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Analistas prevêem novas realizações de lucros na Bovespa

Instabilidade gerada pela crise hipotecária nos Estados Unidos deve incentivar estrangeiros a embolsar ganhos com ações e câmbio

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 11h08.

Passada a euforia com a descoberta do megacampo de petróleo na Bacia de Santos, as atenções no mercado acionário voltaram a ser direcionadas para a crise do crédito hipotecário nos Estados Unidos. Os balanços dos bancos comprovam que o estrago causado pelo segmento <i>subprime</i> (de maior risco) é maior que o esperado, podendo atingir até 400 bilhões de dólares, segundo estimativas do Deutsche Bank.</p>

Esses números, aliados à realização de lucros com ações da Petrobras e à desvalorização dos papéis da Vale do Rio Doce - provocada pela queda nos preços das commodities no exterior - fizeram o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) despencar 4,34% ontem, registrando a segunda maior queda do ano. E as perdas, segundo analistas, não devem parar por aí. "Enquanto não ficar claro o real tamanho do rombo provocado pelo subprime, as bolsas de todo o mundo devem ficar instáveis. E isso só vai ser possível contabilizar após a divulgação de todos os balanços", diz Fausto Gouveia, analista da corretora Alpes.

Até o momento, grandes instituições, como Citigroup e Merrill Lynch, já registraram perdas de 40 bilhões de dólares com o subprime. Os resultados negativos provocaram a renúncia dos presidentes das duas instituições e deixaram outras à beira da falência. Pelos cálculos do Deutsche Bank, existem hoje 10 trilhões de dólares em hipotecas nos Estados Unidos, sendo 1,2 trilhão de dólares classificado como subprime. Desse total, 30% a 40% não deve ser honrado.

Os reflexos dessa crise já são notados na economia real americana. Em pronunciamento, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), Ben Bernanke, afirmou que a economia do país deve sofrer forte desaceleração ainda neste ano e durante todo o ano que vem, voltando a se fortalecer somente no final de 2008. Além disso, a alta no preço do petróleo no mercado internacional justamente no período de inverno no hemisfério norte, quando há considerável aumento no consumo de óleo para calefação, pode vir a pressionar a inflação, colocando a economia americana em situação ainda mais delicada.

"Os mercados emergentes vinham embalados pela perspectiva de novos cortes nos juros americanos. A expectativa ainda é de redução de 0,25 ponto percentual em dezembro, mas o Fed já deu sinais de que isso pode não acontecer. Na dúvida, os investidores devem ficar mais cautelosos, e é provável uma realização de lucros principalmente pelos estrangeiros, que estão tendo ganhos dobrados devido à valorização do real", diz o economista-chefe da corretora Fator, Vladimir Caramarchi.

No Brasil, o cenário é positivo, com o aumento do consumo e da renda elevando o resultado das empresas. "Se fosse contar apenas o mercado interno, o Ibovespa já estaria próximo dos 70.000 pontos", afirma Gouveia.

Somente as discussões em torno da prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) podem vir a balançar esse panorama. "Se a prorrogação da CPMF não for aprovada, provavelmente o governo reduzirá os investimentos em infra-estrutura para cobrir os custos com o Bolsa-família e a saúde. Isso pode acabar minimizando o crescimento do país e impactando diretamente no desempenho das empresas", diz o analista da Alpes.

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