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Como a Daemon aproveita turbulência para lucrar com distorções de mercado

Montanha-russa nas bolsas globais tem pouca influência sobre fundo quantitativo da gestora, guiado por modelos matemáticos

Sérgio Rhein Schirato, sócio-fundador da gestora Daemon: "Todo investidor deveria investir em fundos sistemáticos" (Daemon Investimentos/Divulgação)
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Beatriz Quesada

Publicado em 30 de maio de 2022 às 06h13.

Última atualização em 30 de maio de 2022 às 10h03.

O grande diferencial de um bom gestor de investimentos é ser capaz de se antecipar aos movimentos de mercado. Existem, no entanto, momentos de alta turbulência nas bolsas que desafiam até os nomes mais experientes e renomados. Para Sérgio Rhein Schirato, sócio-fundador da gestora Daemon, este é um deles.

“Saímos de uma pandemia, um evento secular, para entrar em um cenário com guerra na Ucrânia, aumento da inflação global e escalada de juros nos Estados Unidos. Quem achar que consegue ler os mercados em um momento como esse, ou é um visionário ou um charlatão”, afirmou Schirato em entrevista à EXAME Invest .

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Para lidar com a turbulência nas bolsas, a estratégia da Daemon é abandonar a opinião e investir na matemática. O principal produto da casa, o Nous Global, é um fundo quantitativo, onde quem toma a decisão de investimento é um modelo matemático, e não um gestor. “Temos algoritmos robustos que vão encontrando distorções de preço em diversos ativos simultaneamente ao redor do mundo e vão surfando essas ondas”, disse.

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A estratégia de ser descorrelacionado de qualquer índice de mercado tem gerado bons resultados. Enquanto a bolsa americana teve em abril seu pior mês desde o início da pandemia – com queda de 7% de seu principal índice, o S&P 500, o fundo da Daemon subiu 3,87%. No mesmo período, o Ibovespa recuou 10%.

“Em fevereiro tivemos um rali nos mercados de energia, seguido por ganhos no mercado de commodities – em especial agrícolas – em março e abril. Nossos algoritmos captaram a tendência em alta velocidade, o que nos fez gerar retornos interessantes mesmo em condições adversas. Não tínhamos nenhum tipo de previsão, confiamos inteiramente na capacidade do algoritmo em encontrar um padrão”, defendeu Schirato.

Desde o lançamento do produto, em fevereiro de 2020, no início da crise de Covid-19, o Nous Global acumula retorno de 58,25%. A consistência dos ganhos, na visão do fundador da Daemon, mostra que o principal desafio da gestora não é a rentabilidade, e sim conquistar a confiança do investidor. “Nossa maior dificuldade é explicar para o investidor o que fazemos”. Veja abaixo os principais pontos da entrevista:

Qual o benefício de investir em um fundo quantitativo neste momento de turbulência nas bolsas?

Em uma situação de muita incerteza, um fundo como esse acaba sendo um instrumento de defesa importantíssimo. Não estamos fazendo uma aposta em um futuro em que acreditamos ou em um cenário que parece provável. Estamos nos aproveitando de distorções que se apresentam em diversos ativos simultaneamente ao redor do mundo.

Acabamos de sair de um evento secular para entrar em uma guerra. Quem achar que sabe o que está acontecendo e consegue ler os mercados em um momento como esse, ou é um visionário ou um charlatão. O que fazemos é justamente o contrário. Não temos opinião: temos algoritmos muito robustos que vão encontrando distorções de preço e vão surfando essas ondas.

O fundo foi lançado em um momento de volatilidade no mercado e tem gerado bons retornos em cenários de incerteza. O desafio pode ficar maior em tempos de tendência positiva?

O fundo não precisa que o momento de mercado esteja bom ou ruim. Não apostamos em determinada direção: os modelos mapeiam centenas de oportunidades individualmente e fazemos apostas nesses ativos. Inclusive, entre o final do ano passado e início deste ano passamos por um rali nas bolsas, então podemos dizer que já enfrentamos de tudo um pouco.

Qual o principal desafio da estratégia?

Existe um grande desafio técnico. O algortimo funciona como um organismo vivo, está sempre passando por melhorias.

Masacho que a maior dificuldade é explicar o que fazemos para o investidor. É fazê-lo entender que o algoritmo está executando as regras que foram criadas pelos pelos gestores, pelo nosso time. Não é uma máquina descontrolada tomando decisões de maneira aleatória.

Vocês já receberam algum tipo de questionamento nesse sentido?

Muitas, muitas vezes. É muito comum que os alocadores queiram conhecer a nossa cozinha: vir aqui, olhar os sistemas, a forma de execução, os controles de risco. Somos muito transparentes e buscamos deixar claro que tudo está sendo supervisionado e tem uma lógica muito robusta por trás. A estratégia está amparada em técnicas amplamente reconhecidas na academia.

A indústria de fundos sistemáticos ainda é pequena no Brasil. Em sua visão, o que está faltando para que esse tipo de estratégia seja mais disseminado no País?

O mercado americano conta com cerca de 30% de fundos quantitativos, e aqui a indústria sistemática não é nem 1% do mercado. Em nossa visão, o principal problema é a falta de conhecimento. Historicamente a gente tem uma concorrência desleal do CDI, que diminuiu nos últimos anos com a queda da Selic e com a consequente migração dos investidores para produtos alternativos. Ainda assim, muitos foram para fundos imobiliários, multimercados – em geral opções de mais fácil entendimento.

Nossa missão é provar para o investidor que é importante diversificar, investir em ativos que estão pouco correlacionados com todo o resto da carteira. Um fundo sistemático é uma ótima forma de atingir esse resultado porque ele não está relacionado a nenhum índice. Todo investidor deveria alocar parte do portfólio nesse segmento.

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