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A cautela deu resultado

A decisão de adotar uma estratégia segura e sacrificar parte do retorno garantiu quatro prêmios aos profissionais da Caixa Econômica Federal, inclusive o de melhor gestor do ano

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 13 de outubro de 2010 às 21h12.

No início deste ano, o executivo Marcelo Bonini, responsável pelos fundos de investimento da Caixa Econômica Federal (CEF), e os membros do comitê de investimentos do banco chegaram a uma conclusão preocupante: o mercado financeiro estava otimista demais, assumindo muitos riscos, e era preciso tomar cuidado. À primeira vista, tudo parecia estar indo bem. As expectativas eram as melhores possíveis: inflação sob controle, juros e dólar em queda, alta das bolsas e, principalmente, crescimento econômico expressivo no Brasil e no mundo, especialmente na China. Mas já havia sinais de exagero no preço de vários ativos. Após muita conversa, Bonini e sua equipe decidiram tirar o pé do acelerador, algo fácil de falar, mas complicado de colocar em prática. Apostando numa estratégia mais conservadora naquele momento, eles corriam sério risco de perder competitividade para a concorrência, quase toda com o pé no fundo.

Poucas semanas depois, a decisão da Caixa se revelaria acertada. No dia 27 de fevereiro, a bolsa de Xangai fechou com queda de 9% e sacudiu os mercados ao redor do mundo. Em seguida, o governo de Pequim anunciou medidas para frear a economia chinesa. Os juros subiram, as ações caíram e quem estava correndo risco perdeu dinheiro. O solavanco, embora de curta duração, premiou os gestores da Caixa. "As oscilações de fevereiro prejudicaram as carteiras que tinham papéis mais longos, mas nossos fundos foram menos afetados", diz Bonini. A maior estabilidade da carteira garantiu à Caixa o prêmio de melhor gestor de fundos de 2007. De acordo com os critérios do Guia EXAME de Investimentos Pessoais, os fundos premiados não são simplesmente os mais rentáveis, mas, sim, aqueles que apresentam a melhor relação entre retorno e risco que o investidor teve de correr -- o risco é calculado pela oscilação diária das cotas do fundo. "A decisão do começo do ano fez toda a diferença", diz José Luiz Cunha, superintendente de gestão da Caixa.

Qual é o seu caso?
Fundos de Renda Fixa e DI
Escolha seu fundo, primeiro, em razão da taxa de administração cobrada pelo gestor e, segundo, por causa da rentabilidade.Se o seu fundo cobra mais do que 2,5% ao ano, troque por outro com taxa menor. Se o seu fundo rendeu muito menos do que a média do mercado - 12% nos 12 meses terminados em junho e 51% em 36 meses -, talvez seja hora de trocálo. Qualquer mudança, porém,só é recomendável a quem esteja investindo no fundo há pelo menos 12 meses para que se pague menos imposto de renda ao movimentar o capital.

O banco estatal também foi premiado como o melhor gestor de renda fixa e o melhor gestor de varejo, além de ser o melhor gestor de megafundos, categoria que reúne os fundos de renda fixa com patrimônio superior a 1 bilhão de reais e os de ações com patrimônio maior que 250 milhões de reais. Os fundos de renda fixa foram premiados por sua relação entre rentabilidade e risco ter sido melhor do que a da média do mercado. Além disso, o retorno também foi superior. Nos 12 meses terminados em 30 de junho, os fundos DI e de renda fixa da Caixa haviam acumulado uma rentabilidade média de 12,76%. A média dos 378 fundos desse tipo analisados nesta edição do guia apresentou um retorno um pouco inferior, de 12,56%. A distância entre o resultado do banco e o da média do mercado pode parecer irrelevante, mas, com o cenário de taxas de juro em queda, são pequenas diferenças desse tipo que fazem o investidor ganhar dinheiro. "Saber escolher um bom gestor é hoje mais importante do que nunca", diz William Eid Júnior, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV) e responsável pela elaboração dos critérios de premiação do guia. No caso dos fundos de varejo, o resultado da Caixa também é superior ao da maioria. A premiação média dos fundos de varejo é de 2,51 estrelas para cada fundo. No caso da Caixa, é de 3,3 estrelas.

A cautela, tão determinante para a premiação da Caixa, foi uma filosofia aprendida duramente pelo banco. A Caixa e seu principal concorrente estatal, o Banco do Brasil, foram extremamente prejudicados quando o Banco Central instituiu, em 2002, a marcação a mercado -- quando as cotações diárias passaram a refletir fielmente as variações dos preços dos títulos. A impossibilidade de ajustes graduais e a extrema turbulência do mercado naquele momento -- o dólar atingiria seu pico de 4 reais poucos meses depois -- provocaram enormes prejuízos aos fundos que tinham papéis de longo prazo, que era o caso dos do BB e da Caixa. Alguns dos fundos desses bancos chegaram a recuar 5% em dois dias, oscilação aceitável para um fundo de risco, mas um absurdo para carteiras teoricamente seguras. O impacto no mercado de fundos foi imenso. Em poucos meses, cerca de 50 bilhões de reais, na época 10% do patrimônio total da indústria de fundos, havia migrado para alternativas como cadernetas de poupança e certificados de depósito bancário. Levou tempo para estancar a sangria e mais de um ano para fazer com que o patrimônio da indústria de fundos retornasse aos níveis anteriores à crise. Hoje, esse trauma foi superado pela Caixa. A recente mudança na vice-presidência da empresa de gestão, com a saída de Wilson Risolia e a chegada de Bolívar Tarragó Moura Neto, egresso do Banrisul, não deverá afetar a estratégia de investimentos da Caixa, dizem os executivos. A equipe pretende desde já brigar pelos prêmios do próximo ano. Na sala onde fica a mesa de operações da Caixa, no prédio da avenida Paulista, em São Paulo, um placar eletrônico acompanha diariamente a performance dos fundos do banco. A metodologia usada é a deste guia.

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