Bandeiras dos EUA, da China e do Partido Comunista chinês em mercado de Yiwu, na China 10/05/2019 REUTERS/Aly Song (Aly Song/Reuters)
Tais Laporta
Publicado em 5 de agosto de 2019 às 17h27.
Última atualização em 5 de agosto de 2019 às 17h43.
Poucos ativos ficaram a salvo da turbulência que tomou conta dos mercados nesta segunda-feira (5). Bolsas de todas as partes do mundo operaram no vermelho, enquanto as moedas de países emergentes perderam valor frente ao dólar, reagindo à piora nas tensões comerciais entre as duas maiores economias globais.
Não foi diferente no Brasil. O maior índice de ações da bolsa brasileira, o Ibovespa, quase perdeu o patamar dos 100 mil pontos. Recuou 2,51%, aos 100.097 pontoscom quase todas as ações listadas em baixa. A exceção foi a processadora de carnes Marfrig, que subiu 0,73%. A queda da bolsa foi intensificada pela mineradora Vale, que perdeu mais de 4%, sofrendo os efeitos do tombo no minério de ferro. A Petrobras perdeu acima de 3%, após o barril de petróleo despencar no mercado internacional.
Já o dólar avançou 1,68% frente ao real, negociado a R$ 3,9572 – alcançando a maior cotação desde maio. Na máxima do dia, alcançou 3,9645.
Mais cedo, a segunda maior economia do mundo contra-atacou Donald Trump em resposta à imposição, na semana passada, de novas tarifas sobre seus produtos. O país asiático desvalorizou sua moeda, o yuan, para o menor nível em uma década, e proibiu as importações de produtos agrícolas norte-americanos.
A piora das tensões entre os dois países elevou os temores de uma desaceleração global e provocou uma corrida de investidores para longe dos ativos de maior risco e fortalecendo o dólar.
A decisão da China de deixar o iuan se desvalorizar sinaliza que a atual disputa comercial pode evoluir para uma guerra cambial, injetando volatilidade nas moedas e aumentando a pressão sobre os mercados globais. A disposição da China de usar sua moeda para compensar o impacto de uma disputa comercial que já dura um ano é de enorme importância simbólica, se não econômica: mostra que o país asiático está preparado para usar sua taxa de câmbio como uma ferramenta para responder de maneira assimétrica às tarifas de Trump.
Mesmo com a expectativa de retomada na votação da reforma da Previdência em segundo turno da Câmara esta semana, a tensão mundial deve prevalecer sobre os mercados no Brasil, destaca a analista de investimentos da Coinvalores, Sabrina Cassiano. “Ainda que tenha uma agenda de reformas positiva, o nível de hostilidade e a forma brusca das ameaças trazem um nível de incertezas muito forte”, afirma.
O fato de a economia brasileira estar muito atrelada às commodities é um agravante deste quadro. Da perspectiva de crescimento global, também há motivo de preocupação para o Brasil, que tem a China e os EUA como grandes parceiros comerciais.
Esse cenário, acrescenta Sabrina, pode levar inclusive a uma inversão do que foi visto no mês passado, quando a bolsa brasileira praticamente se descolou da tendência do exterior e passou a oscilar quase que exclusivamente ao sabor da agenda de reformas. “O cenário doméstico se sobressaiu, agora vemos uma reversão de tendência”, diz.
A volatilidade nas próximas semanas é dada como quase certa, visto que qualquer surpresa sobre a tensão comercial, seja trazendo algum alívio ou agravando ainda mais o cenário, deve mexer com o sentimento dos investidores.
Em reação à escalada das tensões, hoje foi dia de queda generalizada nos ativos globais, com exceção dos que são considerados como "porto seguros" dos investimentos. As bolsas asiáticas terminaram no vermelho, enquanto os índices europeus fecharam no nível mais baixo em dois meses.
Nesta tarde, o índice MSCI para ações globais recuava 2%, sua maior queda desde fevereiro de 2018. Em Wall Street, o S&P 500 recuava 2,8%, enquanto o Nasdaq Composto marcava baixa de 3,4%, nas maiores perdas diárias desde dezembro do ano passado.
O VIX, índice que mede a volatilidade nos mercados, subiu 35% nesta segunda e atingiu o maior patamar desde o início deste ano.
Ativos como o ouro, tiveram forte valorização. O metal precioso alcançou o maior valor em seis anos, para 1.462,40 dólares por onça-troy, diante dos temores comerciais. “A aversão ao risco está se espalhando nos mercados financeiros, e isso é algo que definitivamente ajuda o ouro”, disse à Reuters Carsten Menke, analista da Julius Baer.
Na contramão da maior parte dos ativos globais, a moeda digital bitcoin chegou a valorizar mais de 11% nesta segunda-feira (5), negociada a 11.903 dólares. Outras criptomoedas também seguiram o movimento de alta. Historicamente, o bitcoin tem uma baixa correlação com outras classes de ativos, mas a cotação vem caminhando na direção oposta das bolsas asiáticas. Analistas não descartam a possibilidade de esta valorização estar relacionada com uma fuga de capital da China.
O iene japonês, considerado um ativo de segurança, subiu para máxima em sete meses, com o dólar cotado abaixo de 106 ienes.