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Bovespa tem 34 empresas mais valiosas que a GM

Mercado bate nas empresas com baixa geração de caixa e dívida alta - e nem ícones do capitalismo escapam da surra

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 13 de outubro de 2010 às 20h46.

Quem imaginaria que a OGX, petrolífera do empresário Eike Batista, se tornaria mais valiosa que a centenária General Motors (GM) antes mesmo de completar seu segundo ano de existência? Assim como a OGX, outras 33 empresas brasileiras superam a GM em valor de mercado. Em apenas dez meses, a montadora perdeu mais de 10 bilhões de dólares na Bolsa de Nova York, passando a valer somente 3 bilhões de dólares. O montante equivale a um terço do lucro da Petrobras deste ano.

Há quem diga que, com a crise, o mercado perdeu todas as referências de preço. No entanto, também já se forma um consenso de que, em um ambiente de crédito caro e escasso, empresas que têm baixa geração de caixa e alto endividamento serão as que mais vão apanhar na bolsa - e a regra vale até mesmo para ícones do capitalismo como a GM.

Empresa Valor de Mercado  (US$ mil)*

Patrimônio Líquido (US$ mil)**

Lucro / Prejuízo Líquido no ano (US$ mil)**

Petrobras 107.405.533

81.479.940

9.867.698

Vale Do Rio Doce 66.807.039

49.914.600

10.060.737

Bradesco 34.738.156

17.848.731

3.142.220

Itaú 30.484.738

19.059.774

2.565.591

Ambev 24.011.398

10.481.565

719.836

Santander 20.754.612

26.033.806

694.949

Banco do Brasil 17.620.151

16.565.734

2.507.429

Itaúsa 15.936.542

10.421.215

977.253

Eletrobrás 13.775.155

51.262.750

618.364

CSN 11.386.890

5.797.904

1.129.629

Telesp 10.800.356

5.746.147

899.817

Gerdau 9.039.567

10.587.326

1.719.943

Unibanco 8.779.791

7.975.781

940.685
Redecard 7.477.102

432.464

426.542

CPFL Energia 7.215.341

3.112.528

377.898

Brasil Telecom 6.995.328

3.236.755

439.511

Cemig 6.687.015

5.977.341

684.438

Usiminas 6.659.363

7.487.622

1.247.168

Telemar Norte Leste 6.213.474

9.248.452

601.564

BM&FBovespa 5.875.659

12.328.673

206.820

Souza Cruz 5.759.419

999.716

445.314

Telemar 5.475.514

7.166.350

461.305

Tractebel 5.326.618

2.153.209

383.718

TIM 4.559.076

4.779.502

-89.200

Brasil Telecom Participações 4.478.474

3.013.847

348.363

OGX Petróleo 4.461.881

5.512.594

-156.099

Anglo Brazil 4.085.085

509.857

-37.855

Vivo 4.028.211

5.231.776

18.908

Embraer 3.900.421

3.173.438

150.597

CCR Rodovias 3.796.411

803.006

274.147

Gerdau Metalúrgica 3.743.522

5.086.479

788.234

Pão de Açúcar 3.687.063

3.359.331

60.623

Natura 3.664.362

444.611

198.303

Weg 3.492.419

1.108.647

241.730

General Motors 3.436.607

-56.970.000

-18.722.000

*Em 30/10/08
**Dados do último balanço
Fonte: Economática

Os números também refletem a queda nas vendas de automóveis nos Estados Unidos e Europa, que agravaram ainda mais a já complicada situação da montadora. O crescimento fora dos Estados Unidos já não é suficiente para neutralizar as perdas da matriz, que há três trimestres vê os resultados declinarem. Somente de julho a setembro a queda nas vendas globais da GM chegou a 11%.

Com suas ações desvalorizadas em 75% neste ano e registrando prejuízos cada vez maiores, não demorou muito para surgirem rumores de que a empresa não terá caixa para arcar com suas dívidas e acabará recorrendo à concordata para sobreviver. A montadora negocia com o governo americano uma linha de crédito que possa viabilizar a fusão com a também endividada Chrysler - um negócio que colocaria novamente a GM no topo do ranking mundial de vendas de veículos, mas poderia custar até 70 mil empregos.

Enquanto a ajuda não vem, a GM nos Estados Unidos vive um pesadelo que não é compartilhado pela filial brasileira. Embora uma desaceleração nas vendas seja esperada, a previsão para o Brasil continua sendo de crescimento. Na avaliação do presidente da GM do Brasil e Mercosul, Jaime Ardila, a restrição de crédito no país deve durar apenas mais dois ou três meses, possibilitando um aumento de até 5% nas vendas em 2009. Nos primeiros nove meses deste ano, a montadora vendeu 25,6% a mais que no mesmo período de 2007, colocando no mercado mais 445.881 veículos. E ainda espera atingir a meta de 600.000 veículos comercializados neste ano.

Quanto vale uma empresa?

A GM só não vale menos que outras empresas brasileiras porque a Bovespa também sofreu fortemente os efeitos da crise. No setor de construção civil, um dos mais impactados, as ações de construtoras e incorporadoras contabilizam até 90% de queda neste ano. Já os papéis da Positivo Informática valem hoje 87,5% menos que no começo do ano, enquanto os da Gol estão 78% desvalorizados. Aracruz, Cesp, Medial Saúde e Brasil Ecodiesel também estão na lista das empresas que registram queda de mais de 70% nas ações neste ano, sendo que o Ibovespa recuou 41% no período.

Porém, diferentemente da montadora americana, as companhias brasileiras não apresentam patrimônio líquido negativo. Ou seja, não devem além do valor de seus ativos. Mesmo com a crise, a maior parte delas deve continuar registrando lucro e investindo no desenvolvimento do negócio, mas em ritmo menor. A grande dificuldade está em estimar o potencial de ganho das empresas, já que a crise inseriu tantas incógnitas na economia que estabelecer preço para as ações transformou-se em exercício de futurologia. "Com toda a economia sendo reavaliada quase que diariamente, fica difícil projetar valores para as companhias. O mercado está sem noção de preço", explica Marco Antonio Barbosa, analista chefe da Coinvalores.

Para estimar quanto vale uma empresa, os especialistas trazem a valor presente o fluxo de caixa futuro da companhia. O cálculo desse montante inclui uma taxa de crescimento e uma taxa de desconto, que reflete o custo médio dos empréstimos tomados pela empresa para financiar seus projetos. O modelo utiliza como base os dados do presente e do passado para projetar o futuro. Por isso, se algum fator na economia muda, a projeção precisa ser revista para contemplar os efeitos dessa mudança. "Essa análise, no entanto, não embute um componente de extrema importância na formação de preço: as emoções dos investidores", destaca Marcelo de Faro, analista da corretora Intra.

Em momentos de muito stress, explica Faro, os investidores tendem a fugir da bolsa, vendendo suas ações a qualquer preço. O "efeito-manada" derruba o valor das empresas, num movimento que em pouco ou nada se relaciona com seus fundamentos. Foi principalmente por isso que as ações do setor de construção derreteram rapidamente. Nas ofertas públicas iniciais de ações (IPOs), cerca de 70% dos papéis foram parar nas mãos dos estrangeiros - os primeiros a sair da Bovespa quando a crise apertou.

Juntos, todos esses fatores provocaram distorções no mercado acionário. Hoje, 19 empresas (veja abaixo) apresentam valor de mercado inferior ao dinheiro que têm em caixa. "Isso não faz sentido. Se a empresa colocasse esse dinheiro na renda fixa e não produzisse nada, já garantiria um retorno de 15% ao ano", ressalta Faro.

Empresa Caixa da empresa
(R$ milhões)
Valor de mercado
(R$ milhões)
Abyara 117 92
Agrenco 71 18
Coteminas 451 402
Helbor 161 147
Heringer 253 222
Invest Tur 542 388
Itaúsa 135.070 33.707
Jereissati 1.862 392
Klabin Segall 263 177
La Fonte 1.547 544
LLX Log 384 211
Mangels 270 124
MPX Energia 2.033 785
Porto Seguro 3.795 2.306
Sadia 3.403 3.348
SulAmérica 3.800 1.463
Telebrás 83 67
Unipar 1.169 757
Vicunha 115 104
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