Real Digital inaugura nova fase do sistema financeiro brasileiro
Moedas digitais já são desenvolvidas por bancos centrais ao redor do mundo. E as criptomoedas pavimentaram o caminho para isso. Entenda
Redação Exame
Publicado em 15 de abril de 2023 às 10h00.
Por Brianna Kernan*
Bancos centrais ao redor do mundo têm se movimentado para reformar o sistema financeiro que conhecemos e prepará-lo para a era da internet. O surgimento e popularização das criptomoedas pavimentaram o caminho para uma nova fase da economia que também opera ativos digitais formalmente. Na esteira desse processo, as autoridades têm corrido para colocar nas ruas suas próprias moedas digitais (CBDCs, na sigla em inglês).
No Brasil, o Real Digital já está em fase de testes e deve ser lançado até o fim de 2024. O lançamento dessa CBDC marcará um momento muito importante para o ecossistema cripto da América Latina, já que o Brasil será o primeiro e maior mercado da região a ter uma moeda digital oficial.
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Assim como o bitcoin, as CBDCs não são impressas em cédulas, e são respaldadas por ativos reais, como a stablecoin USDC que é lastreada ao dólar americano. No entanto, as CBDCs são centralizadas e emitidas por uma autoridade reguladora – o que as diferencia das criptomoedas tradicionais.
A emissão desses ativos é uma tendência mundial: mais de 80 bancos centrais ao redor do mundo estão desenvolvendo suas moedas digitais. Assim como as criptomoedas, as CBDCs permitirão pagamentos instantâneos com menos intermediários, o que reduzirá o custo de transações financeiras.
Vantagens das CBDCs
As economias que operarem CBDCs disporão de vantagens como: redução do custo de administração do dinheiro físico, inclusão de pessoas não bancarizadas ao sistema financeiro e pagamentos transfronteiriços mais rápidos e baratos.
Além disso, por meio das CBDCs, as autoridades poderão apreender e remover de circulação fundos suspeitos. Isto é: a natureza centralizada dessa moeda pode facilitar a identificação e o bloqueio de transações ilícitas. Hoje em dia, ferramentas de análise de blockchain, como Chainalysis Reactor e Storyline, ajudam agências governamentais e instituições privadas a rastrear essas transações em blockchains públicos, como Ethereum ou Solana.
Os brasileiros incorporaram novas tecnologias que facilitam sua rotina muito rapidamente, e o Pix pode exemplificar isso muito bem: apenas dois anos após o lançamento da ferramenta de transferências instantâneas do Banco Central, o Pix se consolidou como meio de pagamento mais usado pelos brasileiros, superando TEDs, DOCs, boletos e cartões de crédito e débito.
É esperado que o Real Digital se popularize tão rápido quanto o Pix. Entretanto, é importante frisar que a CBDC brasileira terá foco em bancos e instituições de pagamento que, por sua vez, emitirão stablecoins pareadas ao real serão utilizadas pela população em geral.
Embora a maioria das CBDCs estejam em uma etapa de desenvolvimento que pode durar anos, já está claro o seu potencial de abrir portas para uma economia global, incluindo até mesmo o acesso de pessoas que não têm conta bancária. Também teremos avanços no combate à lavagem de dinheiro, ao comércio ilegal e a outras atividades ilícitas.
O robusto sistema financeiro brasileiro já tem servido como modelo para outros países. Em 2022, os governos da Colômbia e do Canadá demonstraram interesse em replicar o Pix em seus mercados. Para efeito de comparação, a ferramenta de pagamentos instantâneos dos Estados Unidos ainda está em fase de testes e deve ser lançada neste semestre, enquanto o Pix tem aproximadamente 478 milhões de chaves cadastradas, mais que o dobro da população brasileira de 212 milhões. Portanto, o lançamento do Real Digital tem potencial para projetar o Brasil para uma liderança ainda maior na região - consolidando, por conseguinte, o crescente ecossistema cripto brasileiro.
*Brianna Kernan é líder de Vendas da Chainalysis para a América Latina. A Chainalysis é uma empresa de blockchain que fornece dados, software, serviços e pesquisas para mais de 700 agências governamentais, instituições financeiras e securitizadoras, além de empresas de segurança cibernética em mais de 70 países.
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