Trump vs. Kamala: o que será do bitcoin pós eleições norte-americanas?
Em um primeiro momento, pode até parecer estranho colocar o bitcoin, um ativo global e descentralizado, “correlacionado” com o processo eleitoral de um único país
Redação Exame
Publicado em 5 de novembro de 2024 às 15h30.
Última atualização em 5 de novembro de 2024 às 16h35.
Por João Canhada*
O que o mercado mais espera é que o bitcoin vá, pelo menos, de encontro aos US$ 100 mil. E o que fomenta essa percepção é que houve uma narrativa construída desde o final de 2023 de que, de fato, isso seria possível.
A criptomoeda até renovou sua máxima histórica ao alcançar os US$ 73,7 mil. Mas, no decorrer dos meses, vimos um mercado lateralizado e "distante" do, até então, preço alvo.
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Mas quer dizer que as projeções estavam erradas e o bitcoin não vai continuar se valorizando? Calma! É neste momento que a gente separa aqueles que estão no mercado de criptomoedas há anos e quem decidiu participar recentemente.
De um lado, sim, tivemos halving do bitcoin e aprovação dos ETFs. Mas há um cenário macroeconômico complexo por trás e, mais importante ainda, uma eleição presidencial nos Estados Unidos para ser realizada. É aí que o jogo tende a virar. Por que? É o que vou discutir com vocês a seguir.
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Bitcoin em 2024
Se alguém te disser que o bitcoin não performou bem em 2024, vale questionar o que esta pessoa entende por performance positiva. Afinal, ao olhar exatamente hoje, o bitcoin está com uma alta superior a 70% desde 1º de janeiro.
E caso eu queira pegar a flutuação total – considerando mínimas e máximas – esse desempenho avança para 91%.
Para não ser injusto, vamos comparar com os índices tradicionais: Nasdaq aponta ganhos de 21% no ano. A S&P 500, com as gigantes de tecnologia, marca resultados de 22%. A Netflix, isoladamente mira os 54%, e a Tesla estava praticamente no zero-a-zero, com +0,5% até o início da semana, mas começou a mostrar ganhos um pouco mais substanciais, de 5%.
Então, apenas a nível de desempenho, o bitcoin, sim, performou muito bem ao longo deste ano.
O que, de fato, aconteceu, é que boa parte do ano, o bitcoin lateralizou e não foi buscar os tão aguardados US$ 100 mil. Mas será que havia condições para este preço?
Expectativa vs. realidade
Para quem lembra, desde 2023, havia muitos argumentos favoráveis a uma alta expressiva do bitcoin. Desde lá se falava do halving, que aconteceria em abril de 2024. E também as prováveis aprovações dos ETFs à vista nos Estados Unidos.
Portanto, o halving seria o catalisador para reduzir a oferta – como acontece historicamente –, e seus efeitos seriam potencializados pelo aumento agressivo da demanda por parte dos investidores institucionais que, agora, passariam a apoiar suas compras nos ETFs.
Porém, esta não é uma promessa de curto prazo. Durante todo este tempo, a gente sempre bateu na tecla de que o mercado precisa ser “construído”! As pernadas de alta acontecem, mas nada é do dia para noite.
E quando olhamos para a realidade, houve argumentos igualmente poderosos e contrários ao bom desempenho do bitcoin.
No caso, vimos não só a intensificação e surgimento de novos conflitos geopolíticos, como também brigamos o ano inteiro contra a inflação norte-americana e o desejo de uma flexibilização da política monetária. Tudo para trazer mais crédito e confiança no risco ao investidor.
Como se isso já não fosse o bastante, a reta final do ano reservou um evento que não é possível antecipar, muito menos se esquivar dele: Eleições presidenciais norte-americanas.
Bitcoin nas eleições
Em um primeiro momento, pode até parecer estranho colocar o bitcoin, um ativo global e descentralizado, “correlacionado” com o processo eleitoral de um único país. Por isso, exige-se uma visão mais macro do cenário.
A começar, os Estados Unidos é sabidamente a maior economia do mundo, tendo o mercado financeiro mais aquecido do planeta. Ou seja, muito dinheiro flui dentro do país, seja para consumo, investimentos ou especulação.
Como o dólar é a base da grande maioria de transações financeiras transfronteiriças, fica evidente que o que acontece nos Estados Unidos tem potencial para impactar a moeda e, consequentemente, toda a economia global.
Neste contexto, estamos falando de sanções aplicadas a outros países, ajuda militar e até mesmo a política de juros adotada pelo seu banco central (Federal Reserve).
E muitas dessas decisões – ou pelo menos variáveis que as controlam – passam pela mão ( ou argumentos) do presidente.
Agora, Joe Biden está de saída, com Kamala Harris e Donald Trump disputando a cadeira já no próximo dia 5 de novembro. E o que isso pode trazer de novidades para o mercado de criptomoedas?
- Juros: Ainda não é certo o posicionamento de cada candidato. Mas fato é que o mercado está exigindo um juros mais baixos para facilitar o crédito e não só poderem fazer novos investimentos, trazer novidades para suas empresas e também aquecer o consumo. Para o bitcoin, este pode ser um bom catalisador de entrada de crédito e, consequentemente, aumento de demanda pelo ativo.
- Decisões: Também não é possível determinar ainda como ambos os candidatos podem atuar diante dos conflitos, tanto na Ucrânia, quanto em Israel. Muito menos sobre as relações comerciais. No passado, vimos Trump agressivo contra a China. Algo que foi mantido por Biden, mas em tom mais ameno. Será que a percepção de inimizade segue a mesma? Isso tudo gera caos e incerteza, coisa que os investidores de risco – com o bitcoin – não gostam em seu dia a dia.
- Incentivos: O mercado de criptomoedas ainda não é unanimidade no mundo, apesar de extremamente popular. No passado, Donald Trump havia criticado fortemente o bitcoin. Mas recentemente reverteu o tom e apoiou a criptomoeda em discursos eleitorais. Isso pode ser visto como um bom apoio ao desenvolvimento do setor no país. Do outro lado, Kamala Harris nunca havia tocado no assunto, mas começou a sinalizar apoio às moedas digitais, inclusive, podendo tirar o comando da SEC de Garry Gensler que, sabidamente, não é um grande entusiasta deste mercado.
E o bitcoin pós-eleições?
Para quem está no mercado de criptomoedas há alguns bons anos, já viu o bitcoin superar diversas crises geopolíticas, financeiras e até mesmo eleitorais e sanitárias – vide a pandemia da Covid-19.
Desta vez será diferente? A verdade é que impedir o avanço do bitcoin é algo muito difícil, mesmo para uma eleição presidencial nos Estados Unidos.
Até 2023, o apoio e incentivo dos governos para a negociação da criptomoeda eram muito pequenos. E o bitcoin seguiu renovando máxima histórica atrás de máxima histórica em seus ciclos.
Agora, com um mercado de ETFs regulamentado, talvez seja difícil imaginar que tudo iria por água abaixo.
Ao mesmo tempo, a política monetária dos Estados Unidos está relativamente definida. A tendência é o corte de juros e isso pode ser feito em 0,5% ou 0,25%. Mas uma hora ou outra, devemos ver uma flexibilização por lá.
A economia do país também não tem do que reclamar. Os índices apresentam bom desempenho e, na maioria das vezes, além do esperado pelo mercado. Não à toa, as principais bolsas do país registraram várias máximas históricas ao longo do ano.
Fato é que Trump e Kamala são muito parecidos. E a estrutura do país funciona de maneira muito autônoma em muitos casos. Uma mudança aqui, outra ali, mas, no fim do dia, a trajetória é igual.
Então, o que estamos vendo é mais um episódio em que o bitcoin tende a – de novo – superar o ambiente político. Mas seus próprios fundamentos vão guiar sua alta de preços, com o aumento da demanda institucional e varejista, e a redução na oferta ocasionada pelo halving.
Os US$ 100 mil vão vir mesmo? Não podemos cravar, mas a história nos dá bons argumentos para esta expectativa. E não vai ser Trump ou Kamala que vão impedir isso. No máximo, pode-se atrasar um ou dois meses, a depender do ganhador.
E é por isso que o bitcoin é tão grande, importante e precisa ser considerado como um alternativa viável, seja como investimento, proteção ou até mesmo modelo de negócios.
*João Canhada é fundador da Foxbit, empresa cripto no Brasil.
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