Constellation lança fundo com empresas inovadoras. Entenda a estratégia
Constellation Inovação FIA BDR Nível 1 concentra investimento em companhias transformadoras em seus setores e sobe 58% em sete meses
Da Redação
Publicado em 4 de janeiro de 2021 às 06h30.
Em 2020, a palavra inovação se tornou quase uma premissa obrigatória para a sobrevivência, seja na busca por vacinas para enfrentar o avanço da pandemia, seja no desenvolvimento de soluções para a reinante forma de consumo das pessoas – à distância.
Uma transformação desse tamanho não poderia ficar distante dos gigantes, e uma das mais tradicionais gestoras do Brasil se lançou no tema: a Constellation Asset. Desde junho passado, está na praça o novo fundo da casa, dedicado às teses de inovação no país e no exterior, o Constellation Inovação FIA BDR Nível 1.
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Em geral, o assunto inovação automaticamente leva a pensar que se trata de um fundo voltado para o setor de tecnologia. Não é. O objetivo da Constellation é localizar as companhias que lideram o processo de desenvolvimento e transformação em seus setores.
A tecnologia é um caminho, mas não a finalidade em si: uma empresa varejista utiliza a tecnologia para ampliar sua presença digital, mas ainda é uma varejista; uma instituição financeira desenvolve aplicativos para garantir aos clientes comodidade para investir no mercado, mas ainda é uma empresa financeira.
Fruto da concentração na tese das “empresas do futuro”, um universo de aproximadamente 15 companhias, o fundo acumulou alta de 58% de junho até o último dia 28.
“Inovação tem uma sobreposição com tecnologia, mas não são a mesma coisa”, afirma Marcello Silva, sócio da Constellation e um dos membros do comitê de investimento da casa, que decide para onde vai o dinheiro. “É claro que você precisa de uma infraestrutura tecnológica para oferecer o seu produto, mas, quando olhamos para a história de várias empresas, a inovação foi no modelo de negócio. A tecnologia foi a ferramenta.”
A ideia de lançar um fundo temático nasceu como um subproduto de uma estratégia que já está no DNA da casa: a análise de empresas. No conceituado Constellation FIA, um fundo de ações com estratégia “long only” (apenas comprado) em ações, a decisão de investimento é tomada observando-se não só a empresa em si, mas suas concorrentes.
Daí que para decidir entrar no Magazine Luiza , por exemplo, gestores e analistas do fundo também se dedicam a analisar o Mercado Livre – mas são, por determinação do regulamento do fundo, limitados de investir na companhia, que é estrangeira.
“Notamos, aos poucos, que tínhamos um índice de acerto interessante nesse assunto, que passou a fazer cada vez mais parte do nosso universo de investimento. Com o aprofundamento da equipe, passamos a ter convicção para fazer um produto dedicado [ao tema] e com um mandato diferente. Tem companhias de que gostamos muito, mas não são elegíveis para o ‘flagship’ [fundo principal], como os negócios internacionais”, diz Silva.
No seu último texto de 2020 para a EXAME , o admirado CEO da Constellation, Florian Bartunek, abordou o guia para investir (e não para prever) em 2021. E lá está bem claro: “esteja preparado e atento às transformações de modelo de negócios”. As empresas tiveram que se readaptar rapidamente, com a pandemia, não só para novos canais digitais de atendimento como tiveram que ter mais eficiência nesse atendimento, com clientes mais exigentes, prazos mais apertados e concorrentes musculosos.
“Era óbvio que a demanda por e-commerce ia crescer na pandemia, mas não era óbvio que a logística ia acompanhar. Algumas empresas já estavam investindo nessa área crítica há anos e aproveitaram a crise como oportunidade. E o time que fez isso já está pensando em como dobrar o tamanho da empresa de novo”, diz Silva. “Não estamos nem na metade do processo de digitalização da economia, estamos no começo do processo.”
Para quem se pergunta se essas empresas estão “caras demais” na hora de decidir investir ou não, o sócio da Constellation vai mais na longe.
“Esse é um processo de décadas”, afirma, citando como exemplo a Amazon, “que gera valor ininterruptamente há 22 anos”, ou o Mercado Livre, que está no portfólio da gestora há quatro anos e já registrou oito quedas acima de 20% nesse intervalo, um verdadeiro teste de convicção.
“Você pode ter correções de curto prazo, mas, se a gente não estivesse olhando para as métricas da construção de um negócio, poderíamos ter abandonado uma oportunidade importante de geração de valor”, diz.
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Entre outros exemplos de companhias do universo de investimento do fundo está a Natura. Soa estranho? Não na visão da Constellation. Para eles, a Natura já estava em uma jornada de digitalizar consultoras, um processo que foi acelerado de forma intensa pela pandemia, além de trabalhar orientada por exigências cada vez mais presentes entre os consumidores, como princípios sociais e de governança corporativa.
“Com canais de vendas digitalizados, o que mais pode ser feito? Você tem um conduíte de milhões de pessoas, pensa em produtos novos e serviços de forma mais criativa. Por que não, eventualmente, produtos de crédito, por exemplo? A partir do momento em que você tem uma infraestrutura tecnológica, você pensa de forma criativa para geração de valor. Isso é inovar”, afirma Silva.
A estratégia de inovação da Constellation só é acessível, hoje, a investidores qualificados (com mais de 1 milhão de reais em investimentos), tanto para que o fundo cresça de forma controlada e equilibrada quanto pelo benchmark usado para cobrança de performance, que não é de renda variável: 20% sobre o que exceder o IPCA mais yield do IMA-B 5+ (o juro real, medido pelo índice da Anbima ligado às NTN-Bs com vencimento acima de cinco anos).
Pela estrutura atual, o fundo pode aplicar até 40% dos recursos diretamente fora do Brasil e investir ilimitadamente em BDRs (recibos de ações estrangeiras negociados no Brasil). O prazo de resgate é de 60 dias.
*Juliana Machado é especialista em fundos de investimento da EXAME Research, a casa de análise de investimento da EXAME.