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Brasil e México podem trocar de lugar como escolha de investidores

Nem mesmo a taxa de juros de 8,25% do México, a maior em uma década, pode ser suficiente para impedir que alguns investidores retirem seu dinheiro do país

Lopez Obrador, presidente do México: decisão repentina do ministro de Finanças de deixar o cargo foi a primeira grande perda do governo que assumiu em dezembro (Carlos Tischler/Getty Images)

Lopez Obrador, presidente do México: decisão repentina do ministro de Finanças de deixar o cargo foi a primeira grande perda do governo que assumiu em dezembro (Carlos Tischler/Getty Images)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 13 de julho de 2019 às 08h00.

Última atualização em 13 de julho de 2019 às 08h00.

Por cerca de cinco anos o Brasil pareceu seriamente disfuncional e o México, um modelo de ortodoxia econômica. Agora, os dois países podem estar prestes a trocar de lugar.

A repentina renúncia do ministro das Finanças do México, na terça-feira, alimentou a preocupação de que as disputas políticas estão influenciando cada vez mais a política econômica, provocando uma queda no peso mexicano e nos títulos soberanos do país.

Os ativos brasileiros, por outro lado, entraram em um rali quando a Câmara dos Deputados aprovou a reforma da Previdência no primeiro turno. Embora a proposta de emenda constitucional ainda enfrente vários obstáculos, o mais desafiador deles foi superado com uma margem de votos mais ampla do que a esperada. A reforma é vista como crucial para equilibrar as contas fiscais e colocar a dívida pública em um caminho mais sustentável.

“Eu consigo ver um cenário de saída de capital do México e entrada no Brasil", disse Brendan McKenna, estrategista de câmbio do Wells Fargo em Nova York. "Qualquer progresso adicional na reforma da Previdência e em outras reformas provavelmente traria de volta os fluxos de capital para o Brasil."

A Moody’s e a S&P Global Ratings elogiaram o avanço, dizendo que a reforma do sistema previdenciário terá um impacto positivo no crescimento.

Enquanto o México tem grau de investimento e o Brasil está classificado três notas abaixo, duas das três maiores empresas de rating têm perspectiva negativa para o primeiro, enquanto as três têm perspectiva estável para o segundo.

“O foco do investidor será maior no real no curto prazo”, dadas as perspectivas mais nebulosas para o México, escreveram em nota os estrategistas do Morgan Stanley liderados por James Lord, na quinta-feira. Eles recomendam uma posição comprada no real, tendo como alvo R$ 3,65.

A decisão repentina do ministro mexicano de Finanças, Carlos Urzua, de deixar o cargo foi a primeira grande perda do governo de Andres Manuel Lopez Obrador desde que o presidente assumiu o cargo em dezembro. A crítica de Urzua ao processo decisório da administração atual enviou um “sinal muito ruim” para os investidores, de acordo com Benito Berber, economista-chefe da Natixis em Nova York.

Lopez Obrador já havia desagradado aos investidores ao cancelar o projeto de um aeroporto parcialmente construído e ao suspender joint-ventures com a empresa estatal de petróleo, profundamente endividada.

O spread entre os CDS de cinco anos dos dois países está agora no menor patamar em mais de seis anos e os títulos soberanos de curto prazo denominados em dólar do Brasil estão sendo negociados a níveis compatíveis com mercados emergentes de grau de investimento.

Nem mesmo a taxa de juros de 8,25% do México, a maior em uma década, pode ser suficiente para impedir que alguns investidores retirem seu dinheiro do país. Alejandro Cuadrado, estrategista sênior do BBVA em Nova York, disse que embora o ganho com carry do México "não tenha comparação", os investidores podem ver os ativos brasileiros e colombianos como alternativas.

Comprar o peso mexicano financiando-se em dólares forneceu o terceiro melhor retorno este ano entre as 31 principais moedas acompanhadas pela Bloomberg.

"Os mercados têm sido geralmente muito construtivos quanto aos fundamentos do Brasil, enquanto no México a história tem sido muito mais sobre carry", disse Alvise Marino, estrategista de câmbio do Credit Suisse em Nova York. "Eu acho que isso cria um potencial um pouco maior de divergência."

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