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Com 10 altas em 11 pregões: até onde vai o rali da Vale?

Para analistas, papéis da mineradora ainda estão descontados em Bolsa; no mês, a alta acumulada chega a 30%

(Washington Alves/Reuters)
PB

Paula Barra

Publicado em 27 de novembro de 2020 às 08h21.

Última atualização em 30 de novembro de 2020 às 11h21.

As ações da Vale (VALE3) caminham nesta sexta-feira, 26, para sua décima alta em onze pregões, renovando mais uma vez seu recorde histórico na Bolsa, cotadas perto de 78,52 reais. No mês, o papel acumula ganhos de 29,6%, contra uma valorização de 18,3% do Ibovespa. Apesar do forte movimento, analistas ainda veem espaço para o papel andar.

“Vale estava muito descontada em Bolsa e a melhora do minério de ferro, devido a uma demanda mais forte da China, refletiu rapidamente na cotação das ações. Mas os papéis ainda estão muito descontados quando comparados com seus pares internacionais, como as australianas BHP e Rio Tinto”, comenta o analista Bruno Lima, da Exame Research, que ainda vê espaço para o papel subir.

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Segundo ele, a curva de preços futuros do minério de ferro segue acima das expectativas. “Há um mês, a curva futura dos preços da commodity estava em 95 dólares a tonelada para 2021, agora, está próxima de 110 dólares para o ano que vem inteiro. O mercado está reprecificando isso”. E um dos catalisadores para esse movimento foram justamente notícias sobre avanços de vacinas, que dão uma percepção de que a demanda por commodities vai voltar à normalidade, explica.

Além disso, tem alguns outros pontos importantes para essa alta recente de Vale, comenta, como o anúncio do retorno do pagamento de dividendos. “Obviamente, isso também ajudou bastante, dado o forte fluxo de caixa esperado para a empresa. O mercado tinha posição no papel, mas não tanta assim. Com o anúncio, a companhia se tornou uma posição mais nítida de blue chip, com liquidez, e com possibilidade de gerar bastante caixa pela frente”.

Na última segunda-feira, 23, o BTG Pactual reiterou Vale como sua preferida no setor de metais e mineração na América Latina, assim como reafirmou a recomendação de compra para seus American Depositary Receipts (ADRs). O preço-alvo foi elevado de 14,00 dólares para 17,00 dólares, representando um potencial de valorização de 18,8% frente ao fechamento de ontem.

-(BTG Pactual Digital/Divulgação)

Segundo os analistas Leonardo Correa e Caio Greiner, que assinam o relatório, um dos principais pilares do case de investimento em Vale é a retomada da política de dividendos e potencial retorno de caixa ao longo do ciclo. "Alguns meses atrás, a Vale pagou dividendos de 3,3 bilhões de dólares (rendimento de cerca de 5% à época, com 1 bilhão de dólares em dividendos extraordinários). Em nossa opinião, esse é apenas o começo da história de rendimento".

Para eles, mesmo se os preços do minério de ferro corrigissem em cerca de 20% frente ao patamar atual, para perto de 100 dólares a tonelada, a Vale ainda assim poderia entregar um dividend yield (dividendos sobre o preço da ação) substancial de 13% em dólares, incluindo aproximadamente 5% em rendimentos extraordinários. "Acreditamos que isso não está no preço".

Há também expectativas por um acordo para o imbróglio entre a mineradora e o governo de Minas Gerais sobre o rompimento de barragem em Brumadinho. “É esperado que a Vale e o governo de Minas cheguem a uma solução definitiva, o que tiraria mais um risco da frente”, comenta Lima.

Na última audiência sobre o caso, realizada na metade deste mês, o governo de Minas rejeitou a proposta apresentada pela Vale de cerca de 21 bilhões de reais para reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem, conforme reporta a imprensa. O montante é praticamente metade do valor pedido pelas autoridades do estado (de 54 bilhões de reais). Uma nova audiência foi marcada para 9 de dezembro.

Para os analistas do BTG, as notícias recentes reforçam os desafios que a empresa enfrenta para fechar uma estrutura de acordo justa e abrangente, mas não acreditam que esses ruídos sejam um obstáculo para o elevado retorno de caixa esperado para 2021.

Eles argumentam que, mesmo se a Vale fechar um acordo multibilionário, isso poderia ter um impacto positivo nos papéis, levando a um "re-rating" (revisão para cima nas recomendações). "Muitos podem observar um acordo com as autoridades como um catalisador, já que todas as questõe seriam resolvidas e, finalmente, a página seria virada". Adicionalmente, mencionam que, no balanço do 3º trimestre, a Vale fez provisões de 3,1 bilhões de dólares, sendo 1,57 bilhão de dólares para descaracterização de barragens de rejeitos e 1,55 bilhão de dólares para acordo e doações. Portanto, "se for fechado um acordo com o governo, parte já está provisionada".

Em relatório do início desta semana, os analistas Thiago Lofiego e Isabella Vasconcelos, do Bradesco BBI, destacaram, após conferência anual com líderes das empresas do setor de materiais básicos, que contou com a presença da Vale, que a getão da empresa mencionou que parece estar indo na direção certa para um acordo, embora não tenha mencionado um valor potencial. Eles apontam também que a companhia mencionou que os dividendos mínimos em março e provavelmente em setembro de 2021 serão expressivos, enquanto proventos extraordinários não foram descartados.

O Bradesco BBI segue com o ADR da Vale como seu top pick no setor de materiais básicos na América Latina. A recomendação é outperform, equivalente a compra. Para eles, o papel da mineradora segue em patamar de preços muito atrativo, combinado com um alto potencial de dividendos pela frente.

No começo do mês, a EXAME Research elevou a participação dos papéis da Vale na carteira de ações para novembro. No portfólio, assinado por Lima, a mineradora passou a representar a maior fatia individual, com 15% de participação.

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