Coronavírus, na China: nova leva de incertezas na segunda maior economia do mundo pode afetar decisões de política econômica em outros países (Kim Kyung-Hoon/Reuters)
Da Redação
Publicado em 28 de janeiro de 2020 às 07h22.
Última atualização em 28 de janeiro de 2020 às 10h07.
São Paulo — Um novo dia, uma nova onda de tensão nas bolsas globais causada pelo coronavírus. A ameaça de uma epidemia global é o grande tema de discussão desta terça-feira, e deve seguir dando o tom nas mesas de negociações. Autoridades chinesas disseram que o número de mortos no país já chegou a 106, e que há mais de 4.500 pessoas infectadas.
O diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS) disse hoje em Pequim que confia na China para evitar uma pandemia, uma epidemia de escala global. A OMS revisou seu relatório anterior sobre o coronavírus, que falava de risco "moderado". Agora, a agência afirma que o risco é "muito alto" na China e "alto" no resto do mundo. A lenta reação da agência é alvo de fortes críticas de especialistas.
Também nesta terça-feira o governo chinês anunciou o envio de mais 6.000 médicos a Wuhan, cidade que concentra os casos, estendeu o feriado de ano novo e adiou a retomada de atividades de bolsas de valores e das escolas.
Países como França e Estados Unidos estudam enviar aviões a Wuhan para retirar seus cidadãos da cidade. O embaixador brasileiro Paulo de Mesquita afirmou à GloboNews que ainda não trabalha com a possiblidade de retirar os 47 cidadãos do país de Wuhan, e disse ainda que voos de evacuação ainda não foram autorizados.
O impacto para a economia global pode ser imediato, com a queda na produção de fábricas e na compra de insumos como carne, soja e minério de ferro. A queda nos gastos de chineses com transportes e turismo também pode ter impacto global.
A agência de classificação de risco S&P calcula que o crescimento esperado do PIB chinês para 2020 pode cair de 6% para 4,8% caso o consumo das famílias despenque 10% este ano na China. Em 2003, a epidemia de Sars derrubou o crescimento do país de mais de 11% para 10% no ano.
A nova leva de incertezas na segunda maior economia do mundo pode afetar decisões de política econômica em outros países. Nesta terça-feira o Fed, o banco central americano, começa uma reunião de dois dias para decidir a nova taxa básica de juros do país. A expectativa é de manutenção da taxa atual de 1,5% a 1,75%.
Mas aumentam as dúvidas sobre a indicação do Fed para o médio prazo -- uma queda no ritmo global poderia ser um estímulo extra para nova redução nos juros, atendendo a reiterados pedidos do presidente Donald Trump.
As incertezas sobre o coronavírus devem continuar dando o tom nos mercados, com aumento no pessimismo no médio prazo. Mas esta terça-feira pode ser dia de "correção", após a elevada queda de ontem no Ibovespa, de 3,3%. A única certeza, neste cenário, é o aumento da volatilidade: o Vix, índice que mede a volatilidade global, subiu quase 30% na segunda-feira, mas cai cerca de 2% nesta terça.