Cristiano Ronaldo com a camisa da Juventus: imagem que agora fica no passado | Foto: Marco Luzzani/Getty Images (Marco Luzzani/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 27 de agosto de 2021 às 19h18.
Última atualização em 27 de agosto de 2021 às 21h19.
Por Carlo Cauti*
Cristiano Ronaldo deixou a Juventus nesta sexta-feira, 27 de agosto, rumo ao Manchester United. O craque português, cinco vezes Bola de Ouro, ficou três anos no clube italiano, com um ano de contrato pela frente. E não foi exatamente o melhor negócio que o time de Turim poderia ter feito. Nem para investidores que decidiram comprar ações do clube italiano.
Números em mãos, o compromisso econômico que a Juventus teria que enfrentar para sustentar Cristiano Ronaldo teria sido em torno de 360 milhões de euros (cerca de R$ 2,5 bilhões). Somente de impostos, cerca de 120 milhões de euros.
Ronaldo representou um aumento considerável das receitas. Nos dois primeiros anos, a Juventus ganhou 42 milhões de euros graças aos patrocinadores, com as renovações de Adidas e Jeep e o acordo com a Allianz sobre direitos de nomenclatura do estádio.
Além disso, no primeiro ano de CR7 na cidade italiana, as receitas oriundas de jogos aumentaram 14 milhões de euros, e as de merchandising, 16 milhões de euros.
Mesmo assim, a conta não fechou e, por causa dos custos astronômicos da operação, a Juventus foi forçada a realizar um aumento de capital de 400 milhões de euros (cerca de R$ 2,5 bilhões).
Não por acaso, a ação do time na Bolsa de Valores de Milão perdeu metade de seu valor desde o pico em abril de 2019, quando ainda havia a euforia com a chegada do craque. E não por acaso o papel festejou a saída do craque nesta sexta com valorização de 1,23%.
No placar dos quatro anos, quem investiu na ação da Juventus ficou no zero a zero. Ou seja, perdeu para a inflação.
Sob um ponto de vista futebolístico, a vitrine da Juventus nesses três anos foi enriquecida com dois títulos do Campeonato Italiano, duas Supertaças da Itália e uma Copa da Itália.
Detalhe: todos esses eram troféus que a Juventus costumava ganhar mesmo sem Ronaldo.
O português foi adquirido para dar o salto de qualidade nas copas europeias, principalmente a Champions League.
Mas nesses quatro anos a Juventus nunca foi além das quartas-de-final (em 2019, eliminado pelo Ajax), com duas eliminações consecutivas nas oitavas-de-final, pelas mãos de Lyon e do Porto.
Um verdadeiro fracasso no qual, todavia, as responsabilidades de Ronaldo foram relativas do ponto de vista esportivo. Mas absolutas do ponto de vista econômico.
Isso pois o enorme esboço provocado pela compra do português levou a direção esportiva da Juventus a cortar custos intensamente e o quanto mais rápido possível.
As vendas de Cancelo, Emre Can, Rabiot e Ramsey, para citar apenas alguns exemplos, foram cortes que o time foi obrigado a fazer para reduzir a folha de pagamento.
Para se ter uma ideia, a saída de Cristiano Ronaldo do time libera uma verba de 60 milhões de euros que a Juventus poderá usar para contratar outros jogadores.
A compra e a manutenção de Cristiano Ronaldo na Juventus poderia até dar certo se não fosse o novo coronavírus (Covid-19) a partir do começo do ano passado.
Em condições normais, a Juventus poderia ter vencido pelo menos uma Champions League nos quatro anos de CR7 no time, conseguindo até fechar a operação no azul.
A previsão era que a Juventus arrecadasse cerca de 250 milhões de euros ao longo dos quatro anos de contrato com Cristiano Ronaldo.
Mesmo sem o sucesso na Champions League, em um mundo sem pandemia, o déficit do negócio ainda teria sido aceitável, ante os efeitos positivos de médio e longo prazo para o posicionamento da marca Juventus.
A chegada do coronavírus materializou o pior cenário.
O fechamento dos estádios, a queda vertical da venda de produtos licenciados, a contração dos direitos de transmissão de televisão e até a suspensão do campeonato italiano de futebol levaram ao desastre contábil.
Cristiano Ronaldo também está deixando a Itália por causa de uma negociação fracassada com a Receita Federal da Itália (Agenzia dele Entrate) para a imposição tributária de investimentos no exterior.
O governo italiano estava disposto a conceder uma isenção de até, no máximo, 100 mil euros por ano. Um valor risível para um multimilionário como Cristiano Ronaldo.
Agora a Juventus se encontra sem um dos melhores jogadores do mundo, com um prejuízo milionário que deverá enfrentar e com um time para reconstruir.
Não é exatamente o melhor cenário do mundo para a torcida italiana, que poucos anos atrás comemorou com grande festa a chegada de Cristiano Ronaldo.
*Carlos Cauti é editor multimídia da EXAME Invest.