Até onde vão os efeitos da queda na Etiópia para a Boeing?
Ações caíram 11% nos dois primeiros pregões depois do acidente, mas subiram ontem. Embraer, a princípio, não será afetada, segundo analista
Da Redação
Publicado em 14 de março de 2019 às 06h18.
Última atualização em 14 de março de 2019 às 06h25.
A queda do avião do modelo 737 Max 8 na Etiópia , no domingo (10), levou as ações da Boeing despencarem 11% nos dois primeiros pregões depois do acidente que deixou 157 mortos. Ontem, porém, os papéis conseguiram recuperar parte dos 26 bilhões de dólares perdidos de valor de mercado com a alta de 0,5% na sessão. A valorização ocorreu mesmo com o anúncio de que o uso desse modelo estava suspenso nos Estados Unidos, provando mais uma vez que o mercado antecipa os movimentos. A dúvida é se os efeitos negativos para as ações da fabricante chegaram ao fim.
É difícil prever, é claro, mas a princípio sim. “É claro que novas notícias podem impactar o valor dos papéis, no entanto, alguns pontos importantes já foram definidos, como a suspensão dos voos desse modelo em grande parte dos países. Além disso, as companhias aéreas não cancelaram os pedidos (no máximo, vão postergar), o que deixa o cenário um pouco menos incerto para a Boeing”, afirma Arthur Siqueira, analista de investimentos da gestora GEO Capital, que acompanha de perto os papéis da fabricante.
Segundo o especialista, o resultado financeiro da Boeing de 2018 foi muito positivo, dando indícios de crescimento nos próximos anos. Inclusive com a parceria com a Embraer, que foi aprovada em assembleia de acionistas no fim de fevereiro. “A princípio, o desastre não afeta em nada a parceria que vai se dar por meio da compra da fatia de aviação comercial da empresa brasileira”, diz. “Mas não é possível prever se haveria implicações políticas nesse sentido”, acrescenta, lembrando que o governo brasileiro detém as chamadas golden share, ações que funcionam como poder de veto em decisões consideradas estratégicas.
Para o vice-presidente Hamilton Mourão, que tem se reunido com acionistas minoritários contrários ao negócio de 4,2 bilhões de dólares, o acordo corre o risco de não acontecer. “Essa questão tem de ficar bem esclarecida. O governo pode utilizar a golden share para parar o negócio e fazer uma melhor avaliação”, afirma Mourão em entrevista a EXAME. Sem dar mais detalhes sobre o tema, Mourão diz que o assunto está sendo discutido com o presidente Jair Bolsonaro.
Segundo apurou EXAME, o governo ainda vê com desconfiança alguns pontos da operação que deve criar duas empresas: uma focada na aviação comercial, que teria 80% do capital da Boeing e 20% da Embraer, e outra voltada para a promoção dos negócios do cargueiro militar KC-390, com 51% de capital da Embraer.