Cazaquistão: o banco central da antiga república soviética apostou contra a moeda antes da surpreendente decisão do Reino Unido (Alain Jocard / AFP)
Da Redação
Publicado em 8 de julho de 2016 às 18h50.
Chega para lá, George Soros. O Cazaquistão está reivindicando o título de especulador mais visionário em relação à libra.
O banco central da antiga república soviética apostou contra a moeda antes da surpreendente decisão do Reino Unido, em referendo realizado no mês passado, de deixar a União Europeia, disse o presidente da autoridade monetária, Daniyar Akishev, em entrevista, nesta sexta-feira.
Soros, famoso por ter quebrado o Banco da Inglaterra em 1992 e recolhido um lucro de US$ 1 bilhão na ocasião, não repetiu a aposta no histórico referendo do Brexit, segundo um porta-voz.
Akishev, que administra quase US$ 100 bilhões em ativos em moeda estrangeira, disse que o banco abriu uma posição comprada a 1,4350 libra por dólar antes do referendo “com base na expectativa de volatilidade do mercado”. A libra caiu mais de 8 por cento em 24 de junho, chegando a US$ 1,3229, nível mais baixo desde 1985, depois que os britânicos decidiram pela saída da UE. A moeda teve novo declínio nesta semana, superando o nível atingido no rescaldo do referendo.
O banco central “abandonou completamente” a posição a 1,4920 um dia antes do anúncio do resultado do referendo, disse ele em Almaty, a capital comercial do Cazaquistão.
O presidente da autoridade monetária não informou quanto o banco mantém em libras, apenas que 10 por cento dos títulos de renda fixa das reservas do país são denominados na moeda.
Pior moeda
Os investidores enfrentarão meses de incerteza após o referendo.
As mecânicas e as condições da saída do Reino Unido ainda não foram determinadas e não se sabe como ficará a liderança política do país durante as negociações de saída da UE após o anúncio da renúncia do primeiro-ministro David Cameron.
A libra, que tem o pior desempenho do mundo no ano entre as moedas mais importantes, apresenta uma das melhores performances em relação ao dólar nesta sexta-feira.
A moeda britânica subia 0,4 por cento, para US$ 1,2961, caminhando para uma terceira semana de declínios.
A libra está em baixa de 2,3 por cento nesta semana e de 12 por cento no ano, maior queda entre 16 moedas.
O Cazaquistão, maior produtor de energia da Ásia Central, busca preservar e ampliar os retornos sobre suas reservas, que subiram de menos de US$ 1 bilhão em meados dos anos 1990 para US$ 30,5 bilhões no final do mês passado.
O fundo nacional do petróleo, cujos ativos também são gerenciados pelo banco central local, mantinha outros US$ 65,7 bilhões, segundo Akishev.
O país de 17 milhões de habitantes, que faz fronteira com a Rússia e a China, também tem procurado investir nos mercados emergentes, inclusive na China, para diversificar seus ativos e escapar dos efeitos da crise de dívida europeia e da flexibilização monetária global.
O banco central planeja ampliar suas posições em títulos soberanos chineses em 52 por cento, segundo Akishev.
O país mantinha cerca de 655,7 milhões de yuans (US$ 98 milhões) em títulos chineses em 1º de julho, disse ele.