Boris Johnson, primeiro-ministro britânico, pretende usar a COP para posicionar o Reino Unido como uma liderança verde (Anthony Devlin/Reuters)
Rodrigo Caetano
Publicado em 31 de março de 2021 às 06h00.
Última atualização em 13 de abril de 2021 às 15h27.
O governo do Reino Unido inicia, nesta quarta-feira, 31, uma série de eventos preparatórios para a 26ª Conferência do Clima da ONU (COP26), que será realizada em Glasgow, na Escócia, em dezembro. A conferência está sendo considerada a COP mais decisiva da história. Há a expectativa de, finalmente, regulamentar o Artigo 6 do Acordo de Paris, que trata da criação de um mercado global de carbono.
Para o governo do primeiro-ministro Boris Johnson, a COP26 representa uma oportunidade de se firmar como uma liderança verde no mundo após o Brexit. Atualmente, a União Europeia é considerado o bloco econômico mais avançado no que se refere à transição para a economia de baixo carbono. Fora da UE, a Inglaterra tem interesse em atrair investimentos nessa área.
Quer aprender mais sobre ESG? Conheça o novo curso da Exame Academy
A COP26 é aguardada por diversos motivos. A conferência deveria ter sido realizada em dezembro do ano passado, mas foi adiada por conta da pandemia. O evento marca o retorno dos Estados Unidos a um lugar de protagonismo nas discussões climáticas, já que o país esteve ausente dos debates nas últimas três COPs, realizadas durante a presidência de Donald Trump.
Uma das primeiras ações tomadas por Joe Biden na Casa Branca foi retornar o país ao Acordo de Paris, que tinha sido abandonado por Trump. Por conta do adiamento da COP26, os americanos acabaram não ficando de fora de nenhuma conferência. Na COP25, no entanto, a presença da maior economia do mundo foi mais sentida pela participação de rivais de Trump, como o ex-prefeito de Nova York e ex-candidato à presidência Michael Bloomberg.
A China também deverá desempenhar um papel mais relevante na conferência. No final do ano passado, o líder chinês Xi Jinping anunciou uma ousada meta de zerar as emissões do gigante asiático em 30 anos. A promessa colocou a Europa sob pressão, pois a ambição chinesa, de certa forma, ofuscou os esforços do velho continente em tornar sua economia mais limpa por meio do Green Deal, plano de recuperação econômica pós-pandemia baseada na economia de baixo carbono.
Já o Brasil, que sequer montou um estande na COP25, como era de costume, e levou uma delegação bastante reduzida formada apenas pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e alguns assessores, tem até o final do ano para reverter a imagem de inimigo do meio ambiente conquistada graças ao aumento do desmatamento na Amazônia. O país ocupava uma posição de liderança nas negociações do Acordo de Paris, porém, abriu mão dela na última COP.
Há grande interesse brasileiro na regulamentação do Artigo 6. O país é considerado a “Arábia Saudita” do carbono. Dependendo de como ficar decidida a contabilidade dos créditos no âmbito do mercado global, o Brasil pode ganhar mais ou menos dinheiro. Existe, ainda, uma promessa feita por países desenvolvidos, e negociada pelos diplomatas brasileiros, em transferir recursos para países em desenvolvimento, como forma de pagamento por terem mantido a maior parte das florestas de pé. Fora da mesa de negociação, o governo terá de aceitar o que estiver colocado.