Manifestante segura bandeira em protesto nas ruas de Santiago, capital chilena (Marcelo Hernandez/Getty Images)
Guilherme Guilherme
Publicado em 22 de outubro de 2019 às 15h00.
Última atualização em 22 de outubro de 2019 às 15h00.
À primeira vista, as cotações de ativos de mercados emergentes dão a impressão de que tudo vai bem.
A realidade é totalmente diferente.
Enquanto os índices de ações, câmbio e renda fixa oscilam perto dos melhores níveis desde o início de agosto, crises políticas em países como Equador, Argentina, Turquia, África do Sul e — mais recentemente — Chile e Líbano lembram os investidores dos riscos de mergulhar em alguns dos mercados de maior rendimento
Para David Levy, presidente do centro de previsões Jerome Levy Forecasting Center, a demanda por taxas de retornos mais altas e o endividamento crescente no mundo em desenvolvimento remetem à bolha imobiliária nos EUA antes da crise financeira global.
“A bolha de ativos deste ciclo é no segmento de mercados emergentes”, acredita Levy. “Na próxima recessão, haverá sérios problemas nos mercados emergentes.”
A turbulência se exacerbou quando o Chile, que tem a melhor classificação de crédito da América Latina, foi engolido por protestos que levaram o governo a declarar estado de emergência, provocando uma queda de 1,7% no peso. No Equador, as manifestações se intensificaram depois que o presidente Lenin Moreno acabou com subsídios aos combustíveis. Na Argentina, investidores e eleitores estão com os nervos à flor da pele às vésperas da votação para presidente.
No Líbano, o rendimento dos títulos denominados em dólar disparou para 24% enquanto o governo luta para reprimir manifestações contra a piora da economia.
As vendas de títulos de mercados emergentes já superaram o volume captado durante todo o ano passado, diante da pressa dos tomadores de recursos para lacrar taxas menores. Emissões em dólares e euros por governos e empresas de países em desenvolvimento atingiram o equivalente a US$ 525 bilhões, um aumento de 20% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
“Parece haver fadiga entre os investidores diante do risco geopolítico em mercados emergentes”, disse Sergey Dergachev, gestor sênior de carteiras da Union Investment, em Frankfurt. “Eles estão tentando olhar além das manchetes sobre política, manifestações, sanções e enxergar os canais através dos quais estes podem impactar os investimentos em ativos emergentes, mas quem ignorá-los por muito tempo pode sair seriamente machucado.”