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Caso Americanas: Temos a maior fraude da história corporativa do Brasil, diz Verde

Para gestora de Stuhlberger, o trio 3G, que é acionista de referência da varejista, tem preferido se manter em silêncio em vez de fazer aportes para reparar sua reputação

Americanas: "beira o inacreditável que somente 23 dias após o fato relevante, que alguém da companhia, seja na área financeira, seja na alta gestão, tenha sido afastado", diz a Verde (Leandro Fonseca/Exame)

Americanas: "beira o inacreditável que somente 23 dias após o fato relevante, que alguém da companhia, seja na área financeira, seja na alta gestão, tenha sido afastado", diz a Verde (Leandro Fonseca/Exame)

A Verde, gestora comandada pelo veterano Luis Stuhlberger, adotou tom duro sobre o caso Americanas, afirmando ser a “maior fraude da histórica corporativa do Brasil”.  

Apontou também para os três controladores, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira. Para a gestora, eles "claramente escolheram a opção financeira” ao optarem por se manter em silêncio diante da possibilidade de fazer aportes para “reparar um pedaço substancial da fraude ou preservar sua reputação/legado”. 

“Fomos vítimas de uma fraude”, escreve a gestora em sua carta de janeiro. A gestora destaca a demora da empresa em afastar a direção da companhia, que levou 23 dias para suspender a alta gestão.  

“Temos a maior fraude da histórica corporativa do Brasil, um buraco de mais de vinte bilhões de reais, e a gestão financeira da companhia (com exceção da recém empossada CFO) continuou sendo feita pelas mesmas pessoas durante todo o período seguinte”, observa a gestora.  

A Verde argumenta que a recuperação judicial da companhia será “um processo longo, ruidoso ao fim do qual os únicos ganhadores serão os (inúmeros) advogados envolvidos”. Para a gestora, quanto mais tempo levar, menor a chance de alguma recuperação relevante para a companhia e seus stakeholders.  

Mea culpa 

Na carta, a gestora também se permite um tímido mea culpa, mas coloca o trio 3G novamente no centro do debate, além, é claro, das auditorias da Americanas: PwC e KPMG.  

“Quem investe em crédito sabe que este tipo de risco existe. O processo de diligência bem-feito deveria mitigá-lo, mas nunca é possível escapar totalmente do risco da fraude. Como gestores, nosso dever é buscar falhas em nosso processo de investimento e aprimorá-lo a partir dos aprendizados desse caso. Mas estávamos falando de uma companhia com longo histórico, controlado por três acionistas considerados (até então) os melhores gestores de negócios do país, e com balanços auditados por uma das principais empresas do setor.” 

Investimento na Americanas 

As debêntures da varejista estavam entre os ativos investidos pelo Fundo Verde. O fundo teve um prejuízo de 14 pontos-base com a varejista. Ao fim de janeiro, a posição do fundo estava marcada em torno de 13% do valor de face. 

O primeiro investimento foi feito em 2020, no auge da volatilidade dos spreads de crédito por conta da chegada da pandemia.  

“Adquirimos debêntures numa emissão primária a CDI+3,00%, com vencimento em três anos. Cinco meses depois, com a redução da volatilidade do mercado de crédito, vendemos esses papéis por uma taxa de CDI+1,50%, um spread alinhado com o histórico de captação da companhia antes da covid.” 

Na sequência, em outubro de 2020, investiu em outra debênture da companhia, desta vez uma emissão de dez anos em IPCA usada para internalizar recursos de uma captação externa. Compraram as debêntures a IPCA+7,40%, e apenas três meses depois, venderam no mercado secundário esses mesmos papéis por uma taxa de IPCA+5.51%, “gerando um retorno bastante interessante para o fundo”.  

O terceiro investimento do fundo em debêntures da Americanas veio em junho de 2022 e foi o fatídico para as perdas. A companhia fez uma emissão de R$ 2 bilhões a CDI+2,75% com vencimento em onze anos. “Decidimos investir por considerar que havia um excesso de spread em relação a empresas comparáveis e ao próprio histórico da companhia.” 

A gestora diz que, como em todo investimento de crédito do fundo, analisou o balanço da companhia, que mostrava um endividamento líquido de menos de três vezes o EBITDA. Também analisou o histórico da companhia, seus acionistas controladores, time de gestão e as perspectivas do negócio.  

“Com isso, alocamos em torno de 15bps do capital do fundo nestas debêntures (a exposição total de crédito representa por volta de 10% do fundo hoje). E, infelizmente, como todo o mercado brasileiro, fomos surpreendidos pela notícia divulgada pelo recém-empossado CEO da companhia, Sérgio Rial, no dia 11 de janeiro, que causou um colapso no preço das ações, bonds e debêntures da companhia, e levou poucos dias depois, ao pedido de Recuperação Judicial.” 

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