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Bancos grandes apertam concorrência e pequenos buscam recursos

Os bancos médios e pequenos, aqueles com capital menor que R$ 5 bilhões, possuem carteiras de crédito de R$ 165 bilhões, segundo dados do Banco Central

A dificuldade em financiar novos empréstimos pode agravar a desaceleração que levou a economia a estagnar no terceiro trimestre (Fernando Cavalcanti/VEJA SP)
DR

Da Redação

Publicado em 23 de dezembro de 2011 às 11h03.

São Paulo - Os principais bancos do País buscam ampliar seus negócios com crédito a pessoas físicas e a pequenas empresas em um momento em que custos de captação recorde e a redução dos Depósito a Prazo com Garantia Especial do Fundo Garantidor de Créditos, conhecidos como DPGE, desafiam os bancos menores que lutam com a restrição do crédito a partir da crise europeia.

Os títulos denominados em dólar do Banco Cruzeiro do Sul SA e do Banco Bonsucesso SA com vencimento em 2020 pagam taxas anuais de 20 por cento e 14 por cento, respectivamente, após os bancos terem visto os recursos externos secarem nos últimos três meses. O Cruzeiro, o Bonsucesso e o Banco BVA SA estão entre os bancos pequenos e médios próximos aos seus limites de endividamento, o dobro de sua base de capital, em recursos do DPGE que devem começar a ser reduzidos a partir de 2012 até acabar.

Do outro lado, estão os seis maiores bancos do País, incluindo o Itaú Unibanco Holding SA e o Banco Bradesco SA, que elevaram suas participações para 77 por cento do crédito total do País este ano até junho, ante 60 por cento no mesmo período há três anos. Os bancos médios e pequenos, aqueles com capital menor que R$ 5 bilhões, possuem carteiras de crédito de R$ 165 bilhões, segundo dados do Banco Central. A dificuldade em financiar novos empréstimos pode agravar a desaceleração que levou a economia a estagnar no terceiro trimestre.

“Você precisa de escala, e não tem funding lá”, disse Saul Sabba, fundador do Banco Máxima SA. “Tem que crescer muito com muito risco e quando o mercado tem um pouco de squeeze de crédito, recai sobre os pequenos primeiro.”

Medida do BC

O Banco Central disse ontem que mudou regras dos depósitos compulsórios para estimular os bancos grandes a comprar carteiras de bancos menores. O BC vai eliminar remuneração de parte dos depósitos a prazo, inicialmente de 27 por cento em fevereiro, depois ampliada para 36 por cento em abril, entre outras medidas.


O Máxima decidiu sair do mercado de crédito a pessoa física em 2008, disse Sabba em entrevista em seu escritório na Avenida Atlântica, no Rio de Janeiro, com vista para a praia de Copacabana.

O banco quitou suas dívidas relacionadas ao DPGE porque elas são muito caras, disse Sabba, com taxa anual superior a 13 por cento para prazos de três a cinco anos, segundo dados de bancos que operam nesse mercado.

O Bank of America Corp reduziu sua recomendação para as ações do Banco Pine SA, Paraná Banco SA e o Banco Industrial & Comercial SA em setembro, dizendo que uma retração da economia global iria prejudicar mais o lucro dos bancos pequenos que o dos grandes.

‘Difícil sobreviverem’

“Vai ser muito difícil para os bancos pequenos sobreviverem”, disse Leonardo Bastos, professor de finanças da Ibmec no Rio. “Os que vão perder são os consumidores quando o sistema bancário virar um semicartel onde eles cobram mais do que deveriam para um empréstimo.”
Ações do Cruzeiro do Sul caíram 8,6 por cento este ano até ontem, enquanto o Banco Industrial & Comercial despencou 46 por cento, o Paraná Banco recuou 28 por cento e o Pine, 14 por cento. O Itaú teve uma queda de 14 por cento, enquanto Bradesco e Banco do Brasil caíram, respectivamente, 4,8 por cento e 24 por cento.

O governo tomou medidas em novembro para ajudar bancos pequenos ao reduzir o capital que deve ser destinado para certos tipos de empréstimo. O BC reduziu a taxa Selic três vezes desde agosto para estimular a demanda interna e proteger o País dos efeitos da deterioração do cenário econômico internacional.

Redução de custo

Os cortes reduzem imediatamente os custos dos recursos do DPGE porque a maioria deles está atrelada à taxa de depósito interbancário, disse Juliana Guimarães, diretora de relações com investidores do Bonsucesso.

“Os bancos grandes são mais engessados, menos ágeis com falta de documentos e este tipo de coisa. Eles abrem uma agência de banco e esperam a vinda dos clientes”, disse Guimarães em entrevista por telefone de São Paulo. “A gente vai ao cliente. A gente contrata terceiros para ir à rede dos servidores públicos, clínicas, escolas.”

A demanda por títulos garantidos por ativos e a venda de carteiras de crédito para bancos maiores serão fortes o suficiente para contrabalançar a eliminação das captações externas e a redução dos DPGE a partir do ano que vem, disse o Cruzeiro do Sul em e-mail em resposta a questões. O BVA disse por e-mail que captações internacionais são “irrelevantes” para seu financiamento porqeu há oportunidades suficientes para isso dentro do Brasil.


Consolidação

O diretor do BC Anthero Meirelles disse que maio que esperava mais consolidação com os pequenos bancos se reestruturando para atender a exigências mais duras. Em abril, o FGC apoiou a aquisição do Banco Schahin SA pelo Banco BMG SA, instituição focada em crédito consignado. O FGC também financiou a compra do Banco Matone SA pela J&F Participações SA, holding da exportadora JBS SA. Depois, a J&F promoveu a fusão do Matone com o banco JBS SA para criar o Banco Original.

O BC decretou a liquidação do Banco Morada SA em outubro e expandiu a investigação para os cartões de crédito do banco e unidades tecnológicas.

Em 30 de novembro, o Conselho Monetário Nacional disse que vai adotar gradualmente e não de uma vez só, o que antes estava previsto para acontecer em janeiro, a regra que muda a contabilização das operações de cessão de carteira de crédito, pela qual bancos só poderão registrar parte da venda de carteiras como lucro. Atualmente, os bancos podem registrar toda a receita assim que vendem uma carteira. Caso o empréstimo seja pago antes do prazo, a instituição tem que transformar em prejuízo as receitas já contabilizadas e que não vão se concretizar.

‘Bicicleta’

A regra alimenta um fenômeno conhecido como “bicicleta”: os bancos são obrigados a aumentar o crédito todo trimestre para recuperar esse prejuízo que não era conhecido quando a carteira de crédito foi vendida, disse Roberto Troster, ex-economista- chefe da Federação Brasileira de Bancos e agora diretor da Delta Consultoria.

“É chamado de bicicleta porque você não pode parar de pedalar”, disse ele. “Você começa cada ano com uma perda, então precisa de mais e mais lucro para compensá-la.”

Sabba, da Máxima, disse que o risco de tentar competir com os bancos grandes não compensa. “Como deu o que deu com alguns bancos pequenos, mostra que consignado não é lugar para banco pequeno”, disse ele.

“Quando os bancos grandes entram no mercado, como no consignado, as margens diminuem, e você teria que crescer com muito risco para não ganhar muito dinheiro. Por isso saímos.”

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São Paulo - Os principais bancos do País buscam ampliar seus negócios com crédito a pessoas físicas e a pequenas empresas em um momento em que custos de captação recorde e a redução dos Depósito a Prazo com Garantia Especial do Fundo Garantidor de Créditos, conhecidos como DPGE, desafiam os bancos menores que lutam com a restrição do crédito a partir da crise europeia.

Os títulos denominados em dólar do Banco Cruzeiro do Sul SA e do Banco Bonsucesso SA com vencimento em 2020 pagam taxas anuais de 20 por cento e 14 por cento, respectivamente, após os bancos terem visto os recursos externos secarem nos últimos três meses. O Cruzeiro, o Bonsucesso e o Banco BVA SA estão entre os bancos pequenos e médios próximos aos seus limites de endividamento, o dobro de sua base de capital, em recursos do DPGE que devem começar a ser reduzidos a partir de 2012 até acabar.

Do outro lado, estão os seis maiores bancos do País, incluindo o Itaú Unibanco Holding SA e o Banco Bradesco SA, que elevaram suas participações para 77 por cento do crédito total do País este ano até junho, ante 60 por cento no mesmo período há três anos. Os bancos médios e pequenos, aqueles com capital menor que R$ 5 bilhões, possuem carteiras de crédito de R$ 165 bilhões, segundo dados do Banco Central. A dificuldade em financiar novos empréstimos pode agravar a desaceleração que levou a economia a estagnar no terceiro trimestre.

“Você precisa de escala, e não tem funding lá”, disse Saul Sabba, fundador do Banco Máxima SA. “Tem que crescer muito com muito risco e quando o mercado tem um pouco de squeeze de crédito, recai sobre os pequenos primeiro.”

Medida do BC

O Banco Central disse ontem que mudou regras dos depósitos compulsórios para estimular os bancos grandes a comprar carteiras de bancos menores. O BC vai eliminar remuneração de parte dos depósitos a prazo, inicialmente de 27 por cento em fevereiro, depois ampliada para 36 por cento em abril, entre outras medidas.


O Máxima decidiu sair do mercado de crédito a pessoa física em 2008, disse Sabba em entrevista em seu escritório na Avenida Atlântica, no Rio de Janeiro, com vista para a praia de Copacabana.

O banco quitou suas dívidas relacionadas ao DPGE porque elas são muito caras, disse Sabba, com taxa anual superior a 13 por cento para prazos de três a cinco anos, segundo dados de bancos que operam nesse mercado.

O Bank of America Corp reduziu sua recomendação para as ações do Banco Pine SA, Paraná Banco SA e o Banco Industrial & Comercial SA em setembro, dizendo que uma retração da economia global iria prejudicar mais o lucro dos bancos pequenos que o dos grandes.

‘Difícil sobreviverem’

“Vai ser muito difícil para os bancos pequenos sobreviverem”, disse Leonardo Bastos, professor de finanças da Ibmec no Rio. “Os que vão perder são os consumidores quando o sistema bancário virar um semicartel onde eles cobram mais do que deveriam para um empréstimo.”
Ações do Cruzeiro do Sul caíram 8,6 por cento este ano até ontem, enquanto o Banco Industrial & Comercial despencou 46 por cento, o Paraná Banco recuou 28 por cento e o Pine, 14 por cento. O Itaú teve uma queda de 14 por cento, enquanto Bradesco e Banco do Brasil caíram, respectivamente, 4,8 por cento e 24 por cento.

O governo tomou medidas em novembro para ajudar bancos pequenos ao reduzir o capital que deve ser destinado para certos tipos de empréstimo. O BC reduziu a taxa Selic três vezes desde agosto para estimular a demanda interna e proteger o País dos efeitos da deterioração do cenário econômico internacional.

Redução de custo

Os cortes reduzem imediatamente os custos dos recursos do DPGE porque a maioria deles está atrelada à taxa de depósito interbancário, disse Juliana Guimarães, diretora de relações com investidores do Bonsucesso.

“Os bancos grandes são mais engessados, menos ágeis com falta de documentos e este tipo de coisa. Eles abrem uma agência de banco e esperam a vinda dos clientes”, disse Guimarães em entrevista por telefone de São Paulo. “A gente vai ao cliente. A gente contrata terceiros para ir à rede dos servidores públicos, clínicas, escolas.”

A demanda por títulos garantidos por ativos e a venda de carteiras de crédito para bancos maiores serão fortes o suficiente para contrabalançar a eliminação das captações externas e a redução dos DPGE a partir do ano que vem, disse o Cruzeiro do Sul em e-mail em resposta a questões. O BVA disse por e-mail que captações internacionais são “irrelevantes” para seu financiamento porqeu há oportunidades suficientes para isso dentro do Brasil.


Consolidação

O diretor do BC Anthero Meirelles disse que maio que esperava mais consolidação com os pequenos bancos se reestruturando para atender a exigências mais duras. Em abril, o FGC apoiou a aquisição do Banco Schahin SA pelo Banco BMG SA, instituição focada em crédito consignado. O FGC também financiou a compra do Banco Matone SA pela J&F Participações SA, holding da exportadora JBS SA. Depois, a J&F promoveu a fusão do Matone com o banco JBS SA para criar o Banco Original.

O BC decretou a liquidação do Banco Morada SA em outubro e expandiu a investigação para os cartões de crédito do banco e unidades tecnológicas.

Em 30 de novembro, o Conselho Monetário Nacional disse que vai adotar gradualmente e não de uma vez só, o que antes estava previsto para acontecer em janeiro, a regra que muda a contabilização das operações de cessão de carteira de crédito, pela qual bancos só poderão registrar parte da venda de carteiras como lucro. Atualmente, os bancos podem registrar toda a receita assim que vendem uma carteira. Caso o empréstimo seja pago antes do prazo, a instituição tem que transformar em prejuízo as receitas já contabilizadas e que não vão se concretizar.

‘Bicicleta’

A regra alimenta um fenômeno conhecido como “bicicleta”: os bancos são obrigados a aumentar o crédito todo trimestre para recuperar esse prejuízo que não era conhecido quando a carteira de crédito foi vendida, disse Roberto Troster, ex-economista- chefe da Federação Brasileira de Bancos e agora diretor da Delta Consultoria.

“É chamado de bicicleta porque você não pode parar de pedalar”, disse ele. “Você começa cada ano com uma perda, então precisa de mais e mais lucro para compensá-la.”

Sabba, da Máxima, disse que o risco de tentar competir com os bancos grandes não compensa. “Como deu o que deu com alguns bancos pequenos, mostra que consignado não é lugar para banco pequeno”, disse ele.

“Quando os bancos grandes entram no mercado, como no consignado, as margens diminuem, e você teria que crescer com muito risco para não ganhar muito dinheiro. Por isso saímos.”

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