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Atores vs. inteligência artificial: como a disputa se tornou um marco para o futuro das profissões

Enfrentando uma revolução digital, atores e escritores de Hollywood buscam melhores condições de trabalho e remuneração nos serviços de streaming; situação deve se repetir em outros setores e empregos

Deepfake fez Harrison Ford ficar mais jovem em Indiana Jones 5: técnica pode ser usada para criar atores artificiais (Lucasfilm Ltd./Reprodução)
André Lopes

Repórter

Publicado em 17 de julho de 2023 às 11h55.

Última atualização em 19 de julho de 2023 às 08h21.

Fran Drescher, atriz presidente do Screen Actors Guild (SAG) e criadora da prestigiada produtora de filmes Fran Fine, foi quem deu o ponta pé para primeira greve do sindicato dos atores de Hollywood desde 1980. Representando 160 mil afiliados, ela se declarou contra a direção para quais seguem os estúdios de cinema e televisão dos EUA:“Os olhos do mundo e especialmente os olhos do trabalho estão sobre nós”.

Esta greve se diferencia de qualquer outra anterior, tendo em vista que não visa apenas uma maior participação nos lucros dos filmes e programas de TV que atores e escritores ajudam a criar.A rápida migração para o streaming e as ameaças trazidas pela inteligência artificial (IA) criaram um abismo entre o que os profissionais de Hollywood querem e o que as grandes empresas de mídia estão dispostas a oferecer.

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No ponto sobre IA, como em um enredo da distópica série de televisão “Black Mirror”, o SAG diz que está lutando contra os estúdios pelo controle das réplicas digitais de artistas. Chamadas deepfakes, a técnica consegue sobrepor um rosto por cima de outro. Nesse caso, um artista poderia ser virtualmente eternizado, em uma ideia que ainda pode terminar com a criação de atores 100% artificiais.

Em um contexto mais amplo, o embate simboliza um cena que pode se tornar comum em outras profissões. Mais precisamente, até 300 milhões de empregos em todo o mundo podem ser automatizados de alguma forma pela mais nova onda de inteligência artificial que gerou plataformas como o ChatGPT, de acordo com economistas do Goldman Sachs.

O banco prevê que 18% do trabalho globalmente poderia ser informatizado, com os efeitos sentidos mais profundamente nas economias avançadas do que nos mercados emergentes.

A batalha deve seguir

Os sindicatos de atores e roteiristas argumentam também que os valores mínimos garantidos por reprises em streaming, depois que o programa já passou na TV, ainda não são justos. O SAG demanda também aumentos salariais mínimos para compensar a inflação que passa por uma alta globalmente.

Atualmente, os profissionais não têm direito a qualquer compensação extra, o chamado residual, mesmo se a série ou programa em que trabalham alcance a popularidade de um sucesso ao nível de "Stranger Things".

Os serviços de streaming, protagonistas desta questão, têm mantido seus dados de audiência em segredo, gerando descontentamento entre aqueles que criam os programas que atraem espectadores para os serviços.

Tony Gilroy, apresentadr do programa "Andor" da Disney Plus, revelou ao Wall Street Journal que não tem "ideia" do público do show, já que não consegue acessar nenhum dado de streaming da Disney.

Mas não apenas o pagamento, mas também a forma como os programas são produzidos para os serviços de streaming, têm sido motivo de contenda para escritores e atores.

Antes da era de plataformas como Netflix e Amazon Prime Video, os escritores se reuniam para discutir a trajetória de um programa. Essas sessões normalmente duravam os 22 episódios que um programa apresentava por temporada, garantindo trabalho para a maior parte do ano. Com o advento do streaming, o título é contratado de forma completa e quem controla o resultado é somente a plataforma.

E junto do fato de que os estúdios agora desejam adquirir direitos sobre o rosto de atores coadjuvantes para, combinados com a IA, terem uma fonte barata de atores secundários para sempre. Isso afeta não apenas a remuneração, mas também a forma como os programas são roteirizados.

Enquanto isso, os estúdios de Hollywood estão focados na lucratividade das empreitadas. Bob Iger, CEO da Disney, disse que as greves são "muito perturbadoras" para ele, acrescentando que algumas das expectativas dos escritores e atores "não são realistas".

Atualmente, Hollywood está paralisada. Escritores não estão indo trabalhar há dois meses e atores deixaram seus sets. Ambos os grupos, que são elementos fundamentais para o funcionamento de Hollywood, estão lutando pelo futuro de suas carreiras e da indústria.

Hollywood pode não sair ilesa deste embate, mas com a certeza de que não ser a mesma.

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