Fundadores e executivos da AgroGalaxy (AGXY3) na cerimônia de estreia na B3 no dia 26 de julho de 2021, em IPO que movimentou R$ 350 milhões | Foto: Cauê Diniz/B3 (Cauê Diniz/B3/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 24 de agosto de 2021 às 17h00.
Última atualização em 24 de agosto de 2021 às 17h35.
Por Patricia Stille*
Estamos vivendo em 2021 uma onda ascendente de empresas abrindo o capital na bolsa de valores. Neste ano já foram realizados 30 IPOs (as ofertas públicas iniciais), número superior aos 25 de 2020, segundo a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Esse cenário, que já é bastante positivo, poderia ser ainda melhor se tivéssemos um mercado de acesso no Brasil.
Chamamos de mercado de acesso um ambiente para listagem e negociação de participações de empresas que já cresceram o suficiente para não serem consideradas mais startups, porém, que ainda não têm musculatura para abrir o capital em bolsas de valores tradicionais.
Trata-se de um mercado organizado (e regulado), no qual a empresa já é considerada pública e necessariamente precisa implementar boas práticas de governança e transparência, falando a “linguagem do mercado”, mas não precisa cumprir as mesmas exigências das grandes companhias abertas. Já existem iniciativas relevantes nesse segmento pelo mundo, como a AIM no Reino Unido, da London Stock Exchange, e a TSX Ventures do Canadá, da TSX Exchange.
Um estudo realizado pela Deloitte estimou que o custo médio para uma empresa abrir o capital no Brasil entre 2004 e 2020 chegou a 3,9% do total captado na operação; sendo uma listagem no Novo Mercado, esse percentual chega a 5%.
Esses percentuais parecem baixos, mas não são, considerando que existem custos mínimos e estamos falando de captações na casa de bilhão, em que todo o investimento para estruturar e preparar a empresa para se tornar pública acaba sendo diluído em razão do tamanho das ofertas. Para ilustrar isso, nos 30 IPOs mencionados foram captados 66,2 bilhões de reais, com uma média de 2,2 bilhões de reais por emissão.
Para as empresas emergentes, que buscam cheques menores, os custos e o nível de organização necessários para que ela passe a negociar na B3, preenchendo os requisitos do formulário de referência (CVM 480) e atendendo a todos os critérios e práticas exigidos pelo regulador, tornam a opção de abrir o capital proibitiva porque a conta não fecha.
No Brasil, que viu o lançamento em 2008 do Bovespa Mais, iniciativa da B3 que não ganhou tração, as discussões sobre desenvolver o mercado de acesso voltaram a esquentar. Lá atrás a conjuntura era diferente. Foi o ano da crise do subprime e os investidores no geral eram menos propensos a risco. Basta dizer que eram menos de 600.000 CPFs registrados na bolsa.
Hoje o cenário mudou. O mercado acionário esquentou, são mais de 4 milhões de CPFs cadastrados na B3, e os investidores, cada vez mais interessados pelo tema, estão ávidos por novas alternativas. Em paralelo, a CVM vem dialogando com os agentes de mercado e avançando com uma agenda de reformas regulatórias.
Um exemplo disso é o sandbox, ambiente experimental em que os participantes admitidos receberão da CVM autorizações temporárias e condicionadas para desenvolver inovações em atividades regulamentadas no mercado de capitais. Das 33 propostas inscritas para o primeiro ciclo,19 propuseram projetos que envolviam a constituição e a administração de mercados organizados.
Outro fator que contribui para o desenvolvimento do mercado de acesso é o avanço tecnológico. Soluções utilizando blockchain e o avanço de integrações de serviços financeiros, por exemplo, permitem que o custo da governança se torne mais competitivo, simplificando procedimentos e obrigações e ao mesmo tempo protegendo os interesses dos investidores.
De acordo com o IBGE, temos mais de 22.000 scale-ups no Brasil, ou seja, empresas que cresceram acima de 20% ao ano nos últimos três anos. Quantas dessas empresas não poderiam acelerar ainda mais seu crescimento se fossem a mercado? Quantas dessas empresas não seriam excelentes oportunidades de investimento?
O desafio para tornar isso possível é estruturar um mercado organizado para negociação de participações de empresas emergentes, que concilie a simplificação do processo de listagem com um padrão de governança minimamente elevado para trazer segurança aos stakeholders.
Ao permitir que mais negócios possam se financiar por meio do mercado de capitais, podemos não só viabilizar a ascensão de novas grandes empresas no Brasil como gerar valor para acionistas e trabalhadores, contribuindo para o crescimento econômico do país.
As perspectivas não poderiam ser melhores.
*Patrícia Stille é CEO da beegin e cofundadora do Grupo Solum.