(FILES) Fox News contributor Pete Hegseth arrives at Trump Tower on November 29, 2016 in New York City. US President-elect Donald Trump on November 12, 2024 nominated military veteran and Fox News host Pete Hegseth to serve as defense secretary when the Republican takes back the White House in January (Photo by SPENCER PLATT / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / AFP) (SPENCER PLATT / GETTY IMAGES NORTH AMERICA/AFP Photo)
Agência de notícias
Publicado em 14 de janeiro de 2025 às 12h59.
Última atualização em 14 de janeiro de 2025 às 13h06.
O Senado americano começou a examinar nesta terça-feira a equipe de governo escolhida pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump. A audiência no Comitê de Serviços Armados no Congresso, iniciada pontualmente às 9h30 no horário local (11h30 em Brasília), ocorre a menos de uma semana para a posse do republicano — e promete não ser fácil para Pete Hegseth, o escolhido de Trump para chefiar o Pentágono. Primeiro nome a ser examinado, o ex-major de 44 anos deverá enfrentar uma série de acusações, incluindo de assédio sexual, que ele nega, e consumo exagerado de álcool.
Nos Estados Unidos, a Constituição exige que as nomeações de ministros e outros funcionários de alto escalão sejam confirmadas por uma votação no Senado, após uma audiência no comitê responsável pelo cargo. Em seus comentários iniciais na reunião desta terça-feira, o senador Roger Wicker, republicano do Mississippi e presidente do comitê, defendeu que a experiência militar de Hegseth e seu histórico “não convencional” podem ser “o que o torna uma excelente escolha”. Buscando minimizar as polêmicas envolvendo a vida pessoal do candidato, ele declarou que “a maioria das acusações veio de fontes anônimas”.
Na sequência, porém, o senador Jack Reed, principal democrata do Painel de Serviços Armados, disse que Hegseth não estava qualificado para atender às “demandas esmagadoras deste cargo”. Ele também criticou o ex-major por seus comentários sobre a presença de mulheres nas Forças Armadas e questionou como ele manteria a “boa ordem e disciplina” como secretário da Defesa, dado seu histórico de defender criminosos de guerra condenados. No passado, Hegseth argumentou que mulheres não deveriam servir em funções de combate porque isso não havia tornado o Exército “mais eficaz”.
"O conjunto de seus próprios escritos e conduta alegada desqualificaria qualquer militar de ocupar qualquer posição de liderança nas Forças Armadas, muito menos ser confirmado como secretário de Defesa. Não sei como ele vai administrar uma organização com um orçamento de US$ 857 bilhões e 3 milhões de indivíduos", disse Reed, relembrando as falas do candidato sobre a diversidade no Exército americano. "Nossas Forças Armadas estão mais diversas do que nunca, mas, mais importante, estão mais letais do que nunca. Isso não é uma coincidência".
Apenas Wicker e Reed tiveram permissão para ler um relatório do FBI sobre Hegseth, publicou a Bloomberg.
É esperado que Hegseth apresente sua falta de experiência em gestão de alto nível como um trunfo. Em discurso preparado acessado pela Bloomberg, o ex-major, que também já foi apresentador da rede conservadora Fox News, planejou declarar que, se aprovado, será um “agente da mudança” sem “interesses investidos em certas empresas, programas específicos ou narrativas aprovadas”. O veterano militar também planeja afirmar que ele e Trump acreditam ser “hora de colocar alguém com poeira nas botas no comando”, após anos de escolha de generais, acadêmicos ou executivos de empresas de defesa.
Ainda segundo os comentários preparados por Hegseth, ele indicou que suas prioridades incluiriam reviver a base industrial de defesa americana, reformar o processo de aquisição para abrir mais oportunidades para startups de defesa e adotar rapidamente tecnologias emergentes. Em respostas escritas a perguntas de membros do comitê, ele atribuiu as faltas no recrutamento militar às políticas “woke” (como Trump se refere a pautas ligadas à igualdade racial, social e de gênero), afirmando que essas ações afastam potenciais membros.
“O Exército dos Estados Unidos precisa enfrentar a realidade e a percepção de que está muito focado em questões políticas e de justiça social, correção política, teoria crítica da raça, mudança climática, etc. O Exército é uma instituição apolítica que deve se concentrar apenas na letalidade, igualdade, meritocracia e prontidão. Quando voltarmos a esses princípios básicos, acredito que os jovens serão atraídos por isso”, escreveu.
Após a nomeação de Hegseth em novembro, foi divulgado um relatório policial que detalha acusações de uma suposta agressão sexual ocorrida em 2017, enquanto ele estava em uma conferência republicana na Califórnia. A mulher afirmou que ele, então apresentador da rede conservadora Fox News, chegou a bloquear a porta de um quarto de hotel quando ela tentou sair do local e a agrediu sexualmente. O documento inclui entrevistas com a denunciante, um funcionário do hotel, uma enfermeira e uma testemunha. Hegseth nega qualquer irregularidade e nunca foi preso ou acusado formalmente. Ele fez um acordo de conciliação com a mulher.
Alguns comentários de Hegseth sobre como ele poderia mudar o Departamento de Defesa também causaram estranhamento entre republicanos. Em um podcast recente, o indicado de Trump disse que o presidente do Estado-Maior Conjunto, o líder militar de mais alto escalão nos Estados Unidos, deveria ser demitido — junto de qualquer líder militar que estivesse “envolvido em qualquer uma das iniciativas de diversidade, equidade e inclusão”.
Formado pelas universidades de Princeton e Harvard, Hegseth foi líder de pelotão de infantaria em Guantánamo e no Iraque, e foi premiado com a Medalha de Estrela de Bronze. Trump destacou a educação do ex-soldado e sua experiência militar no Afeganistão e no Iraque ao nomeá-lo, afirmando que, “com Pete no comando, os inimigos da América ficarão alertas, e nosso Exército será grande novamente”. Ainda assim, porém, o homem de 44 anos não tem a experiência que é necessária para o cargo, e seria a segunda pessoa mais jovem a exercer a função.
Há um crescente ceticismo sobre as chances de Hegseth obter votos suficientes para ser confirmado pelo Senado. Pelo menos quatro senadores republicanos provavelmente votariam contra ele se votassem em dezembro, disseram duas fontes à rede americana. Como é esperado que os republicanos tenham uma maioria de 53 cadeiras no Senado (de um total de 100), perder quatro votos republicanos e todos os democratas inviabilizaria a nomeação de Hegseth. Para pessoas próximas, Trump teria afirmado que o ex-apresentador deveria ter sido mais transparente sobre os problemas que enfrentaria para ter seu nome confirmado.