Airbus Beluga: aposta da companhia em combustível a base de hidrogênio pode ser adotada para reduzir emissões (Regis Duvignau/Reuters)
Thiago Lavado
Publicado em 6 de dezembro de 2020 às 09h00.
Existem muitos obstáculos para o desenvolvimento do primeiro avião movido a hidrogênio com emissão zero. O combustível altamente inflamável é difícil de usar e ser armazenado com segurança. Não existem aeroportos equipados para reabastecer jatos com hidrogênio. E o custo em si é proibitivo, pelo menos caso a empresa queira evitar a emissão de gases de efeito estufa.
Mas, em setembro, a Airbus estabeleceu um prazo de cinco anos para desenvolver uma aeronave movida a hidrogênio comercialmente viável. A maior fabricante de aviões do mundo tem o apoio das partes interessadas — os governos francês, espanhol e alemão, que prometeram neutralidade em carbono até 2050 — e bilhões de euros em subsídios governamentais. Mesmo com a ajuda, será uma tarefa hercúlea, que exigirá reinventar o indústria de aviação de trilhões de dólares.
O hidrogênio não foi a primeira opção da empresa. Os engenheiros da Airbus passaram anos estudando o potencial de usar baterias para armazenar eletricidade em aviões com a Rolls-Royce, mas desistiu do projeto no início do ano. Embora as baterias façam sentido em carros e ônibus, com os níveis relativamente baixos de energia que produzem qualquer coisa que pudesse carregar carga suficiente para um voo de longa distância seria muito pesada para uma aeronave.
“O hidrogênio é o tipo de energia mais promissora que nos permite abastecer aeronaves e a aviação com energia renovável”, diz Glenn Llewellyn, engenheiro que lidera o experimento da Airbus. “A tecnologia de baterias não está evoluindo no ritmo necessário para atingirmos nossa ambição.”
O projeto é atualmente a melhor chance de obter um voo que não polua o planeta. Poderia acabar com as emissões que devem persistir por muito tempo depois que as redes das cidades funcionarem com energia 100% limpa e os veículos elétricos se tornaram comuns. E fará com que passageiros com consciência ecológica se sintam menos culpados por contribuir para o aquecimento global sempre que entrarem em um avião.
A indústria da aviação emitiu mais de 1 bilhão de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera em 2019, de acordo com a BloombergNEF. Embora as emissões devam despencar neste ano por causa da Covid-19, a queda será temporária.
Ao contrário dos combustíveis fósseis, que emitem dióxido de carbono que aquece o planeta quando são queimados, o hidrogênio produz principalmente vapor de água. Atualmente, a maior parte do hidrogênio é usada no refino de petróleo e na fabricação de produtos químicos e quase sempre é produzido a partir de gás natural ou carvão. Mas também pode ser gerado, a um custo mais elevado, com a passagem de corrente elétrica pela água. Se esse processo for movido a energia renovável, como eólica e solar, é possível usar o combustível sem produzir CO2.
É isso que a Airbus planeja fazer. A empresa estima que o hidrogênio verde tem potencial de reduzir pela metade as emissões da indústria da aviação, uma perspectiva tentadora, já que o grupo de pesquisa de energia limpa da BloombergNEF projeta que essas emissões dobrarão globalmente até 2050.