Saques de fundos chegam a R$ 163 bi em 2022, após mais de uma década de crescimento
Diferença entre aportes e saques ficou negativa em R$ 163 bilhões no ano
Beatriz Quesada
Publicado em 6 de janeiro de 2023 às 08h07.
Última atualização em 8 de fevereiro de 2023 às 10h02.
A indústria de fundos de investimento sofreu um baque em 2022 e registrou o pior resultado de captação líquida da série histórica iniciada há 20 anos.
Dados da Anbima , a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais, mostram que a diferença entre o que os fundos captaram em novos aportes e o que saiu da indústria em saques foi um saldo negativo de R$ 162,9 bilhões, contra captação positiva de R$ 412,5 bilhões em 2021.
O resultado interrompeu uma sequência de 13 anos consecutivos de crescimento nas captações, que não enfrentavam um ano no vermelho desde a crise de 2008.
O grande desafio dos fundos no período foi competir com a rentabilidade dos títulos de renda fixa, que cresceu muito acompanhando a disparada da taxa básica de juros, a Selic. Entre 2021 e 2022 a taxa saltou da mínima de 2% ao ano para o atual patamar de 13,75%, aumentando a atratividade da renda fixa.
Não à toa, os fundos de multimercados e os de ações foram os principais prejudicados em 2022. Os multimercados tiveram captação negativa de R$ 87,6 bilhões no ano, enquanto os de ações registraram um saldo negativo de R$ 70,5 bilhões.
O ano, no entanto, também foi difícil para os fundos de renda fixa. Os produtos tiveram captação líquida negativa de R$ 48,9 bilhões em 2022. Para Pedro Rudge, vice-presidente da Anbima, o resultado do ano desafiador pode ser fruto da disputa entre os fundos e produtos de renda fixa isentos de imposto de renda, como LCIs, LCAs, CRIs e CRAs, na qual os produtos privados saíram vencedores.
“Dada a magnitude da taxa de juros, esses títulos ganham uma atratividade muito grande. Os investidores escolhem uma rentabilidade melhor pagando menos imposto”, afirmou Rudge em conversa com jornalistas nesta quinta-feira, 5.
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Outro problema é a inflação, que diminui a quantidade de capital disponível para investir. “A renda dos brasileiros diminuiu. Para manter o padrão de vida, foi preciso gastar mais dinheiro e sobra menos para poupar e investir. Muito é usado para o pagamento de dívidas”, avaliou.
Para 2023, a previsão é que os recursos continuem saindo dos fundos para outros instrumentos caso a taxa de juros se mantenha alta por mais tempo. E o principal ingrediente para os rumos da política monetária deixou de ser a inflação e passou a ser a incerteza fiscal no novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Para reverter o movimento de saída de capital dos fundos, é preciso antes haver certo arrefecimento dos ânimos [do mercado] e uma previsibilidade melhor do que vai ser a solução fiscal que o novo governo vai propor”, disse Rudge. A expectativa é que a equipe econômica do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, proponha uma nova regra fiscal ainda no primeiro semestre.