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Cai a confiança em cumprimento da meta de inflação por Tombini

A diferença entre as taxas dos contratos de juros futuros com vencimento em 2013 e 2021 dispararam ontem para um recorde de 167 pontos-base

Contratos indicam que operadores esperam que o BC reverta o movimento de corte de juros nos próximos anos (Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)

Contratos indicam que operadores esperam que o BC reverta o movimento de corte de juros nos próximos anos (Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)

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Da Redação

Publicado em 27 de janeiro de 2012 às 10h43.

Brasília - Os investidores estão perdendo a confiança na capacidade do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, de conter a inflação depois que o Comitê de Política Monetária sinalizou que pretende reduzir a taxa básica de juros para menos de 10 por cento este ano.

A diferença entre as taxas dos contratos de juros futuros com vencimento em 2013 e 2021 dispararam ontem para um recorde de 167 pontos-base, indicando que operadores esperam que o BC reverta o movimento de corte de juros nos próximos anos, para segurar a inflação.

As taxas dos contratos com vencimento em janeiro de 2013 caiu 18 pontos-base, ou 0,18 ponto percentual, mais do que os 12 pontos-base de queda das taxas dos contratos para 2021, depois que o Copom disse, na ata da sua última reunião, divulgada ontem, que considera “elevada” a possibilidade de que a Selic caia para um dígito.

O Copom presidido por Tombini já cortou a Selic em 200 pontos-base, ou 2 pontos percentuais, desde agosto, para 10,5 por cento, para sustentar a expansão da maior economia da América Latina, parte do esforço dos países em desenvolvimento para se manter na rota de crescimento em meio à crise da dívida europeia.

A inflação no Brasil caiu para 6,44 por cento ao ano, de seu maior nível em seis anos atingido em setembro, ainda acima do centro da meta do governo, de 4,5 por cento ao ano medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo. Economistas e investidores estão prevendo que as remarcações de preços vão levar ao estouro da meta até 2015.

Juros futuros

“O abismo é que o mercado está dizendo que você pode colocar os juros em nove ou onde quer que seja, mas você não vai mantê-la lá”, disse Tony Volpon, estrategista para América Latina da Nomura Holdings Inc. “Minha projeção é de que a taxa vai para 9 por cento, e depois volta a 11. Você pode ser evasivo sobre os números, mas o caminho é muito claro.”

Tombini vai cortar a Selic para 9,75 por cento até maio, segundo os contratos de juros futuros. Ele já baixou a taxa básica quatro vezes desde agosto. O Brasil tem a maior taxa de juros real do G-20, em 4 por cento.

A diferença de taxas entre as Notas do Tesouro Nacional da série B, que são atreladas à inflação, e os contratos de juros futuros, que mede a expectativa dos investidores para o avanço anual dos preços ao consumidor nos próximos três anos, estava em 5,82 pontos percentuais ontem, comparado a 5,69 pontos há um mês. A meta de inflação é de 4,5 por cento, com tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo, referência para a meta, atingiu 7,3 por cento nos 12 meses até setembro.

Medidas

A inflação anual, que foi de 6,5 por cento em 2011, vai cair para 5,29 por cento até o fim deste ano, para 5 por cento até 2013 e para 4,6 por cento até 2015, de acordo com a pesquisa do BC com economistas de 20 de janeiro.


Medidas do governo para reduzir a relação entre dívida pública e Produto Interno Bruto e a expansão dos mercados de crédito, dão às autoridades espaço para diminuir ainda mais os juros, de acordo com a ata da reunião do Comitê de Política Monetária de 17 e 18 de janeiro, que foi divulgada ontem.

O Copom também afirmou que o crescimento econômico se desacelerou além do esperado no segundo semestre do ano passado e que a solução para a crise da dívida na Europa foi adiada. O Copom “atribui elevada probabilidade à concretização de um cenário que contempla a taxa Selic se deslocando para patamares de um dígito.”, segundo a ata.

‘Elástica’

O governo fará um corte no orçamento deste ano para viabilizar o superávit primário cheio e uma política monetária mais “elástica”, disso o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a repórteres nesta semana. O governo espera que o crescimento econômico se acelere de cerca de 3 a 3,5 por cento no ano passado para pelo menos 4 por cento este ano. O Fundo Monetário Internacional estima que a economia brasileira vai se expandir 3 por cento este ano.

“Não poderia ser mais explícito essa meta de juros de um dígito”, Flavia Cattan-Naslausky, estrategista do Royal Bank of Scotland, afirmou em entrevista por telefone de Stanford, no estado americano de Connecticut. “Quando você passa de uma meta de inflação para uma meta de juros, muda a forma como o mercado precisa precificar o risco e é provável que o mercado mantenha o prêmio por conta do risco político.”

Em comunicado enviado por e-mail, o BC se recusou a fazer comentários para esta reportagem. A ata do Copom foi publicada um dia após o Federal Reserve ter prometido manter o juro nos Estados Unidos próximo de zero até 2014.

André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos em São Paulo, disse que Dilma provavelmente vai segurar os gastos para permitir que o BC baixe ainda mais os juros. A presidente cortou R$ 50 bilhões do orçamento no ano passado e elevou o superávit primário em cerca de R$ 10 bilhões.

“Dilma Rousseff vai entregar novamente uma política fiscal muito forte para o Brasil em 2012”, Perfeito disse em entrevista por telefone. “Ela disse que faria isso em 2011 e ninguém acreditou nela, inclusive eu. Mas eles conseguiram.”

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