Trader: investidor deve ficar atento às oportunidades (Spencer Platt//Getty Images)
Guilherme Guilherme
Publicado em 27 de fevereiro de 2020 às 06h48.
Última atualização em 27 de fevereiro de 2020 às 07h59.
“Tenha medo quando os outros estiverem gananciosos e seja ganancioso quando os outros tiverem medo” - a frase foi dita em 2008 pelo bilionário Warren Buffett, mas poderia servir para guiar os mais novos investidores em meio aos temores sobre o coronavírus.
Com o aumento do número de casos da doença fora da China, investidores do mundo inteiro estão correndo para ativos de segurança, o que tem pressionado o mercado global de ações. Na semana, o índice americano S&P 500 acumula perdas de 6,63%. “Estão precificando uma pandemia”, disse André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos.
A reação chegou nesta quarta-feira à B3, que esteve fechada desde sexta-feira (21) devido ao feriado de carnaval. No pregão de ontem, o Ibovespa despencou 7% e registrou a maior queda desde 18 de maio de 2017 - dia que ficou conhecido como Joesley Day. Entre os componentes do índice, nenhum teve alta. No total, a perda somada em valor de mercado entre todas as empresas listadas na B3 foi de 290,24 bilhões de reais. Apesar da desvalorização generalizada, analistas e gestores alertam para as oportunidades.
“Bolsa não é fundamento. Bolsa é oferta e demanda. Então, muita gente entra em pânico e sai vendendo sem critério, outros aproveitam a turbulência e saem comprando”, disse Luiz Guilherme Dias, CEO da SABE Invest.
Com o primeiro caso de coronavírus no Brasil confirmado nesta quarta-feira, também cresceram as preocupações sobre possíveis restrições de deslocamento. Isso teve impacto direto nas ações das companhias aéreas, que tiveram as maiores perdas do Ibovespa. No pregão, os papéis da Azul e da GOL tiveram respectivas desvalorizações de 13,3% e 14,31%.
Para Murilo Breder, analista da Levante Investimentos, o momento é bom para comprar as ações da Azul. “A queda foi exagerada e, em termos qualitativos, a Azul é muito melhor que a GOL”, avalia.
Em uma perspectiva de mais longo prazo, Breder também a acredita que as ações da CVC sejam um bom investimento, mas alerta para os riscos de curto prazo. As ações da agência de turismo vêm em movimento de baixa desde novembro do ano passado, quando a empresa decepcionou em balanço do terceiro trimestre - influenciado pelos prejuízos associados à falência da Avianca. Em 2020, os papéis da CVC acumulam desvalorização de 30%.
“No curto prazo fica difícil identificar onde é o fundo do poço. Com a China fechada, a CVC perde vendas de pacotes para Xangai e Pequim. Já o destino mais vendido, para Orlando, é impactado pela alta do dólar”, disse Breder. Na opinião do analista, o que pode ajudar a mudar a perspectiva é o resultado do quarto trimestre, que será divulgado em 12 de março. “Vai ser o primeiro grande sinal.”
Mais pessimista sobre o setor de viagens, Luiz Dias acredita que as companhias vão ter um primeiro trimestre difícil em função do coronavírus. “Isso vai ter consequência tanto nos lucros das empresas quanto na desvalorização das ações”, comentou.
Ainda assim, o CEO vê grandes oportunidades, principalmente, em setores menos afetados pelo vírus. “Se olhar de uma forma técnica, é um momento bom para comprar por conta do pânico de muitos investidor que estão esperando cair mais.”
Dias acredita que as grandes oportunidades estejam em empresas exportadoras e voltadas para a economia doméstica. “Essas empresas vão ficar uma pechincha”, disse.
Entretanto, a expectativa do CEO é a de que enquanto o surto continuar se expandindo, as bolsas do mundo todo vão se manter com alta volatilidade. “O tamanho da magnitude da epidemia é que vai dar a sustentação para as projeções para 2020.”