Justiça aprova recuperação judicial da Americanas, com dívida estimada em R$ 43 bilhões
Trio 3G promete manter liquidez da empresa durante processo
Graziella Valenti
Publicado em 19 de janeiro de 2023 às 13h53.
Última atualização em 19 de janeiro de 2023 às 17h38.
Em tempo recorde, a Justiça acatou ao pedido de recuperação judicial da Americanas (AMER3). O pedido foi feito entre o fim da manhã e o começo da tarde desta quinta-feira, 189, após a empresa ter descoberto inconsistências contábeis da ordem de R$ 20 bilhões. A companhia, que tinha R$ 8 bilhões em caixa, quando o problema foi anunciado, respira por aparelhos, pois foi alvo de diversos bloqueios financeiros que praticamente a impedem de acessar os recursos. O trio 3G prometeu manter liquidez da empresa durante processo
O discurso adotado pela empresa é de que a postura dos credores, em especial os bancos, a empurrou para a recuperação judicial. "Todo o caixa da empresa vem sendo dragado por instituições financeiras detentoras de créditos contra o Grupo Americanas sujeitos aos efeitos desta recuperação judicial. O risco, então, caso não seja deferido o imediato processamento desta recuperação judicial, é de um absoluto aniquilamento do fluxo de caixa do Grupo Americanas, o que impedirá o cumprimento de obrigações diárias indispensáveis ao exercício da atividade empresarial, tal como o pagamento de fornecedores e funcionários", diz a companhia no documento à Justiça.
Lista de bloqueios
Na lista de valores bloqueados, a Americanas aponta os já conhecidos R$ 1,2 bilhão do BTG Pactual, R$ 474 milhões travados pelo Bradesco, mais R$ 95 milhões retidos pelo Safra e R$ 45,7 milhões, pelo Itaú.
Desde a semana passada, credores financeiros e os sócios relevantes da empresa, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, negociam como encontrar uma saída da situação. Contudo, o clima das conversas não evolui e não alcança serenidade para que haja engajamento suficiente. Os sócios tentaram um modelo no qual colocar R$ 6 bilhões em dinheiro novo e os bancos entram com conversão de dívida em capital.
O valor das dívidas declaradas à Justiça pela empresa é de aproximadamente R$ 43 bilhões e constam da petição inicial pelo menos 16.300 credores.
No pedido, a companhia solicita que a AME, sua fintech, siga podendo capitalizar a companhia. "A AME é um dos maiores vetores de renda do Grupo Americanas, peça fundamental para as operações da companhia por operacionalizar parte substancial dos pagamentos de clientes."
3G vai colocar dinheiro
Em nota, a companhia diz que o grupo de acionistas de referência da empresa informou ao presidente do Conselho de Administração que pretendem manter a liquidez da companhia em patamares que permitam o bom funcionamento da operação de todas as lojas, do seu canal digital, Americanas.com, da AME e suas coligadas. "Através deste comunicado, pedimos o engajamento de todos os colaboradores nesta nova fase e principalmente dos fornecedores com quem temos relações históricas. A história da Americanas segue com determinação rumo a uma nova fase, com o compromisso com a sociedade e disposta a construir soluções que possam vir atender aos credores da empresa."
O que é um processo de recuperação judicial?
A falência de uma empresa não traz benefício para a sociedade, pelo contrário, todas as partes envolvidas sofrem danos, tanto o empregador quanto os empregados. Por essa razão, a recuperação judicial tem como objetivo renegociar dívidas e prazos, além de fazer com que a empresa retome sua função social perante a sociedade, que em muitos dos casos, é penalizada pelo mau gerenciamento das empresas. Quando isso acontece, as empresas podem discutir judicialmente saídas para eventuais crises econômico-financeiras.