Bancos correm para fazer emissões no exterior com medidas do BC contra o crédito (Divulgação/Banco Central)
Da Redação
Publicado em 1 de fevereiro de 2011 às 07h43.
Nova York - Os bancos brasileiros estão captando uma quantia recorde nos mercados internacionais de dívida para cumprir a medida do Banco Central de maior requerimento de capital e após o caso do Banco PanAmericano SA.
O total de US$ 3,6 bilhões em títulos vendidos por instituições financeiras em janeiro supera os US$ 2,1 bilhões do mesmo período do ano passado. É o maior valor mensal já apurado desde 1999, quando a Bloomberg começou a compilar os dados. Os bancos russos captaram US$ 1 bilhão no mês passado, enquanto as instituições mexicanas não captaram nada.
O aumento nas captações tem custado um prêmio de risco maior aos bancos especializados em crédito ao consumidor após o resgate de R$ 2,5 bilhões do Banco PanAmericano SA em novembro. No caso do Banco Cruzeiro do Sul SA, o custo de captação relativo à dívida soberana brasileira saltou 117 pontos-base, ou 1,17 ponto percentual, em janeiro com relação ao que o banco pagou no ano passado em títulos com vencimento similar.
“Para manter o modelo de negócios, é preciso mais capital”, disse Celina Vansetti, chefe de pesquisa de bancos da América Latina da Moody’s Investors Service, numa entrevista por telefone de Nova York. “Vamos ver emissões do tipo de dívida subordinada que podem contar como capital, mais emissões que são basicamente fundos.”
Em dezembro, o BC elevou a alíquota do compulsório dos depósitos a prazo dos bancos e também aumentou o requerimento de capital para operações de crédito para pessoas físicas com prazos maiores que 24 meses. As medidas têm o objetivo de retirar R$ 61 bilhões de circulação e desacelerar o crescimento do crédito, que ajudou a levar a inflação para o maior patamar em 25 meses.
Volume recorde
A captação externa por parte dos bancos brasileiros subiu 74 por cento em janeiro em relação ao ano anterior e representou 35 por cento do total de US$ 10,5 bilhões em títulos corporativos vendidos no mês, o maior volume mensal já registrado, segundo dados da Bloomberg. A venda de títulos nos Estados Unidos também foi recorde em janeiro, totalizando US$ 161 bilhões.
O PanAmericano, líder em crédito para a compra de carros usados, foi resgatado com uma injeção de R$ 2,5 bilhões em novembro, após o BC encontrar irregularidades contábeis relativas à carteira de empréstimos. Para os bancos menores, em particular aqueles com foco em crédito consignado ou automotivo, a venda de carteiras é a principal fonte de financiamento com prazo superior a um ano, segundo Natalia Corfield, analista de crédito no ING Groep INV.
O Banco BTG Pactual SA anunciou ontem a compra de 37,6 por cento do PanAmericano por R$ 450 milhões.
Mais caro
No mês passado, o Cruzeiro do Sul pagou 583 pontos-base mais do que os papéis com vencimento similar do governo brasileiro para captar US$ 400 milhões em títulos com vencimento em 2016. Em fevereiro de 2010, o banco pagou um prêmio de 466 pontos em títulos de cinco anos, segundo dados da Bloomberg.
“Existe demanda, mas a um preço mais alto”, disse Alexei Remizov, chefe de mercados de capitais de dívida para Brasil do HSBC Holdings Plc. “Quanto mais parecido com o PanAmericano for o modelo de negócios, maior o prêmio de risco. O negócio ficou um pouco mais intensivo em capital nos últimos meses”.