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O novo fenômeno dos NFTs e da representatividade feminina no mundo cripto

Em um ecossistema dominado por homens, a popular coleção de NFTs é uma dose necessária de diversidade e energia

Gary Vaynerchuk, Pransky e Logan Paul estão entre os fãs (World of Women/Reprodução)

Gary Vaynerchuk, Pransky e Logan Paul estão entre os fãs (World of Women/Reprodução)

Coindesk

Coindesk

Publicado em 17 de setembro de 2021 às 14h41.

Última atualização em 17 de setembro de 2021 às 15h08.

É do conhecimento de todos que as mulheres não têm muita representatividade no mundo dos criptoativos. O que ajuda a explicar porque os novos tokens não fungíveis (NFTs) da coleção World of Women, ou “O Mundo das Mulheres” são uma verdadeira injeção de energia neste espaço. “A missão da minha arte é sempre exibir mulheres, colocá-las sob os holofotes, e trazer mais diversidade para esse espaço”, diz Yam Karkai, que lançou os NFTs com seu parceiro Raphael Malavieille.

A dupla lançou a coleção em 27 de julho, e os trabalhos artísticos se esgotaram na noite do mesmo dia. Entre os fãs deste trabalho, temos grandes nomes como o empresário Gary Vaynerchuk, o colecionador de NFTs Pransky e o youtuber Logan Paul, que ofereceu publicamente um NFT da coleção à Reese Witherspoon, alegando que se parecia com ela.

Karkai e Malavieille não eram adeptos do mundo dos criptoativos. Como num encontro perfeito, o casal da vida real se conheceu em Paris há cinco anos, onde Karkai estudava artes cênicas (seu histórico inclui teatro, roteirização e ilustração digital). Quando as coleções de NFTs explodiram, eles entenderam que essa seria uma forma mais ampla de distribuir a arte de Karkai. Eles formaram um time. Karkai desenhou e criou, Malavieille (que tem um histórico em gestão de projetos) focou nas operações.

Os resultados? Agora o preço mínimo de um NFT da World of Women é 1,5 ETH, ou aproximadamente 5.100 dólares, o que significa que o valor do projeto completo que conta com 10 mil NFTs é de pelo menos 51 milhões de dólares. Karkai e Malavieille compartilharam a estratégia de lançamento da coleção, os passos que seguiram para promover a inclusão, e como é se tornar um fenômeno dos criptoativos de repente.

(World of Women)

Então, como isso começou?

Yam Karkai: Bom, eu senti que não estava atingindo uma audiência suficiente com a minha arte para que eu pudesse passar a mensagem e a mudança que eu gostaria. Então por que não fazer um projeto colecionável de mulheres ao invés de macacos, pandas ou ursos? Porque as mulheres são lindas, importantes e relevantes.

Quais foram as reações que vocês observaram?

Karkai: As mulheres me diziam “eu sou uma mulher não-branca. Eu sou do Quênia ou da Índia. E é a primeira vez que existe um avatar que se parece comigo, e que eu sinto que poderia ser eu ou qualquer outra pessoa da minha família”.

Eu imagino que no lançamento foi muito importante ser inclusivo. Você poderia falar um pouco mais sobre isso?

Karkai: Então, criar a mulher-base que poderia ser de qualquer etnia, ou qualquer tipo de pessoa, foi extremamente importante para mim. Existiram muitos rascunhos, e muitas tentativas e erros. Mas eu finalmente desenvolvi a mulher que tinha um rosto redondo, então poderia ser magra ou gorda, nós nunca saberemos porque é um retrato de busto.

E eu também trabalhei para criar um formato de olhos que poderia ser asiático, europeu, ou africano, etc.

 

E sobre os tons de pele?

Karkai: Eu me inspirei na Fenty Beauty, a linha de maquiagem da Rihanna que abrange a variedade de tons de pele mais diversa que já existiu na história da maquiagem. E eu os nomeei de forma respeitosa, porque já vi alguns projetos nomeando seus tons de pele como preto, amarelo e branco, e pra mim isso é incrivelmente desrespeitoso.

Quais foram outras sensibilidades culturais que vocês consideraram?

Karkai: Primeiro de tudo, nenhuma referência religiosa. Tenho descendências no Oriente Médio, então eu realmente gostaria de usar meu colar de olho grego – o olho do mal. Mas eu disse para mim mesma: não, eu não vou fazer isso, porque se eu começar a inserir coisas da minha cultura, vou precisar incluir a de todos e será impossível agradar todo mundo. Então, nenhuma referência religiosa ou política, nem nada que poderia ser considerado desrespeitoso.

Raphael Malavieille: E também nos preocupamos com a apropriação cultural...

Karkai: Por exemplo, quando eu estava desenhando cabelos, Raph passou por mim e perguntou “Ei, por que você não faz um cabelo afro?” Mas eu não queria fazer isso porque afinal de contas esse é um projeto generativo (10 mil combinações únicas são geradas a partir dos “ativos-base” que Karkai desenhou), e se uma garota branca com olhos azuis acaba com um cabelo afro, vai parecer que ela está se apropriando culturalmente de mulheres afro-americanas. Por essa mesma razão, não fiz tranças, nem inclui o hijab muçulmano.

 

Suas contas nas redes sociais explodiram. Qual foi o segredo para um crescimento tão rápido?

Malavieille: Enquanto a Yam estava fazendo a arte, eu estava pesquisando o espaço. Busquei por todos os projetos que tinham mais qualidade, como o The Wicked Craniums, Bulls, The Block ou os Deadheads. Busquei por todos os que se esgotaram rapidamente e obtiveram grande popularidade em seu lançamento.

E então eu pensei, ok, essa é a metodologia, então é isso que eles fazem. E no geral o que funciona bem é realizar um sorteio. Então nós compramos itens de alguns desses outros projetos, compramos alguns ativos, e os utilizamos para sorteios que fizeram com que a comunidade pudesse ver também o nosso projeto.

Inteligente. Vocês são muitos novos nesse espaço. Quais foram as reações dos seus amigos?

Karkai: Quando contamos aos nossos amigos o que está acontecendo nesse espaço e o que estamos fazendo, metade deles diz “Uau, isso é incrível. Isso é loucura”. E a outra metade diz “Eu não entendi. Que porcaria é essa? Do que vocês estão falando? Como isso é possível? Posso fazer a mesma coisa? Eu posso, sei lá, ficar rico amanhã se eu vender algo?”

Como vocês se sentiram ao ver que a coleção atingiu tantas pessoas e foi acolhida dessa forma?

Karkai: No começo, fiquei nervosa. Mas quando eu vi que as pessoas estavam reagindo da forma que eu sempre sonhei, me senti muito, muito bem, e senti que estava fazendo a diferença. Todo dia, eu ainda recebo mensagens de pessoas me agradecendo pelo projeto e dizendo que acreditam muito nele.

E a comunidade que construímos está repleta de positividade, onde as pessoas acreditam honestamente que essa é a mudança que o espaço precisa. Então pra mim, isso é extremamente recompensador. É tudo o que eu sempre quis.

Malavieille: Sim. E essa é definitivamente a razão pela qual nós não podemos e não iremos sair de férias.

Texto traduzido e republicado com autorização da Coindesk

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