, devem ter uma segunda-feira de alta octanagem.