Petrobras: o valor de mercado da companhia saiu de R$ 173 bilhões, em novembro, para R$ 105 bilhões, no fim de janeiro (Vanderlei Almeida/AFP)
Da Redação
Publicado em 22 de abril de 2015 às 06h52.
Rio de Janeiro - Nos cinco meses em que ficou sem balanço auditado, as ações da Petrobras viveram numa montanha-russa. O resultado foi uma variação de até 40% no valor de mercado - a multiplicação do preço da ação pelo total de papéis -, conforme levantamento da consultoria Economática, feito a pedido do jornal O Estado de S. Paulo.
Recentemente, a empresa recuperou parte do valor em Bolsa, mas, além do balanço, previsto para ser divulgado nesta quarta-feira, 22, no fim do dia, a estatal precisará apresentar consistência nas estratégias e dados financeiros para se reerguer.
O valor de mercado da companhia saiu de R$ 173 bilhões, em novembro, para R$ 105 bilhões, no fim de janeiro, queda de 40%.
A forte queda nesses cinco meses ocorreu após a empresa indicar que seus ativos tinham valores inflados em R$ 61,4 bilhões devido a falhas, ineficiência e corrupção nos contratos.
Sob a expectativa de finalmente apresentar dados financeiros auditados, a empresa alcançou o valor de R$ 171,6 bilhões, na segunda-feira.
O valor ainda é muito abaixo do auge, quando a estatal atingiu R$ 510,4 bilhões na Bolsa, em maio de 2008. O balanço do terceiro trimestre de 2014 foi suspenso em 13 de novembro, véspera do limite legal para publicação dos resultados.
Desde então, o volume de negócios da BMF&Bovespa cresceu 4,07%, enquanto o valor das ações preferenciais (PN, sem voto) da companhia caíram 4,37%, segundo a Economática. As ações ordinárias tiveram alta de 1,07%.
Notícias ruins
As oscilações dos papéis da companhia se devem a uma "espiral" de notícias ruins, segundo o analista independente Pedro Galdi.
"Já havia uma queda das ações com o represamento do preço de combustíveis por três anos, mas a Lava Jato trouxe mais dificuldade de caixa e afetou os projetos da Petrobras. Ela entrou em parafuso, o mercado perdeu a confiança nos indicadores", avalia.
O adiamento do balanço ocorreu após a PricewaterhouseCoopers (PwC) se recusar a auditar os dados, sem que as investigações sobre suspeitas de corrupção fossem aprofundadas.
Parte dos títulos de dívida emitidos pela Petrobras traz a exigência de publicação de dados financeiros auditados. Sem eles, os credores podem exigir o pagamento antecipado.
Em relatório divulgado ontem, a agência de classificação de risco Moodys avaliou que afastar esse risco é o principal efeito da publicação do balanço previsto para hoje.
"Nosso cenário base é que, após a publicação dos balanços auditados, a situação em torno da companhia tenderá a se estabilizar", diz um trecho do relatório.
Com isso, segundo a Moodys, caem as chances de ocorrer um evento como um calote, que poderia exigir socorro por parte do Tesouro Nacional.
Sem a antecipação de dívida, não haveria "qualquer necessidade de curto prazo de apoio à companhia, evento que elevaria os desafios financeiros do governo".
Na tentativa de reverter os danos, a companhia anunciou a criação de um comitê de investigação sobre as denúncias, bloqueou de suas licitações 25 empresas sob investigação da Polícia Federal, e criou a diretoria de governança. As medidas não foram suficientes para estancar a perda de valor.
"Nesse período, a queda acentuada da cotação do petróleo levantou a dúvida se o pré-sal seria viável, e gerou especulação", complementa Galdi.
A dúvida que persiste é qual o valor total de recursos da companhia que foram desviados e, portanto, devem ser descontados dos ativos contabilizados no balanço.
Em 27 de janeiro, a gestão de Graça Foster indicou que os ativos da companhia estariam inflados em R$ 61,4 bilhões devido à ineficiência, depreciação e corrupção. Em uma semana, a estatal perdeu R$ 23 bilhões em valor de mercado e toda a diretoria renunciou.
Analistas esperam uma baixa contábil entre R$ 10 bilhões e R$ 20 bilhões, valor descontado diretamente do lucro.
Assim, mesmo com aumento da produção e reajuste no preço de combustíveis, o desconto poderá limitar o pagamento de dividendos.
A petroleira viu ainda piorarem seus indicadores com a perda do grau de investimento da Moodys, o que restringiu seu acesso a financiamento. A estatal também está pressionada pela alta do dólar.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.