De olho nos estrangeiros
Observar o fluxo de investimentos internacionais foi o segredo do ABN Amro Real para controlar o risco de seus fundos
Da Redação
Publicado em 13 de outubro de 2010 às 21h03.
O prêmio de melhor gestor de fundos alavancados destina-se à instituição financeira cujos profissionais foram mais eficazes em andar na corda bamba. Lidar com esses fundos com competência requer a aplicação precisa das técnicas de administração de risco. A premiada deste ano é a empresa de administração de recursos do ABN Amro Real, que tradicionalmente tem apresentado bons resultados nesse segmento. Além desse prêmio, o ABN ficou em segundo lugar na classificação geral do Guia EXAME de Investimentos Pessoais. Dos 69 fundos do banco analisados nesta edição, 16 foram premiados, cinco deles alavancados. Essa categoria engloba todos os fundos -- de ações, multirriscos ou renda fixa -- que usam contratos derivativos e podem expor o investidor a riscos elevados. "Nos momentos de mercado mais volátil, como o que vivemos a partir de maio, é essencial tomar mais cuidado com o dinheiro do investidor", diz Luciane Ribeiro, principal executiva da empresa de gestão de recursos do banco holandês.
A fórmula do ABN Amro foi apoiar-se na abrangência internacional do banco. "Podemos usar as informações dos profissionais da Europa, dos Estados Unidos e da Ásia para tomar nossas decisões", diz o engenheiro Eduardo Castro, de 38 anos, responsável pela estratégia de investimentos dos fundos. Graças a isso, ele e sua equipe conseguiram antecipar sinais de que algo não ia bem com o apetite dos investidores internacionais. Como eram os estrangeiros que vinham sustentando a euforia do mercado brasileiro, já se sabia que uma redução de suas compras acabaria tendo efeito nocivo sobre os preços. Essa percepção fez com que a estratégia mudasse. "Até março, investíamos principalmente olhando para o cenário macroeconômico, que é positivo", diz Castro. "Depois, a importância do cenário diminuiu nas nossas decisões e passamos a trabalhar muito mais observando se os estrangeiros compravam ou vendiam." Quando a crise chegou, o ABN já havia reduzido bastante suas posições, preservando os bons resultados que os fundos haviam acumulado até então. "Decidimos sair da festa enquanto ela ainda estava animada", diz Castro. "Abrimos mão de uma fração do ganho em abril, mas nos defendemos das perdas de maio."
Os melhores de alavancados | ||
Gestor | Patrimônio no Guia (R$ milhões) | Nota Final(1) |
1 - ABN Amro Real | 706,1 | 82,8% |
2 - Unibanco | 2 372,1 | 67,4% |
3 - Votorantim | 459,0 | 65,3% |
4 - Itaú | 2 963,1 | 12,8% |
5 - Bradesco | 297,3 | 10,0% |
(1) Anota de um gestor varia de 0% a 100% e é calculada pela relação entre o patrimônio premiado com 5 e 4 estrelas e o patrimônio total administrado Fonte: Centro de Estudos em Finanças da FGV/Eaesp |
Para poder sair rapidamente da festa, o ABN optou por comprar títulos mais negociados. "Nossa opção foi por papéis que pudessem ser rapidamente vendidos", diz Sidney Uejima, responsável pela gestão de fundos multirriscos do ABN. O mesmo raciocínio sustentou as decisões dos fundos de ações: reduzir o peso das apostas antes que o mercado virasse. "A bolsa foi a que mais sofreu quando os estrangeiros reduziram seus investimentos", diz Sandra Petrovsky, gestora dos fundos de ações do ABN. Mesmo com a turbulência recente nos mercados, a bolsa permanece uma boa alternativa de investimentos, diz Sandra. "A crise foi provocada pela inversão do fluxo de dinheiro, não por uma piora dos fundamentos da economia brasileira", diz. "Acreditamos que a bolsa deverá ser uma excelente alternativa até o fim deste ano."