(Bárbara Santos/Exame)
Ferramenta de inteligência artificial na Exame
Publicado em 30 de outubro de 2024 às 10h00.
O avanço da inteligência artificial tem transformado diversos setores, mas a adoção dessa tecnologia ainda encontra resistências.
Parte desse receio está ligada à forma como o cérebro humano lida com mudanças. Ao longo da evolução, o cérebro foi programado para evitar surpresas e se apegar a padrões previsíveis, gerando desconforto diante de inovações disruptivas como a IA.
Durante o Exame Talks, a neurocientista Paula Souto, CEO da Neurowits e aluna do MBA de IA para Negócios da Faculdade Exame, explicou que o cérebro humano tem uma forte tendência a evitar o desconhecido, o que causa resistência à adoção de novas tecnologias.
"O nosso cérebro está constantemente tentando minimizar a surpresa. Ele não gosta do novo", afirmou. Isso se reflete na ativação da amígdala cerebral, região que processa emoções e é fortemente ativada em situações de ambiguidade.
Essa ambiguidade é especialmente evidente quando a inteligência artificial entra em cena, gerando incertezas sobre o futuro do trabalho e o papel dos profissionais.
Esse receio, inclusive, é o motivador daquele medo irracional de que "a IA vai substituir minha força de trabalho". Viviane Menezes, consultora em gestão e inovação e aluna do MBA de IA para Negócios da Faculdade Exame, explica que a inteligência artificial só vai tomar o lugar de quem se recusar a incorporar a tecnologia no seu dia-a-dia profissional.
"A IA sozinha não vai substituir ninguém," disse. "Mas o seu colega que estiver utilizando inteligência artificial e você não, ele sim vai te substituir."
Para reduzir essa resistência, a Viviane sugere uma abordagem gradual nas empresas, permitindo que os colaboradores experimentem a tecnologia.
"O segredo está em criar espaços onde as pessoas possam testar as ferramentas sem medo de errar", comentou. Quanto mais o funcionário entende a IA e seus benefícios práticos, menor será a resistência.
A comunicação interna também é fundamental para superar barreiras. Viviane destacou a importância de líderes que incentivam o uso responsável da IA, explicando como ela pode melhorar o dia a dia dos funcionários.
"Se o colaborador perceber que vai ter mais tempo para tarefas estratégicas e que a máquina cuidará do operacional, a aceitação se torna mais natural", completou. A chave é garantir que a introdução dessas ferramentas seja feita de forma transparente e com foco nos ganhos práticos, sem gerar insegurança ou estresse.
A neurociência, portanto, indica que vencer o medo da inovação requer a empatia e a escuta ativa, além de promover um ambiente de confiança.
Compreender como o cérebro humano reage às mudanças permite que as empresas adotem estratégias que respeitem o tempo de adaptação dos colaboradores. Em vez de forçar uma transformação abrupta, podemos criar espaços de experimentação e aprendizado, nos quais os profissionais possam testar a tecnologia sem receios.
"A partir do momento que você entende o seu cérebro, você entende como você potencializa ele e como você potencializa o seu aprendizado, as suas tomadas de decisão, o seu negócio, tudo," conta Paula, que especialista no tema.
Ao adotar uma abordagem cuidadosa, que leva em consideração as necessidades emocionais e cognitivas das pessoas, as empresas não apenas garantem a implementação eficaz da IA, mas também conseguem impulsionar o desempenho humano. A combinação de inteligência artificial com a expertise dos colaboradores resulta em processos mais produtivos, criativos e inovadores.
Como bem destacou Viviane no evento, "a inteligência é nossa, a IA é apenas uma ferramenta para nos potencializar". Essa compreensão do papel da IA como uma aliada, e não uma substituta, é crucial para que a tecnologia seja vista de maneira positiva e integrada de forma estratégica nas organizações.